quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Universal e o "demônio" arrependido pregador da Palavra

     A cada dia a igreja Universal nos surpreende com as suas bizarrices. Parece uma disputa entre a IURD de Macedo e a IAPTD de Agenor Duque para quem vai ganhar o troféu heresia do ano. Esses caras deixam os heresiarcas da igreja primitiva no chinelo e inventam histórias que até “Deus duvida”. A Universal adora fazer entrevistas com o “capiroto” e isso não é novidade para ninguém. Os pastores fazem até pregações em cima das revelações do “tinhoso”! Mas o cúmulo do absurdo foi um vídeo postado pelo bispo Edir Macedo, onde durante uma sessão de descarrego, prática espírita muito comum na IURD, o bispo Rogério Formigoni faz uma “entrevista” com uma mulher supostamente possuída por um “demônio”. A filmagem inicia com ela já falando com a voz característica de quem está tomada por um espírito imundo. Gravado dentro de um templo, com toda a pompa e sensacionalismo, a mulher aparece no “altar”, sendo segura pelos cabelos, enquanto os fiéis cantam um louvor. O bispo ergue a mulher que começa a vociferar:
“Desgraçado, você tomou meu lugar. Você está no coração dele [Deus] e eu fui expulso”, diz o que seria o demônio que possuía a mulher. E continua: “Você tem direito a uma coisa que eu queria. Você tem direito à salvação e eu não posso”.
       Vamos dá uma paradinha aqui. O suposto “demônio” se mostra arrependido e anseia pela salvação. Isso mesmo, nobre leitor! Nos é apresentado aqui, um “demônio” que anseia pela salvação, mas devido à sua situação, ele já não tem mais esse direito. Mas não é isso que a Palavra de Deus ensina. A Bíblia diz que o diabo está tão “arrependido”, que usará de todas as suas forças nos últimos dias para tentar distorcer, reprimir e destruir a palavra de Deus. Ele e seus anjos trabalham incansavelmente em prol da destruição de ser humano. O próprio Jesus, em uma analogia, disse que o “ladrão veio para matar, roubar e destruir” (Jo. 10-10). Isso nos mostra um pouco da ambição de Satanás em relação ao ser humano. O livro de Apocalipse também nos traz um vislumbre da verdadeira natureza e intenções de Satanás, enganar as pessoas:
“O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. ” (Ap. 12:9) (NVI)
E também o apóstolo Pedro:
“Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. ” (1 Pedro 5:8) (NVI)
        Continuando, a mulher supostamente endemoninhada diz: “Eu faria tudo para ter mais uma chance, e esses desgraçados não aproveitam, brincam. O inferno é deles”, confessa. O bispo esclarece que ela está se referindo à salvação. Logo em seguida, Formigoni questiona: “Se você tivesse uma única chance ainda para ser salvo, como você faria? ”
“Eu agarraria com toda minha força, eu faria de tudo, de tudo! Eu buscaria Ele todo dia, todo minuto, todo segundo”. Perguntada pelo bispo se voltaria nos cultos de meio de semana, a entidade discorda: “Eu tava aqui todos os dias. Eu ia servir a Ele com o melhor de mim”. Para terminar (como não podia deixar de falar de dinheiro) o bispo indaga ao “demônio” se ele seria dizimista fiel, e a resposta ouvida foi:  “Seu Deus, ele dá o melhor. Ele é zeloso”. Voltando-se para os presentes, Formigoni chama atenção para o que acabou de ouvir. “Não é forte isso? … O Diabo sabe como é o reino de Deus.” 

       O demônio da Universal está arrependido, prega a palavra de Deus e ainda por cima dá lições sobre dízimo e ofertas! Esse é dos “bão” mesmo! A mulher termina fazendo uma “revelação” acerca do inferno: “Horrível. Fogo, grito, dor, tormento, 24 horas tem alma gritando para Ele [Deus] dar mais uma chance. O pior de tudo é que o seu Deus não vai dar”. Formigoni expulsa então o demônio da mulher, pedindo que todos os crentes no local orassem com ele. A mulher cai e, quando se levanta, já recomposta, fala com sua voz "normal", dizendo estar aliviada.

