sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Livros que não podemos deixar de ler: A História dos Hebreus, de Flávio Josefo

        
          Um clássico da história universal. Depois da Bíblia, a maior fonte de informação sobre o povo Judeu. Obra magnífica, indispensável para aqueles que buscam conhecer a história do povo de Deus e o cuidado de Deus com Seu povo. Na grande obra História dos Hebreus, o autor Flávio Josefo apresenta detalhadamente os principais acontecimentos históricos judaicos e romanos.   

        "Para os grandes estudantes da Bíblia, encontrará em Flávio Josefo descrições minuciosas de personagens do Novo Testamento (Evangelhos e Atos), como: Herodes, Pilatos,  os Agripas, Tiago, irmão de Jesus e líder da Igreja em Jerusalém e, o próprio Jesus, e centenas de outros pormenores do mundo greco-romano. Com todos os recursos disponíveis nesta obra de Flávio Josefo, o livro História dos Hebreus torna, depois da bíblia, a maior fonte de informações sobre o povo Hebreu."

       "A autor Flavio Josefo foi um brilhante historiador judeu que viveu durante os anos 37 e 103 D.C. Sua mãe era descendente da casa real hasmoneana e o seu pai, foi sacerdote. Teve uma cultura de origem judaica com fluência no grego e no latim. Com enorme zelo religioso, foi filiado ao grupo dos fariseus. Durante toda sua vida, Roma teve o domínio de seu povo. Nos anos 60 D.C irrompeu a revolta dos judeus contra os romanos. Flávio Josefo foi o escolhido para organizar operações contra o inimigo na turbulenta Galiléia. Conquistou algumas vitórias, mas, foi derrotado pelo exercito de Tito. Ao final da guerra, foi enviado à capital do Império, onde conseguiu a cidadania romana, época em que lhe foi dado o nome de Flavio. Em Roma, obteve uma pensão do Estado e viveu até o fim de sua vida, escrevendo a obra: História dos Hebreus, que atravessaria os séculos e chegaria até nós."

Esta obra tem a seguinte apresentação dos escritos de Josefo:

1ª parte - Antiguidades Judaicas
2ª parte - Guerra dos Judeus Contra os Romanos
3ª parte - Resposta de Flávio Josefo a Ápio

       Vale a pena adquirir essa obra, como complemento do nosso entendimento sobre a história do Judeus, o contexto econômico e político do Impérios Romano e o grande zelo e cuidado de Deus pelo Seu povo.

Editora: CPAD

Paz do Senhor à todos.
Prof. Saulo Nogueira


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Água escondida debaixo da terra cobriria todo o planeta

      O volume total de água armazenada no subsolo do planeta é estimado em 23 milhões de km³. Seria o suficiente para cobrir toda a superfície da Terra com uma camada de 180 metros de profundidade.
     Essa foi a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores canadenses e publicado na revista científica Nature GeoscienceMas apenas 6% dessa água é própria para consumo humano. Isso porque a chamada água "moderna" presente no subsolo está próxima da superfície e pode ser extraída ou usada para complementar recursos localizados acima do solo, em rios e lagos.
"Esta é a água que é renovada mais rapidamente ─ na escala de vida humana", explicou Tom Gleeson, da Universidade de Victoria, no Canadá, responsável pelo estudo.
"Ao mesmo tempo, é a mais sensível a mudanças climáticas e contaminação humana. Trata-se, portanto, de um recurso vital que precisa ser melhor gerenciado."
       Para quantificar a água armazenada nos dois primeiros quilômetros da superfície da Terra, Gleeson e sua equipe combinaram extensas bases de dados e modelos computacionais. Foram analisados, entre outros fatores, a permeabilidade de rochas e do solo, sua porosidade e características dos lençóis freáticos. A chave para determinar a idade de toda a água armazenada foram medições feitas com trítio, uma forma radioativa de hidrogênio que surgiu na atmosfera há 50 anos como resultado de testes de bombas termonucleares. A partir desse elemento químico, os cientistas puderam identificar toda a chuva que chegou ao subsolo desde então.
       O mapa abaixo mostra a distribuição da água moderna presente no subsolo ao redor do mundo. As manchas em azul escuro mostram onde ela é renovada rapidamente. Em tom mais claro, a água mais antiga, que em sua maioria está estagnada e não pode ser renovada.
       "As características dessa água antiga variam muito", disse Gleeson à BBC News. "Em alguns lugares, é muito profunda. Em outros, não. Em muitos lugares, ela é de má qualidade e pode ser mais salina que a água do mar, além de ter metais e outros componentes químicos dissolvidos nela e que teriam de ser tratada antes de se tornar potável ou usada na agricultura."
      Isso torna ainda mais importante as reservas modernas e a necessidade de administrá-las de forma sustentável, alertam os cientistas. O estudo destaca ainda como elas estão distribuídas de forma desigual no planeta. O próximo passo, afirmou Gleeson, é determinar o ritmo com que algumas reservas estão sendo consumidas.
      "Essa visão global da água no subsolo irá conscientizar de que nossas reservas mais recentes no subsolo, aquelas que são mais sensíveis a mudanças ambientais e provocadas pelo homem, são finitas", disse Ying Fan, da Rutgers University, nos Estados Unidos.
O mapa acima mostra a distribuição da água moderna presente no subsolo ao
redor do mundo. As manchas em azul escuro mostram onde ela é renovada rapidamente.
Em tom mais claro, a água mais antiga, que em sua maioria está estagnada e não pode ser renovada.
Nota do Blog: No dia em que Noé completou seiscentos anos, um mês e dezessete dias, nesse mesmo dia todas as fontes das grandes profundezas jorraram, e as comportas do céu se abriram” (Gênesis 7:11)
Prof. Saulo Nogueira

