segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Islamismo é uma religião de paz?

Nenhuma religião admite a matança de inocentes”. – Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, 10 de setembro de 2014.

O islamismo é uma religião de paz”. – David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, 13 de setembro de 2014.

Existe um lugar para a violência no islamismo. Existe um lugar para a jihad (guerra santa) no islamismo”. – imã Anjem Choudary, do Reino Unido, CBN News, 5 de abril de 2010.

       Lamentavelmente, é impossível reinterpretar o Corão de uma maneira “moderada”. A interpretação moderna mais famosa, de Sayyd Qutb (morto em 1966), ideólogo da Fraternidade Muçulmana, leva o leitor cada vez mais ao território político, no qual a jihad é a raiz da ação. Somente na Índia, entre 60 e 80 milhões de hindus podem ter sido assassinados pelos exércitos muçulmanos entre os anos 1000 e 1525. Antes que o Estado Islâmico decapitasse o terceiro ocidental, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que: “O ISIL não é islâmico. Nenhuma religião admite a matança de inocentes”. Bem, não exatamente!

       Com que freqüência – a despeito do atual espetáculo do Estado Islâmico [EI, IS, ISIL ou ISIS] na Síria e no Iraque – ouvimos os políticos ou os líderes eclesiásticos dizendo que o islamismo é uma religião de paz; que o extremismo islâmico é uma inovação moderna, um profundo desvio de algum “verdadeiro” islamismo imaginado, e até mesmo que seu próprio nome, a palavra “islã”, significa “paz”! Não são apenas os muçulmanos que dizem que o islamismo é uma religião de paz: alguns políticos ocidentais e líderes eclesiásticos também repetem isso. Foi o que enfatizou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, no dia 13 de setembro de 2014, na BBC, em resposta à decapitação pelo ISIS do agente humanitário britânico David Haines.

     O ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse[1] o mesmo mais de uma vez,[2] inclusive em um discurso[3] que fez no dia 7 de setembro de 2001. Da mesma forma, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair afirmou: “Não existe um problema com o islamismo. Para aqueles dentre nós que o estudamos, não há dúvida sobre sua natureza verdadeira e pacífica”.[4] O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não questionava nada antes, assim como não questiona nada agora. Em novembro de 2010, em Mumbai, na Índia, ele disse: “A religião [o islamismo] ensina a paz, a justiça, a imparcialidade e a tolerância. Todos nós reconhecemos que essa grandiosa religião não pode justificar a violência”.[5] O papa Francisco I fez declarações semelhantes: “Tendo-nos deparado com episódios desconcertantes de fundamentalismo violento, nosso respeito aos verdadeiros seguidores do islamismo deveria nos levar a evitar generalizações odiosas, pois o islamismo autêntico e a leitura adequada do Corão se opõem a toda forma de violência”.[6]

       O islamita britânico Anjem Choudary, entretanto, em uma entrevista à CBN News,[7] em 2010, rejeitou categoricamente tais interpretações do islamismo: Não se pode dizer que o islamismo seja uma religião de paz”, disse ele. “Porque islã não significa paz. Islã significa submissão. Portanto, o muçulmano é uma pessoa que se submete. Existe um lugar para a violência no islamismo. Existe um lugar para a jihad no islamismo”. Choudary está certo. Embora a palavra árabe para paz, salam, e a palavra árabe para submissão, islam, venham da mesma raiz de três consoantes, elas têm significados bastante distintos e vêm de diferentes formas verbais. Ninguém que saiba a língua árabe cometeria o erro de tomar uma palavra pela outra. Islã não significa “paz”. Islã significa “submissão”. Sua raiz, salam, significa paz, mas não no sentido ocidental da palavra. A palavra significa a paz que prevalecerá no mundo assim que a humanidade se converter ao islã, embora ainda esteja em discussão a qual das suas ramificações.[8]

