Foi destaque na mídia na semana passada: um grupo de
pesquisadores do Reino Unido afirmou que no futuro talvez seja possível criar
embriões com dois pais e sem mãe, supostamente derrubando um “dogma científico”
de quase dois séculos, segundo o qual só um óvulo em estado natural seria capaz
de ativar alterações na atividade dos genes de um espermatozoide para dar
origem a uma prole saudável. No experimento, realizado com camundongos, os
cientistas liderados por Tony Perry, do Departamento de Biologia e Bioquímica
da Universidade de Bath, no Sudoeste da Inglaterra, usaram tratamentos químicos
para “enganar” óvulos e fazer com que eles começassem a se desenvolver em embriões
sem ter sido fertilizados. Mas, com apenas metade do código genético necessário
para formar um organismo, esses embriões haploides, conhecidos como partenotos,
são inviáveis, morrendo em poucos dias. Antes disso, no entanto, os
pesquisadores injetaram neles espermatozoides, fornecendo a segunda metade dos
pares de cromossomos necessários para que continuassem a se desenvolver em um
ser diploide.
Parecia, finalmente, a solução para que “casais”
masculinos pudessem ter filhos. Só que não. As coisas permanecerão do jeito que
Deus idealizou. Nada como um dia depois do outro para a gente sentir vergonha
alheia de alguns coleguinhas da imprensa.
Segundo matéria publicada no site da revista Science,
tudo não passou de espetáculo. Os cientistas não descobriram como fazer “bebês
sem mãe”, nem chegaram perto de criar um embrião sem o uso de um óvulo. Diz a
matéria: “Um artigo publicado na Nature Communications provocou uma enxurrada
de manchetes sobre formas futuristas de contornar a fórmula básica ‘espermatozoide
+ óvulo = embrião’. Foram contadas histórias de pesquisadores que teriam usado
uma célula da pele, por exemplo, em vez de um óvulo, para fazer um bebê, o que,
segundo eles, poderia tornar possível para um casal gay ter um bebê por meio da
fusão do espermatozoide de um homem com a célula da pele do outro.”
Só que, segundo a Science, o que foi divulgado não tem
nada a ver com a ideia de criar um embrião sem o uso de um óvulo. Como a
maioria dos livros de biologia introdutória explica, o que faz com que
espermatozoide e óvulo sejam capazes de se fundir e dar origem a um novo
organismo é que cada um deles contém apenas metade dos cromossomos. O termo
técnico para isso é uma célula haploide. As células da pele são definitivamente
não haploides, e ninguém chegou perto de descobrir como torná-las assim.
Além disso, o óvulo contém poderosos fatores ainda
desconhecidos que lhe permitem dirigir os primeiros passos do desenvolvimento
embrionário. Resumindo, os óvulos ainda são insubstituíveis e revelam tremendo design
inteligente e complexidade irredutível. Os mecanismos complexos que promovem a
fecundação, como a afinidade bioquímica entre as duas células germinativas
totalmente diferentes, e a capacidade do óvulo de dirigir o desenvolvimento do
embrião deveriam estar presentes desde a primeira vez em que um óvulo foi
fecundado por um espermatozoide, do contrário, não estaríamos aqui falando
sobre isso.
A matéria da Science também dá as dicas de como tornar
uma pesquisa não conclusiva em um “fato” midiático. Anote aí:
1. Crie um título cheio de jargão: “Ratos produzidos por
reprogramação mitótica do esperma injetado em partenogênese haploide.” Ou algo
do gênero.
2. Divulgue sua pesquisa em linguagem mais acessível e
crie um título interessante: “Esperma de rato gera descendência viável sem
fertilização de um óvulo.”
3. Organize uma conferência para a imprensa com os
autores do paper.
4. Consiga uma citação elogiosa de um cientista bem
conhecido e respeitado. Tipo:
“[É] um tour de force técnico.”
E funciona. Veja a manchete no Telegraph: “Bebês sem mãe
são possíveis: como os cientistas criaram descendência viva, sem necessidade de
um óvulo feminino”; e no The Guardian: “Células da pele podem ser usadas em
lugar de óvulos para fazer embriões, dizem cientistas.”
Por enquanto, para continuar existindo, a espécie humana
continua dependendo da maravilhosa união entre as células germinativas de um
homem e uma mulher. E fica a grande lição: não confie em tudo o que lê e vê por
aí.
Michelson Borges
Via: Criacionismo