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Embriologia e design inteligente (parte 2)

           
            Gastrulação

O chamado período embrionário em sentido restrito, que sucede imediatamente ao período do embrião pré-implantatório, se inicia na terceira semana após a concepção e se estende até o final da oitava semana. Ao término desse período, todos os órgãos e os tecidos do corpo humano já possuem uma estrutura rudimentar e o desenvolvimento do trofoblasto, com a troca de nutrientes e outras substâncias entre as circulações materna e embrionária, garante a formação total das várias estruturas de apoio, entre elas, a placenta e o âmnio. A placenta, com o seu desenvolvimento completo após quatro semanas a contar da concepção, serve de fígado, pulmões e rins para o embrião e para o feto.

O evento mais característico durante a terceira semana de gestação é a gastrulação, processo que estabelece os três folhetos germinativos (ectoderma, mesoderma e endoderma) no embrião. Esse é um dos processos mais fascinantes dentro do período gestacional, pois segundo Keith Moore, “é o processo formativo pelo qual as três camadas germinativas, que são precursoras de todos os tecidos embrionários, e a orientação axial são estabelecidas”. Dessa forma, será neste período que o disco embrionário bilaminar transformar-se-á em um disco embrionário trilaminar, ocorrendo inúmera mudanças morfológicas, rearranjo movimentos das células e mudanças nas propriedades adesivas, contribuindo para o processo de gastrulação. Neste período, o embrião também pode ser chamado de gástrula. 

A gastrulação começa pela formação da linha primitiva na superfície do epiblasto. Inicialmente a linha é mal definida, mas num embrião de 15 a 16 dias ela é bem visível como um sulco estreito, com regiões discretamente salientes de cada lado. A extremidade cefálica da linha, o nó primitivo, conhecido como nó de Hansen, consiste em uma área discretamente elevada circuncidando a fosseta primitiva. Logo em seguida, as células do epiblasto migram em direção à linha primitiva tomando a forma de um frasco, desprendendo-se do epiblasto e passam sobre o mesmo. Este movimento internamente dirigido é denominado invaginação. Uma vez invaginadas as células, algumas delas deslocam o hipoblasto (ou endoblasto), contribuindo para a sua diferenciação em endoderma, enquanto outras situam-se entre o epiblasto e o recém originado endoderma, formando o mesoderma. As células remanescentes no epiblasto formam então, por diferenciação, o ectoderma. Por meio da gastrulação, portanto, deduz-se que o epiblasto é responsável pela origem de todos os folhetos germinativos e que as células destes folhetos darão origem a todos os tecidos e órgão no embrião. Essas diferenciações das células dos folhetos germinativos darão origem as estruturas de acordo com o esboço a seguir:

Ectoderma:
- Epiderme e anexos cutâneos (pelos e glândulas mucosas);
- Todas as estruturas do sistema nervoso (encéfalo, nervos, gânglios nervosos e medula espinhal);
- Epitélio de revestimento das cavidades nasais, bucal e anal.

Mesoderma:
- Forma a camada interna da pele (derme).
 - Músculos lisos e esqueléticos;
- Sistema circulatório (coração, vasos sanguíneos, tecido linfático, tecido conjuntivo);
- Sistema esquelético (ossos e cartilagem);
- Sistema excretor e reprodutor (órgãos genitais, rins, uretra, bexiga e gônadas).

Endoderma:
- Epitélio de revestimento e glândulas do trato digestivo, com exceção da cavidade oral e anal;
- Sistema respiratório (pulmão);
- Fígado e pâncreas.



FORMAÇÃO DA NOTOCORDA

Ainda no começo da terceira semana, o nó primitivo produz células mesenquimais que formam o processo notocordal. Enquanto o hipoblasto (endoblasto) é substituído por células endodérmicas movendo-se para a linha primitiva, as células da placa notocordal proliferam e se destacam do endoderma. Elas formam então um sólido cordão de células, o notocórdio definitivo, subjacente ao tubo neural e que serve como base para o esqueleto axial. Como o alongamento do notocórdio é um processo dinâmico, a extremidade cefálica se forma primeiro e as regiões caudais são adicionadas quando a linha primitiva assume uma posição mais caudal. As células do notocórdio se estendem cefalicamente, a partir do nó- primitivo, como um bastão de células entre o ectoderma e o endoderma. A fosseta primitiva penetra no processo notocordal para formar o canal notocordal. Quando totalmente formado, o processo notocordal vai do nó primitivo à placa procordal. Surgem aberturas no soalho do canal notocordal que logo coalescem, deixando uma placa notocordal. A placa notocordal dobra-se para formar a notocorda:

-  A notocorda define o eixo primitivo do embrião dando-lhe uma certa rigidez;
- Fornece os sinais necessários para o desenvolvimento do embrião axial (ossos da cabeça e da coluna vertebral) e do sistema nervoso central;
- Contribui na formação dos discos intervertebrais.