       O curioso é que ninguém, que eu saiba, tem colocado muita ou qualquer ênfase na história inicial do islamismo. Por qualquer critério, essa história inicial demonstra tristemente que o islamismo jamais foi uma religião de paz e que os jihadistas modernos, especialmente os salafistas, buscam sua inspiração diretamente nas ações das primeiras três gerações da fé: os “salaf” (antepassados/ancestrais), os companheiros do profeta, seus filhos e seus netos. O que é preocupante, ou deveria ser, é que essas figuras servem como modelos construtivos para os muçulmanos atualmente. O Corão está repleto de injunções para lutar a jihad; os próprios radicais modernos dizem que tiram sua inspiração de lá. Há estimativas de cerca de 164 versos sobre ajihad[9] no Corão. E esses não incluem inúmeras passagens ordenando ou descrevendo a guerra santa na Hadith, ou seja, na biografia do profeta. Alguns exemplos (traduções do autor) incluem:

Deixem que aqueles que vendem a vida deste mundo pela vida por vir lutem da maneira de Deus; quer ele seja morto ou viva vitoriosamente, lhe daremos uma poderosa recompensa” (4.74).

Lançarei medo nos corações dos incrédulos. Portanto, cortem a cabeça deles e cortem as pontas de todos os dedos deles” (8.12).

Matem os incrédulos onde quer que vocês os encontrem; levem-nos cativos e os deixem sitiados; e montem tocaias contra eles, fazendo-os cair em emboscadas” (9.5).

       Lamentavelmente, é impossível reinterpretar o Corão de uma maneira “moderada”. A mais famosa tafsir (interpretação) moderna do livro sagrado é uma obra de vários volumes intitulada In the Shade of the Qu’ran [À Sombra do Corão]. Ela foi escrita por Sayyd Qutb (morto em 1966), ideólogo da Fraternidade Muçulmana, freqüentemente considerado como o pai do moderno radicalismo. Sua interpretação leva o leitor cada vez mais ao território político, no qual a jihad é a raiz da ação.

       O Corão contém muitos versos pacíficos e moderados, e esses poderiam muito bem ser usados para criar uma reforma genuína – alguma coisa que vários reformadores sinceros tentaram fazer. Mas há algo que chama a atenção. Todos esses versos moderados foram escritos na fase inicial da carreira de Maomé, quando ele morava em Meca e aparentemente tinha decidido seduzir as pessoas. Quando se mudou para Medina, em 622 d.C., tudo mudou. Logo ele se tornou um líder religioso, político e militar. Durante os dez anos seguintes, como suas propostas religiosas às vezes não eram bem-vindas, seus versos pacíficos deram lugar aos versículos da jihad e aos seus discursos (ou conversações filosóficas) intolerantes contra os judeus, os cristãos e os pagãos. Quase todos os livros de tafsir pressupõem que os versos escritos mais tarde revogam os que foram escritos mais cedo. Isto significa que os versos pregando amor por todos já não são mais aplicáveis, exceto com relação aos companheiros muçulmanos. Os versos que ensinam a jihad, a submissão e as doutrinas relacionadas continuam formando a base para a abordagem de muitos muçulmanos aos não-crentes.

     Um problema é que ninguém pode mudar o Corão de forma nenhuma. Se o livro contém a palavra direta de Deus, então a remoção de um simples til ou de um ponto acima ou abaixo de uma letra seria uma blasfêmia da pior espécie.[10] Qualquer mudança sugeriria que o texto na terra não combina com a tábua no céu – a “Mãe do Livro”, da forma como Maria é a Mãe de Cristo – pois esse é o Corão original eterno. Se um ponto pudesse ser mudado, talvez outros pudessem ser mudados, e palavras longas poderiam ser substituídas por outras palavras. O próprio Corão condena os judeus e os cristãos por terem manipulado seus livros sagrados, de forma que nem a Torá nem os Evangelhos podem ser considerados como a Palavra de Deus. O Corão nos pega em uma armadilha por sua absoluta imutabilidade.

       O pecado que ataca os políticos, líderes eclesiásticos e multiculturalistas ocidentais modernos é sua pronta aceitação da ignorância e a promoção de sua própria ignorância à categoria de erudição. O islã é um dos tópicos mais importantes da história humana, mas quantas crianças ouvem detalhes como os mencionados acima em suas aulas de história? Quantos livros-texto pintam uma figura honesta sobre como o islamismo começou e como ele teve continuidade como um pano de fundo para a maneira que ele prossegue hoje? Além disso, a quantos verdadeiros especialistas é negado o contato com governos e políticos para que mentiras não se tornem a base de decisões governamentais no Ocidente? Quantas vezes a verdade será sacrificada por causa de fábulas, enquanto os extremistas muçulmanos bombardeiam, atiram e decapitam em seu caminho para o poder?