      Diante de uma situação dessas, temos três opções: 

1) ou essa senhora foi muito bem paga para fazer esse teatro;
2) ou ela sofre de algum caso severo de esquizofrenia ou outra doença mental; 
3) ou de fato, é mesmo uma possessão onde o demônio está usando suas habilidades e mentiras para manter essas pessoas mais aprisionadas às essas seitas neo pentecas. Ele usa suas distrações e mentiras, desviando o foco da Verdade do Evangelho. Pois isso nunca foi, nem será Evangelho! 

       Mas será que o diabo não é obrigado à falar a verdade mediante ao nome de Jesus? Creio que se tivesse um propósito específico e Jesus desse uma ordem direta à ele, creio que sim. Mas não é esse o caso. Eles usam desse sensacionalismo para enganar as pessoas. E nisso Nosso Senhor não tem parte! Jesus disse que o diabo é mentiroso:
“(...) Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira. ” (João 8:44b) (grifo meu)
       Será que podemos confiar em que Satanás diz? De forma alguma! Devemos confiar na Palavra de Deus e usá-la como direção para as nossas vidas, pois “a Tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho. ” (Salmos 119:105); Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (João 17:17) (grifo meu)

Paz do Senhor à todos que estão em Cristo.
Maranata!

Prof. Saulo Nogueira

Assista o vídeo:


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A Reforma acabou?

     “As questões que suscitaram a Reforma quinhentos anos atrás ainda estão muito presentes no século 21 em toda a igreja”, declara o documento, publicado antes do quingentésimo aniversário e assinado por mais de 50 líderes evangélicos.

      No dia 24 de outubro de 2016, tornou-se público o manifesto “A Reforma Acabou? Uma Declaração de Convicções Evangélicas”. O documento é uma resposta à abordagem assumida, de comum acordo, pela Igreja Católica Romana e algumas igrejas e organizações protestantes e evangélicas. Elaborado pela Reformanda Initiative, o manifesto declara:
 “Às vésperas do quingentésimo aniversário da Reforma Protestante, cristãos evangélicos de todo o mundo têm a oportunidade de refletir novamente sobre o legado da Reforma tanto na igreja global de Jesus Cristo como no desenvolvimento do trabalho evangelístico. Após séculos de controvérsias e tensões entre evangélicos e católicos, a cordialidade ecumênica de tempos recentes criou condições propícias para que líderes de ambos os lados afirmassem que a Reforma está em seus momentos finais e que as principais discordâncias teológicas que levaram à ruptura do cristianismo ocidental no século 16 já estão resolvidas.” 
     São exemplos dessa cordialidade o papel ativo que o Papa Francisco desempenhará na Comemoração Ecumênica da Reforma em Lund, Suécia, no dia 31 de outubro deste ano, e as atividades que visam buscar “unidade” e “reconciliação” na Alemanha entre a Igreja Protestante (EKD) e a Igreja Católica Romana.

MAIS INFORMAÇÕES

       O documento foi assinado por mais de 50 teólogos evangélicos, líderes de igrejas e líderes de instituições evangélicas de peso. Veja a lista completa de signatários aqui. Você pode baixar o documento “A Reforma Acabou? Uma Declaração de Convicções Evangélicas” em Português, Inglês, Italiano, Eslovaco e Espanhol.

Leia o manifesto abaixo:

A REFORMA ACABOU? 
Uma Declaração de Convicções Evangélicas

        Às vésperas do quingentésimo aniversário da Reforma Protestante, cristãos evangélicos de todo o mundo têm a oportunidade de refletir novamente sobre o legado da Reforma tanto na igreja global de Jesus Cristo como no desenvolvimento do trabalho evangelístico. Após séculos de controvérsias e tensões entre evangélicos e católicos, a cordialidade ecumênica de tempos recentes criou condições propícias para que líderes de ambos os lados afirmassem que a Reforma está em seus momentos finais e que as principais discordâncias teológicas que levaram à ruptura do cristianismo ocidental no século 16 já estão resolvidas.

Por que alguns afirmam que a Reforma acabou?

         Em apoio à ideia de que a Reforma acabou, são geralmente citadas duas razões principais:

1) Os desafios para os cristãos em todo o mundo (como, por exemplo, o secularismo e o Islã) são tão atemorizantes que protestantes e católicos não podem mais se dar ao luxo de permanecer divididos. Um testemunho unificado, talvez com o Papa como porta-voz, beneficiaria grandemente o cristianismo global.