FORMAÇÃO DO TUBO NEURAL

A placa neural aparece como um espessamento na linha média do ectoderma embrionário, em posição cefálica ao nó primitivo. Nessa fase começa a formação do primórdio do sistema nervoso central. O desenvolvimento da placa neural e o seu dobramento para formar o tubo neural é chamado neurulação. A placa neural é induzida a formar-se pelo desenvolvimento da notocorda e do mesênquima que lhe é adjacente. Um sulco neural, longitudinal forma-se na placa neural; o sulco neural é flanqueado pelas pregas neurais, que se juntam e se fundem para originarem o tubo neural. Estes processos, que se iniciam na terceira semana após a concepção, estão concluídos pelo fim da quarta semana, quando se fecham as aberturas nas extremidades cefálica e caudal do tubo neural, denominadas neuroporos rostral e caudal. Interessa ressaltar que, devido às pregas neurais, o disco embrionário trilaminar assume ao longo da quarta semana após a concepção uma forma ligeiramente curvada no plano mediano. Nessa etapa do desenvolvimento embrionário, o coração, que produz uma grande proeminência ventral, bombeia um filete de sangue recém-formado através de vasos ínfimos. 

     O dobramento do embrião também se dá no plano horizontal e produz as pregas laterais direita e esquerda. No entanto, a velocidade de crescimento lateral do embrião não acompanha a do crescimento do eixo longitudinal. Daí porque, ao final da quarta semana após a concepção, a cauda atenuada do embrião é-lhe um traço característico, sendo reconhecíveis, antes ainda, os brotos dos membros superiores, por primeiro, e dos membros inferiores, na sequência. Ainda durante o dobramento nos planos mediano e horizontal, convertendo o disco embrionário trilaminar em um cilindro em forma de "c", ocorre um evento importante: parte do saco vitelino é incorporada pelo embrião e origina o intestino primitivo, do qual derivam o epitélio da traqueia, dos brônquios, dos pulmões e do trato digestivo. É importante pontuar que o saco vitelino, desempenha um papel essencial na transferência de nutrientes para o embrião durante a quarta e a quinta semanas após a concepção, período em que a circulação uteroplacentária ainda está se formando.

      Cabe uma pergunta aqui: como esses processos seriam realizados perfeitamente, visto que, segundo a concepção evolucionista se deram por um processo cego e ao acaso? Será que todas essas estruturas evoluíram simultaneamente, para conferir nutrição adequada ao embrião, possibilitando seu desenvolvimento? Ou será que essas estruturas já foram criadas com esse propósito, por um design, que desde o início “programou” nosso DNA para que, através dessa “programação” todas essas estruturas trabalhassem perfeitamente? De onde veio essa informação. Existe uma lei da informação que diz que nenhum processo natural pode produzir informação inteligente e que informação inteligente somente pode ser produzida por um intelecto.  Mediante as evidências e a extrema complexidade desses eventos, cremos num design inteligente, autor da vida e não em processos cegos e aleatórios que visam produzir o caos e não a ordem.

FORMAÇÃO DOS SOMITOS

O mesoderma de cada lado da notocorda se espessa para formar as colunas longitudinais do mesoderma paraxial. A divisão dessas colunas mesodérmicas paraxiais em pares de somitos começa cefalicamente, no final da terceira semana. Os somitos são agregados compactos de células mesenquimais, de onde migram células que darão origem às vértebras, costelas e musculatura axial.

FORMAÇÃO DO CELOMA

O celoma intra-embrionário surge como espaços isolados no mesoderma lateral e no mesoderma cardiogênico. Estes espaços celômicos coalescem em seguida para formarem uma cavidade única em forma de ferradura, que, no final, dará origem às cavidades corporais (e.g.,a cavidade peritoneal). Nesse primeiro mês de vida o embrião sofrerá várias transformações maravilhosas, a maior mudança no desenvolvimento de uma vida. As centenas de células se transformam em milhares e, juntos, tornam-se 10 mil vezes maior que o aglomerado de células inicial. A maravilha de tudo isso é que essas inúmeras células se organizam em um corpo humano, com o início de todos os seus componentes perfeitamente especializados, todos em seus lugares certos e alguns já praticam suas funções.

Durante a quinta semana após a concepção, o aumento da cabeça excede o de outras regiões do corpo do embrião, causado principalmente pelo desenvolvimento do encéfalo, e os membros superiores começam a exibir alguma diferenciação local. Ao longo da sexta semana, os membros superiores do embrião mostram uma rápida diferenciação em relação aos membros inferiores. Nessa etapa, a cabeça do embrião é muito maior em relação ao seu tronco e se apresenta mais curvada sobre a saliência cardíaca. Na penúltima semana do período embrionário, todos os órgãos e todos os tecidos de um ser humano adulto já estão esboçados em miniatura e em franco funcionamento, destacando-se, no processo morfogenético, os membros superiores e os membros inferiores, que passam, então, por significativa transformação, como a formação dos dedos. Se na sexta semana após a concepção o embrião já mede 8 milímetros de comprimento, na sétima semana o seu comprimento é quase duplicado: 15 milímetros. A partir daí o que se presencia no embrião é um aumento de tamanho e de peso, uma mudança nas proporções e o aprimoramento da estrutura e das funções.

 Muitos órgãos e sistemas orgânicos importantes são formados durante o período que vai da terceira à oitava semana. Este período é crítico para o desenvolvimento normal, designado como período da organogênese. É nesse período que são induzidos muitos defeitos estruturais, influenciados na maioria das vezes por fatores externos, como fumo, álcool e medicamentos. Uma mãe que leva uma vida desregrada  pode causar danos irreversíveis ao seu bebê!

 É oportuno ressaltar que, se no início da última semana do período embrionário ainda permanece visível no embrião a cauda grossa e curta que se formara na quarta semana após a concepção, ao seu final ela desaparece por completo, formando o cóccix. Os evolucionistas se referem ao cóccix como um suposto traço vestigial de nossa descendência dos ancestrais que tinham cauda, porém pesquisas mais recentes refutaram essa argumentação como pode ser lido nessa postagem

No terceiro artigo, entraremos no período fetal e falaremos um pouco sobre os processos envolvidos nessa fase. 

A primeira fase pode ser vista aqui.

Prof. Saulo Nogueira.

Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM.

                              
Referências:

Sadler, TW. Langman Fundamentos de embriologia médica. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.

MOORE, Keith L. Embriologia básica. Tradução de Fernando Simão Vugman. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1991.

Geraldine Lux Flanagan, A Vida Começa. Nova York: DK, 1996.

SILVA, Reinaldo Pereira. Reflexões éticas sobre o estatuto da Vida: Uma abordagem político-jurídica da concepção humana (Tese apresentada ao curso de pós-graduação em direito para a obtenção do título de Doutor em Direito)

Departamento de Histologia e Embriologia da Universidade Federal de Pernambuco.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Se Jesus é Deus, por que Ele diz que o Pai é maior que Ele?


     Conforme prometido nesse artigo, onde eu disse que em postagens posteriores eu faria uma refutação aos argumentos dos muçulmanos, que negam a divindade de Cristo. Não somente adeptos do Islã, mas também Testemunhas de Jeová, Espiritas ou os modernos adeptos do Arianismo, se utilizam de alguns versículos bíblicos para tentarem argumentar que Jesus não se considerava igual com o Pai. Um desses versículos, que analisaremos agora, se encontra em João 14.28, onde Jesus diz o seguinte:
 "Se vocês me amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu". 
      A Trindade é definida no Breve Catecismo de Westminster (n.° 6) como segue: "Há três pessoas na Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; esses três são o único Deus, e cada um o mesmo em substância, igual em poder e glória". Como, pois, então pode o Filho afirmar que o Pai é maior (meizon) do que ele?

     A resposta à essa afirmação se encontra no próprio contexto. Jesus está falando aqui, não de sua natureza divina, mas da humana, como Filho do homem. Cristo veio para sofrer e morrer, não como Deus, que não pode padecer, mas como o segundo Adão, nascido de Maria. Só como ser humano poderia Jesus servir como o Messias, ou Cristo (o Ungido). A menos que tivesse uma natureza humana verdadeira, genuína, jamais poderia ter representado os descendentes de Adão e levar sobre si os nossos pecados na cruz. Por isso, como Filho do homem, é certo que ele era inferior a Deus, o Pai. Isaías 52.13-53 esclarece a questão: Jesus só poderia ser nosso Salvador ao tornar-se o Servo de Iavé que, por definição, jamais pode ser tão grande como seu senhor. Mas o que envolve sua transformação num servo? Um estado de sujeição a qual a pessoa é levada a prestar obediência. Daí decorre que Jesus só entraria na presença do Pai, que é maior em dignidade e posição do que o Filho do homem, como o Redentor que venceu a morte. Filipenses 2.5-11 nos esclarece esse espírito voluntário de Cristo:

"Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz."
    Todavia, como Deus, o Filho, à parte a encarnação, as Escrituras nunca sugerem a existência de algum contraste em glória, entre o Pai e o Filho. As seguintes passagens deixam esse ponto claríssimo:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus." (João 1.1);
 "Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? (Jo. 14.9) 
"Pois a qual dos anjos Deus alguma vez disse: "Tu és meu Filho; eu hoje te gerei"? E outra vez: "Eu serei seu Pai, e ele será meu Filho"? E ainda, quando Deus introduz o Primogênito no mundo, diz: "Todos os anjos de Deus o adorem". Quanto aos anjos, ele diz: "Ele faz dos seus anjos ventos, e dos seus servos, clarões reluzentes". Mas a respeito do Filho, diz: "O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu Reino. (Hebreus 1:5-8) 
"(...) de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente. Amém. (Rm. 9.5)
"Esforço-me para que eles sejam fortalecidos em seus corações, estejam unidos em amor e alcancem toda a riqueza do pleno entendimento, a fim de conhecerem plenamente o mistério de Deus, a saber, Cristo." (Colossenses 2.2);
"(...) enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. (Tito 2.13); 
"Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna." (1 João 5.20)
(cf. também Isaías 9.6 (afirma que Emanuel, nascido da virgem também é Deus forte — ’el gibbôr).[2] (ver também: Jo 8.58; 10.30; 17.5) 
       Não nos resta dúvida que essa aparente inferioridade de Jesus em relação ao Pai fica claramente explicada quando entendemos a necessidade de Sua encarnação como homem para morrer pelos nossos pecados.

Paz do  Senhor à todos 

Prof. Saulo Nogueira

Referência Bibliográficas:

ARCHER, Gleason L. Enciclopédia de Temas Bíblicos. 2ª edição - São Paulo : Editora Vida, 2001

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Embriologia e o design inteligente (parte 1)

(Espermatozoide fecundando o óvulo. Ilustração: koya979 / Shutterstock.com)
A notícia chegou de uma forma meio inusitada. Minha esposa e eu, após cinco anos, decidimos que já estava na hora de termos outro bebê. Agora que a nossa filha mais velha já tem mais autonomia e liberdade para fazer certos tipos de coisas, resolvemos dá à ela um irmãozinho(a). Minha esposa parou de tomar o anticoncepcional e, mais ou menos 40 dias depois fomos à médica para que ela passasse os exames necessários para sabermos se estava tudo bem. Mas para nossa surpresa, minha esposa já estava grávida de seis semanas. Pelas contas, ela teria engravidado já na primeira semana após a última menstruação. Já no primeiro ultrassom, foi possível ver o “saco vitelino” e aquele pequeno ser nas suas primeiras fases de desenvolvimento embrionário. Aproveitando a oportunidade, tive a ideia de fazer algumas postagens analisando a complexidade de cada fase de gestação, a interação mamãe-bebê e os processos de desenvolvimento semanalmente, demonstrando e extrema complexidade da gestação e a impossibilidade de uma explicação naturalista.