2) As divisões teológicas históricas (por exemplo, a salvação somente por meio da fé, a autoridade última da Bíblia, a primazia do bispo de Roma) são consideradas questões de diferença legítimas em termos de ênfase, mas não são pontos críticos de divisão e contraste que impeçam a unidade.

        A força cumulativa desses argumentos tem amenizado a compreensão e a avaliação de alguns evangélicos acerca da Igreja Católica Romana.

       É também importante notar que, no último século, o evangelicalismo global tem crescido em uma velocidade avassaladora, enquanto o mesmo não ocorre no catolicismo romano. O fato de milhões de católicos tornarem-se evangélicos nos últimos anos não passou despercebido por líderes católicos romanos, que buscam responder a essa perda de fiéis de maneira estratégica: adotando uma linguagem evangélica tradicional (conversão, evangelho, missão, misericórdia) e estabelecendo diálogos ecumênicos com igrejas que outrora condenaram. Onde antes havia perseguição e animosidade, agora há relacionamentos e diálogos mais amistosos entre católicos e protestantes. A questão, porém, permanece: as diferenças fundamentais entre católicos e protestantes ou evangélicos desapareceram?

A Reforma acabou?

        A Reforma Protestante, em todas as suas variantes e por vezes tendências conflitantes, foi, em última instância, um chamado para 

(1) resgatar a autoridade da Bíblia sobre a igreja e;
(2) reconhecer novamente o fato de que a salvação chega até nós somente por meio da fé.

      Há cinco séculos, o catolicismo romano é um sistema religioso que não é baseado exclusivamente na Escritura. De acordo com a perspectiva católica, a Bíblia é apenas uma fonte de autoridade: não se mantém autônoma, nem é a fonte mais importante. De acordo com esta visão, a tradição precede a Bíblia, é maior do que a Bíblia e não é revelada somente pela Escritura, mas através do ensino contínuo da Igreja e de sua agenda atual, de acordo com os tempos. Uma vez que a Escritura não tem a última palavra, a doutrina e a prática católicas permanecem indeterminadas e, portanto, confusas em sua própria essência.

       A promulgação de três dogmas (ou seja, crenças obrigatórias) sem qualquer base bíblica ilustra perfeitamente o método teológico do catolicismo romano. São eles: o dogma da imaculada conceição de Maria, de 1854; o dogma da infalibilidade papal, de 1870; e o dogma da assunção corpórea de Maria, de 1950. Esses dogmas não representam o ensinamento bíblico e, na verdade, claramente os contradizem. No sistema católico, isso não importa, pois não depende da autoridade exclusiva da Escritura. Talvez sejam necessários dois milênios para se formular um novo dogma, mas, tendo em vista que a Escritura não detém a última palavra, a Igreja Católica pode eventualmente adotar tais inovações.

        Quanto à doutrina da salvação, muitos têm a impressão de que há uma convergência crescente no que diz respeito à justificação pela fé e que as tensões entre católicos e evangélicos têm diminuído consideravelmente desde o século 16. No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja Católica reagiu fortemente contra a Reforma Protestante ao declarar “anátema” (amaldiçoados) aqueles que defendessem a justificação somente pela fé, ao mesmo tempo em que afirmou o ensino de que a salvação é um processo de cooperação com infusão da graça, ao invés de ser um ato alicerçado exclusivamente na graça e na fé.

        Alguns argumentam que a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, assinada pela Igreja Católica Romana e a Federação Mundial Luterana em 1999, uniu a ambos os lados. Conquanto o documento favoreça, por vezes, uma tendência mais bíblica no entendimento da justificação, explicitamente afirma a visão de justificação do Concílio de Trento. A condenação sobre convicções protestantes e/ou evangélicas históricas permanece; apenas não se aplica àqueles que afirmam a desfocada posição da Declaração Conjunta.

        Assim como em Trento, na Declaração Conjunta a justificação é um processo representado pelo sacramento da Igreja (o batismo); ela não é recebida exclusivamente pela fé. É uma jornada que requer colaboração do fiel e uma participação contínua no sistema sacramental. Não há qualquer entendimento de que a justiça de Deus é imputada por Cristo ao crente; logo, não há qualquer segurança de salvação. Além disso, a visão da Igreja Católica Romana é revelada por seu uso contínuo de indulgências (ou seja, a remissão da punição temporal por pecado atribuído pela Igreja em ocasiões especiais). Foi a teologia das indulgências que desencadeou a Reforma, mas esse sistema tem sido invocado recentemente pelo Papa Francisco no Ano da Misericórdia (2015-2016). Isto mostra que, para a Igreja Católica Romana, a visão básica da salvação – que depende da mediação da Igreja, da distribuição de graça por meio dos sacramentos, da intercessão dos santos e do purgatório – permanece a mesma após a elaboração da Declaração Conjunta.