Fecundação

Após o ato sexual, milhões de espermatozoides “nadam” em direção ao útero. Essas células reprodutoras são produzidas nos testículos, que são verdadeiros mestres da produção em massa, cuspindo espermatozoides a uma taxa de 200 milhões por dia, numa prefeita linha de montagem. [1] Assim que o espermatozoide entra em contato com o corpo da mulher, começa toda a “magia”. A vagina é revestida por epitélio estratificado pavimentoso, cujas células produzem glicogênio usado para fermentação pelos Lactobacillus acidophilus (bacilos de Döderlein), liberando ácido lático. Isso confere ao meio vaginal um pH ácido, que impede a proliferação da maioria dos micro-organismos patogênicos. Acontece que o pH do sêmen está entre 7,0 e 8,3 e ao entrar em contato com a vagina, ocorreria a morte instantânea dos gametas. Com o pH alcalino do sêmen, o pH da vagina passa, em 10 segundos, de 3,5 para 7,2, permitindo a sobrevivência dos espermatozoides [2]. Essa mudança é indispensável para que os espermatozoides não morram ao entrar em contato com a mucosa vaginal. Isso ocorre, porque os espermatozoides são depositados durante a ejaculação no meio vaginal, protegidos pelo líquido seminal e não isolados. O líquido seminal, inicialmente “coagulado” é lentamente diluído pela acidez vaginal e seus componentes alcalinos funcionam como um tampão. Ao líquido seminal se associa a ação alcalinizante (básica, oposto de ácido) das secreções vaginais que surgem durante a excitação sexual, bloqueando a acidez vaginal em segundos e mantendo o pH adequado à sobrevida espermática por entre 6 e 16 horas [3]. O interessante é que se não ocorresse essa mudança de pH a nova vida já seria eliminada logo no início.

Dos cerca de 300 milhões de espermatozoides eliminados na ejaculação, apenas cerca de 300 atingem a tuba uterina, e somente um fecunda o Ovócito.  A ovulação ocorre através da pressão exercida pelo folículo maduro na superfície do ovário fazendo com que se inicie uma isquemia o que contribui para o enfraquecimento dos tecidos, facilitando a saída do ovócito. Esse ovócito, se desprende do ovário e segue em direção ao útero, impulsionado pelas contrações da tuba uterina e pelos movimentos ciliares do seu epitélio. A presença do ovócito é fundamental na aquisição, antes da fertilização, de propriedades funcionais por parte do espermatozoide, e também imprescindível para a ativação do metabolismo celular do ovócito, o qual será encarregado de conduzir o desenvolvimento durante os primeiros momentos após a fecundação. Como resultado da fecundação, dois padrões serão definidos em princípio: o complemento cromossômico diploide (2n) e o sexo cromossômico (XX, fêmea, e XY, macho). Os espermatozoides só conseguem encontrar o ovócito porque são atraídos por uma substância liberada pelas células foliculares. [4]

Quando o espermatozoide encontra com o ovócito, ele se depara com uma grande “barreira” que impede que ele penetre no óvulo: a corona radiata, um grupo de células foliculares que envolvem o ovócito. Acredita-se que a enzima hialuronidase, liberada do acrossoma do espermatozoide, é responsável pela dispersão das células foliculares da corona radiata. Mas não é só isso que facilita a passagem:  os movimentos da cauda do espermatozoide junto às enzimas da mucosa tubária também contribuem bastante. Além de estruturas semelhantes a “arpões”, pequenos filamentos que existem para ajudar o espermatozoide a se fixar na parede do óvulo e fecundá-lo. [5] Algumas das glicoproteínas presentes nesta zona são receptores específicos da espécie no momento da fertilização. Ou seja, somente espermatozoide humano consegue fecundar óvulo humano.

Após passar pela corona radiata e ao atingir a zona pelúcida, o espermatozoide sofre alterações formando a membrana de fecundação, que impede a penetração de outros espermatozoides no ovócito [6]. Ou seja, somente um consegue atingir seu objetivo. Isso ocorre devido à uma reação química que causa um bloqueio à polispermia.




O óvulo humano normalmente é fertilizado na ampola da tuba uterina e sua segmentação ocorre à medida que ele se desloca passivamente na direção do útero. Após a entrada do espermatozoide, o ovócito secundário termina sua divisão meiótica, formando um óvulo maduro. Começa então uma complexa sequência de eventos moleculares coordenados que se inicia com o contato entre um espermatozoide e um ovócito e termina com a mistura dos cromossomos maternos e paternos, resultando no zigoto, um embrião unicelular. 

      Todo esse processo dura cerca de 24 horas. Já nesse início de formação, as interações devem ser perfeitas, pois quaisquer alterações ocorridas em qualquer estágio dessa sequência, podem causar a morte do zigoto. Esse zigoto, (com 46 cromossomos) é formado da união das duas células. Seus núcleos perdem as membranas e se fundem, dando origem ao início da vida humana. Após a formação do zigoto, começa o processo de sucessivas divisões mitóticas, que resultam em um rápido aumento de células. O zigoto primeiramente se divide em duas células, chamadas de blastômeros, e estes se dividem em quatro blastômeros, estes quatro se dividem em oito e assim sucessivamente. Estas divisões ocorrem enquanto o zigoto atravessa a tuba uterina, em direção ao útero, e geralmente iniciam 30 horas após a fertilização. As repetidas divisões formam uma esfera compacta de células, denominada mórula.

Aproximadamente quatro dias após a fertilização, a mórula penetra no útero e, nesse estágio, surgem espaços entre os blastômeros que são preenchidos por líquidos provenientes da cavidade uterina. Com o aumento de líquido, as células são divididas em duas camadas, uma camada interna (ou embrioblasto) e uma camada externa (ou trofoblasto). Logo os espaços se fundem, e dão origem a uma só cavidade, denominada cavidade blastocística. A partir deste momento, o concepto passa a ser chamado de blastocisto.

O blastocisto permanece livre na cavidade uterina por apenas um ou dois dias, após os quais ele se implantará na parede do útero por ser envolvido pela secreção das glândulas endometriais. Na fase de blastocisto, a zona pelúcida se desfaz, permitindo que as células do trofoblasto, que têm o poder de invadir as mucosas, entrem em contato direto com o endométrio, ao qual se aderem. Ele emite substâncias químicas que debilitam o sistema imunológico da mulher dentro do útero para que este pequeno corpo estranho não seja rejeitado pelo corpo da mãe. Na realidade, é a existência de uma intensa comunicação materno-embrionária que, ao conduzir ao aumento da produção de progesterona na mãe para garantir a manutenção da gestação, também impede a rejeição do blastocisto no exato momento da nidação. Após a nidação, começa a multiplicação intensa das células do trofoblasto que vão assegurar a nutrição do embrião à custa do endométrio. 

As células do trofoblasto produzem enzimas que digerem localmente o endométrio, onde ele se fixa promovendo a implantação ou nidação do embrião no interior da mucosa uterina. A implantação inicia-se por volta do sexto dia e, aproximadamente no nono dia após a fertilização, o embrião se encontra totalmente mergulhado no endométrio, do qual receberá proteção e nutrição até o fim da gravidez [7].

Por volta do décimo dia, estágio em que o embrião já está totalmente implantado no endométrio surge uma grande cavidade envolvendo o âmnio e o saco vitelino primitivo, denominada celoma extraembrionário. O saco vitelino primitivo diminui de tamanho, e surge o saco vitelino secundário, que desempenha importante papel na transferência seletiva do líquido nutritivo para o disco embrionário. Por volta do 14° dia, o embrião ainda apresenta a forma de um disco bi laminar, e células hipoblásticas, formam uma área espessa circular, denominada placa pré-cordal, que indica o futuro local da boca, a região cranial do embrião. Enquanto todo esse processo está ocorrendo dentro do corpo da mãe, provavelmente ela ainda nem saiba que dentro do seu útero já está sendo formado um novo ser.

Esses são os primeiros dias gestacionais, marcado por reações químicas e interações que necessitam de uma interdependência mútua e perfeita. A complexidade irredutível de cada uma dessas fases, faz nos pensar como seria possível que todos esses processos fossem resultado de uma evolução cega e ao acaso. Até que esses mecanismos bioquímicos evoluíssem, como os seres humanos sobreviveram? Para que a evolução fosse crível, todas essas interações teriam que ter evoluído simultaneamente, de forma que a transição ainda fosse funcional. Por isso que eu não tenho fé para ser evolucionista, pois diante de nós está uma das mais marcantes provas de um designer inteligente.

 Na próxima postagem, daremos continuidade a essa maravilhosa viagem pelos processos gestacionais e a demonstração da perfeição e da complexidade de todo o processo, onde falaremos um pouco sobre a gastrulação e o início da morfogênese.

Prof. Saulo Nogueira

Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM. 


Esse vídeo resume muito bem essa primeira fase:




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A fraude dos embriões de Haeckel

     Ernst Haeckel, um zoólogo alemão e forte defensor do darwinismo, propôs novas noções de descendência evolutiva dos seres humanos para a sua época.[1]Haeckel usou seus desenhos falsificados para apoiar não só a teoria da evolução, mas também sua própria “teoria da recapitulação”, segundo a qual os embriões passam pelos estágios adultos de seus ancestrais no processo de desenvolvimento. Nas palavras de Haeckel, a “ontogenia [desenvolvimento] recapitula a filogenia [evolução]”. Em outras palavras, isso significa que os estágios adultos de antepassados ​​seriam repetidos durante o desenvolvimento dos descendentes. A versão de Haeckel, com uma visão verdadeiramente evolucionista, foi inspirada em A Origem das Espécies (1859), de Charles Darwin, traduzido para o alemão em 1860.[2]
Haeckel postulou a teoria da recapitulação, a qual se tornou conhecida como a “lei biogenética”. O curioso em relação a essa lei reside no fato de que 38 anos antes da publicação de Haeckel, o anti-evolucionista e embriologista Karl Ernst von Baer publicou sua obra (1828), que foi ignorada por Haeckel.[3] Sua quarta lei dizia: “Os primeiros estágios no desenvolvimento de um animal não são como os estágios adultos de outros animais inferiores na escala, mas são como as primeiras fases daqueles animais.”[4: p.40, 52] Assim, vemos que a pressão exercida pela teoria evolutiva sobre a teoria de Haeckel fez com ela prevalecesse sobre a de von Baer.