Perspectivas

       O que dissemos sobre a Igreja Católica Romana como realidade doutrinal e institucional não é necessariamente verdadeiro para indivíduos católicos. A graça de Deus está trabalhando em homens e mulheres que se arrependem e confiam somente em Deus e que respondem ao seu evangelho, vivendo como discípulos cristãos que buscam conhecer a Cristo e fazê-lo conhecido. Entretanto, por conta de suas afirmações dogmáticas flutuantes e de sua estrutura política complexa e diplomática, a instituição Igreja Católica deve ser examinada com muito mais cautela e prudência. Iniciativas atuais para renovar aspectos da vida e adoração católicas (como, por exemplo, a acessibilidade à Bíblia, a renovação litúrgica, o papel crescente dos leigos e o Movimento Carismático) não indicam, por si mesmas, que a Igreja Católica Romana esteja compromissada com uma reforma substanciosa em consonância com a Palavra de Deus.

        Em nosso mundo globalizado, encorajamos a cooperação entre evangélicos e católicos em áreas de preocupação comum, tais como a proteção da vida e a promoção da liberdade religiosa. Essa cooperação se estende a pessoas de outras orientações religiosas e ideológicas. Em pontos onde valores comuns estão em jogo – questões éticas, sociais, culturais e políticas –, os esforços colaborativos devem ser encorajados. Todavia, quando se trata de cumprir a tarefa missionária de proclamar e viver o evangelho de Jesus Cristo em todo o mundo, os evangélicos devem ser cautelosos, mantendo padrões bíblicos claros ao formar plataformas e coalizões. A posição que articulamos aqui é um reflexo de convicções evangélicas históricas, junto a uma paixão pela unidade entre crentes em Jesus Cristo de acordo com a verdade do evangelho[1]. As questões que suscitaram a Reforma 500 anos atrás ainda estão muito presentes no século 21 em toda a igreja. Enquanto acolhemos de bom grado toda oportunidade para esclarecê-las, nós evangélicos afirmamos, juntamente com os reformadores, as convicções fundamentais de que nossa autoridade final é a Bíblia e que somos salvos somente por meio da fé.


Traduzido por Jonathan Silveira no Teologia Brasileira


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[1] Essas convicções fundamentais são expressas em papers oficiais de duas organizações evangélicas mundiais: Fraternidade Evangélica Mundial e Movimento Lausanne. Após abordar temas como mariologia, autoridade na igreja, o papado e a infalibilidade, justificação pela fé, sacramentos e a Eucaristia, e a missão da igreja, este foi o pronunciamento da Fraternidade Evangélica Mundial: “A cooperação na missão entre evangélicos e católicos está seriamente impedida por conta de obstáculos ‘insuperáveis’” (Fraternidade Evangélica Mundial, Evangelical Perspective on Roman Catholicism (1986) in Paul G. Schrotenboer (ed.), Roman Catholicism. A Contemporary Evangelical Perspective (Grand Rapids: Baker Book House 1987) p. 93). A mesma visão é refletida no documento de Lausanne intitulado Occasional Paper on Christian Witness to Nominal Christians among Roman Catholics, de 1980, bem como em uma declaração de John Stott, principal autor do Pacto de Lausanne: “Estamos dispostos a cooperar com eles (católicos romanos, ortodoxos ou protestantes liberais) em boas obras de compaixão cristã e justiça social. É no momento em que somos convidados a evangelizar com eles que nos vemos em um duro dilema, pois o testemunho comum necessita de uma fé comum e a cooperação no evangelismo depende de concordância sobre o conteúdo do evangelho” (Lausanne Committee for World Evangelization. “Lausanne Occasional Paper 10 on Christian Witness to Nominal Christians among Roman Catholics” (Pattaya, Thailand, 1980); John Stott, Make the Truth Known. Maintaining the Evangelical Faith Today (Leicester, UK: UCCF Booklets, 1983) p. 3-4.).

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