     Darwin, é claro, também acreditava na recapitulação. Ele escreveu em A Origem das Espécies que a evidência embrionária parecia mostrar que “os embriões das mais distintas espécies pertencentes à mesma classe são mais aproximadamente similares, mas se tornam, quando plenamente desenvolvidos, amplamente dissimilares”, um padrão que “revela a comunidade da descendência”.[5: p. 386-96; 6: p. 79] Ele pensou que os embriões em seu estágio inicial “nos mostram, mais ou menos completamente, a condição do progenitor de todo o grupo no seu estado adulto”.[7: p. 395] Dito de outra forma, Darwin acreditava que a semelhança de embriões de vertebrados nos seus estágios iniciais revelava sua suposta ancestralidade comum.

     Devido ao fato de não ser embriologista, Darwin se apoiou no trabalho de alguns biólogos. Ele citou, por exemplo, von Baer acerca da suposta ideia de que os embriões são mais parecidos em suas primeiras fases: “Os embriões de mamíferos, de aves, lagartos e cobras, provavelmente também de chelonia [tartarugas], estão em seus estados primários extremamente semelhantes entre si, ambos como um todo e no modo de desenvolvimento de suas partes; tanto, de fato, que muitas vezes podemos distinguir os embriões apenas pelo seu tamanho.”[8: p. 387-8] Entretanto, essa citação está totalmente fora de seu contexto original, visto que von Baer minimizava em seus textos a similaridade desses animais durante a ontogenia. Nesse sentido, é possível perceber que a recapitulação defendida por Darwin e Haeckel foi uma tentativa de aplicar a semelhança embrionária (homologia) em apoio da descendência comum. Apesar da falta de consistência da lei biogenética, e das muitas críticas fundamentadas de muitos renomados embriologistas contra essa suposta teoria, ela se popularizou, pois era muito atraente para os evolucionistas.

     Em seu livro Natürliche Schöpfungs-geschichte (A História Natural da Criação), publicado em alemão em 1868[9] e em inglês em 1876,[10] Haeckel usou uma série de desenhos que sustentavam sua teoria. Dentre esses desenhos estava um do 25º dia de um embrião de cachorro que tinha sido anteriormente publicado por T. L. W. Bischoff, em 1845, e um desenho da 4ª semana de um embrião humano, publicado em 1851-59 por A. Ecker.[11] Se não bastasse, Haeckel havia somado 3,5 mm ao desenho da cabeça do embrião de cachorro, desenhado por Bishoff, e subtraído 2 mm do desenho da cabeça do embrião humano desenhado por Ecker, dobrou a duração do posterior humano e alterou substancialmente os detalhes do olho humano.


     Em 1874, os desenhos de embriões de Haeckel foram provados falsos pelo famoso embriologista comparativo e professor de anatomia na Universidade de Leipzig, Wilhelm His.[11] Ele havia visto que os desenhos de Haeckel omitiam completamente os estágios iniciais, que são muito diferentes, e começava em um ponto, na metade do caminho do desenvolvimento, em que são mais similares. Em 1910, por sua vez, o jornal New York Times publicou uma reportagem que expôs a fraude de Haeckel e a popularizou.[12] Daí em diante, diversos cientistas criticaram tanto a teoria quanto os desenhos de Haeckel. Em 1976, o embriologista William Ballard escreveu que é “somente com o uso de truques semânticos e seleção subjetiva da evidência”, ao “dobrar os fatos da natureza”, que alguém pode argumentar que os estágios iniciais dos vertebrados são mais semelhantes que seus adultos.[13] Embora os desenhos de Haeckel tivessem sido denunciados como fraude pelos seus contemporâneos, e ele próprio tivesse confessado que uma pequena porcentagem de seus desenhos eram falsificações e, diante disso, condenado por um tribunal universitário (Universidade de Jena),[14] os livros didáticos de Biologia os usaram, ou as suas versões redesenhadas, ao longo do século 20, para convencer os estudantes de que os humanos partilham um ancestral comum com os peixes.
                                                                                                 
     Então, em 1997, uma publicação científica de autoria do embriologista Michael Richardson e colaboradores trouxe novamente à tona o trabalho meticuloso e fraudulento de Haeckel ao comprovar cientificamente a falsificação por meio da comparação de fotos reais dos embriões vertebrados com os desenhos de Haeckel.[15]  Em uma entrevista publicada na revista Science, o autor descreveu esse episódio como “uma das mais famosas fraudes em Biologia”.[16] Em 2000, o paleontólogo evolucionista de Harvard, Stephen Jay Gould, chamou os desenhos de Haeckel de “fraudulentos” e escreveu que os biólogos deveriam “ficar atônitos e envergonhados pelo século de reciclagem estúpida que resultou na persistência desses desenhos num grande número, se não na maioria dos livros didáticos modernos”.[17: p. 45] Apesar de toda essa exposição negativa, também no século 21 essa fraude continuou sendo compartilhada em seus livros didáticos.[18-20] Até recentemente, de igual modo, o Science Museum, em sua página virtual, resistia em retirar os desenhos de Haeckel.[21] A seguinte frase acompanhava os diagramas: “Parece que um eficiente processo de elaborar o plano corporal surgiu há milhões de anos, e permaneceu virtualmente inalterado através da evolução animal.”

     Então, em 2006, devido à pressão da Truth in Science (organização inglesa que apoia o design inteligente), enfim, o museu alterou o texto (retirou o termo “virtualmente”), e substituiu os desenhos de Haeckel por uma fotografia daquilo que parece ser um embrião. No entanto, na opinião da Truth in Science, eles deveriam sustentar o novo texto com fotografias atuais de embriões, de humanos e de ratos, na mesma fase de desenvolvimento, permitindo aos visitantes avaliar por eles mesmos as semelhanças e diferenças.[22]

     Atualmente, já se sabe que embriões de diferentes grupos de vertebrados não possuem semelhanças em suas fases iniciais de desenvolvimento.[23] Ok, isso está esclarecido! Mas como disse o biólogo evolutivo Walter Bock: “A lei biogenética tornou-se tão profundamente enraizada no pensamento biológico que não pode ser eliminada, apesar de ter sido demonstrado estar errada por numerosos estudiosos subsequentes.”[24] De fato, essa afirmação é suportada por evidências recentes. Uma versão moderna da recapitulação escrita por Jerry Coyne, por exemplo, alega que embriões “se parecem com as formas embrionárias de seus ancestrais”.[6: p. 78] Porém, uma vez que os embriões fósseis são extremamente raros,[25] essa alegação é mais uma especulação acerca da suposta ancestralidade comum baseada na suposição de veracidade da teoria de Darwin. É lamentável, mas o conto continua vivo!

(Everton Fernando Alves é enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM; seu e-book pode ser lido aqui)

Referências:[1] Robinson G. Ernst Haeckel. [Jul. 2014]. Encyclopaedia Britannica. Disponível em:http://global.britannica.com/EBchecked/topic/251305/Ernst-Haeckel

[2] Desmond A, Moore J. Darwin: The Life of a Tormented Evolutionist. United Kingdom: W. W. Norton & Company, 1991.

[3] Kischer CW. “The Final Corruption of Human Embryology.” [Fev. 2007] Lifeissues.net, 2007. Disponível em: http://www.lifeissues.net/writers/kisc/kisc_28corruption.html

[4] De Beer, Sir Gavin. Embryos and Ancestors. 3 ed., Londres: Oxford University Press, 1962.

[5] Darwin CR. The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life. 6th edition. London: John Murray, 1872; with additions and corrections. Disponível em: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=side&itemID=F391&pageseq=415

[6] Coyne JA. Why Evolution Is True. New York: Viking Adult, 2009.

[7] Capítulo XIV: “Mutual Affinities of Organic Beings: Morphology - Embryology - Rudimentary Organs, Development and Embriology”, p. 395. In: Darwin CR. The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life. 6th edition. London: John Murray, 1872; with additions and corrections. Disponível em: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?pageseq=423&itemID=F391&viewtype=side

[8] Capítulo XIV: “Mutual Affinities of Organic Beings: Morphology - Embryology - Rudimentary Organs, Development and Embriology”, p. 387, 388. In: Darwin CR. The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life. 6th edition. London: John Murray, 1872; with additions and corrections. Disponível em: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=side&itemID=F391&pageseq=415

[9] Haeckel E. Natürliche Schöpfungs-geschichte. Berlin:George Reimer, 1868; os desenhos podem ser vistos na página 240. Disponível em: https://archive.org/stream/natrlichesch1868haec#page/260/mode/2up

[10] Haeckel E. The History of Creation, or, the development of the earth and its inhabitants by the action of natural causes. New York: D. Appleton and Co, 1876, two volumes. Disponível em: http://catalog.hathitrust.org/Record/009549162

[11] Grigg R. “Ernst Haeckel: Evangelist for evolution and apostle of deceit.” Journal of Creation 1996; 18(2):33-36.

[12] “Accused of Fraud, Haeckel Leaves the Church.” [Nov. 1910]. The New York Times, 1910, Part V, p. 11. Disponível em: http://query.nytimes.com/mem/archive-free/pdf?_r=1&res=9A0DE6DF153BE733A25754C2A9679D946196D6CF&oref=slogin

[13] Wells J. “Survival of the Fakest.” American Spectator 2000; 33(10):18-26. Disponível em: http://www.unz.org/Pub/AmSpectator-2000dec-00018?View=PDF

[14] Ferrel V. “The Evolution Cruncher.” Altamont, TN: Evolution Facts, Inc., 2001.

[15] Richardson MK.  Hanken J, Gooneratne ML, Pieau C, Raynaud A,  Selwood L,  Wright et GM. “There is no highly conserved embryonic stage in the vertebrates: implications for current theories of evolution and development.” Anatomy and Embryology 1997; 196(2):91-106.

[16] Pennisi E. “Haeckel’s Embryos: Fraud Rediscovered.” Science. 1997; 277 (5331):1435.

[17] Gould SJ. “Abscheulich! Atrocious!” Natural History 2000; p. 42-49.

[18] Raven P, Johnson GB, Mason KA, Losos JB, Singer SS. Biology. 9 ed., New York: McGraw-Hill, 2011.

[19] Mader S. Inquiry Into Life. 13 ed., New York: McGraw-Hill, 2011.

[20] Prothero DR. Bringing Fossils to Life: An Introduction to Paleobiology. 3 ed., New York: Columbia University Press, 2013.

[21] Science Museum. Seção “Who am I?”, Londres, 2015. Disponível em:http://www.sciencemuseum.org.uk/on-line/lifecycle/24.asp

[22] “Science Museum takes down fake pictures.” [Dez. 2006]. Truth in Science, 2003. Disponível em: http://www.truthinscience.org.uk/tis2/index.php/news-blog-mainmenu-63/215-pictures-down.html

[23] Bininda-Emonds ORJeffery JERichardson MK. “Inverting the hourglass: quantitative evidence against the phylotypic stage in vertebrate development.” Proc Biol Sci. 2003; 270(1513):341-6.

[24] Bock WJ. “Evolution by Orderly Law.” Science. 1969; 164(3880):684-685.

[25] Morris SC. “Fossil Embryos.” p. 703-711. In: Stern CD (ed.). Gastrulation: From Cells to Embryos. Cold Spring Harbor, NY: Cold Spring Harbor Laboratory Press, 2004.