       Esses fatos não vêm de relatos modernos do Ocidente; eles estão lá nos textos que alicerçam o islamismo, nas histórias de al-Waqidi e de al-Tabari. Ninguém está inventando isso. Os muçulmanos que evitam sua própria história deveriam ser confrontados por ela em todas as futuras discussões. Infelizmente, até muitos muçulmanos moderados ainda falham em ver a realidade por detrás de alguns aspectos elementares de sua própria religião. Logo após os atentados em Londres, em 7 de julho de 2005, o jornal The Guardian perguntou a várias pessoas sobre suas visões a respeito dos ataques. Um jovem e simpático líder muçulmano disse que ficou horrorizado com os assassinatos cometidos por quatro de seus correligionários. Ele afirmou que, se pelo menos os jovens lessem o Corão, eles se voltariam contra todas as formas de extremismo violento. Todos os combatentes jihadistas do mundo constantemente lêem e citam o Corão, onde eles encontram mais do que suficientes justificativas para os ataques violentos contra os não-muçulmanos, apóstatas e “hipócritas” (munafiqun – uma palavra tomada diretamente do Corão, significando algo semelhante a apóstatas, ou pessoas que abandonaram a fé).

       Não considerando o Corão, os seis livros do Hadith e a biografia do profeta (o Sira) representam um mundo nascido em violência. Maomé, depois de mudar sua residência para Medina, levou seus seguidores a batalhas e a ataques a áreas tribais. Ele lutou em conflitos importantes como as batalhas de Badr, Uhud e al-Khandaq. Ibn Ishaq, seu biógrafo, diz que ele lutou em vinte e sete batalhas. Além disso, ele enviou tenentes a caravanas de invasão – as invasões são conhecidas como ghazwat. Cerca de 100 dessas invasões aconteceram principalmente para chamar os árabes ao islamismo. Se eles se desviassem da fé verdadeira, os “apóstatas”, como os pagãos, deveriam ser combatidos até aceitarem o islamismo ou serem mortos – como estamos vendo atualmente no Estado Islâmico (EI). Maomé ordenou e apoiou cerca de quarenta e três assassinatos de oponentes, inclusive de vários poetas, que o haviam desafiado em versos. Mais conhecidas são suas represálias contra três tribos judaicas, duas das quais foram expulsas de Medina, enquanto que os homens da terceira, a Banu Qurayza, foram condenados à morte por Sa’d ibn Mu’adh, cujo julgamento foi endossado por Maomé. Mais de 900 homens da tribo – inclusive meninos de treze anos para cima – foram decapitados; as mulheres e crianças foram vendidas como escravas, ou algumas das mulheres foram feitas concubinas dos homens muçulmanos.[11] O período de Medina não foi nada mais do que rodadas de violência sobre violência, todas ordenadas e realizadas pelo “Profeta da Paz”.

       Maomé morreu no ano 632 d.C., e deveria ser sucedido por seu sogro Abu Bakr (morto em 634), tido pelos sunitas como o primeiro califa, ou por seu genro Ali, tido pelos xiitas como o primeiro dos doze imãs – desta forma provocando o primeiro cisma do islamismo, entre os sunitas e os xiitas, nos dias da morte de Maomé. A primeira tarefa à qual Abu Bakr se dedicou como califa foi lançar uma série de ataques através da Península Arábica. As tribos dos beduínos, que tinham seguido seu costume de suprimir sua lealdade quando o líder de uma tribo associada morresse, aparentemente creram que sua fidelidade ao islamismo havia terminado quando Maomé partiu deste mundo. Abu Bakr tratou isto como uma apostasia e enviou aliados para forçarem os homens das tribos a voltarem para o aprisco do islamismo. Essas Guerras dos Ridda resultaram em quinze batalhas. Quando as coisas tinham sossegado, Abu Bakr enviou exércitos muçulmanos para conquistarem o Iraque (uma província do Império Persa Sassânida) e o Levante (parte do Império Bizantino Cristão). Quando Abu Bakr, já um homem velho, morreu de febre, em agosto de 634 d.C., foi sucedido por Umar ibn al-Khattab (morto em 644). Sob seu governo, o Império Sassânida inteiro e dois terços do Império Bizantino foram conquistados pelo islamismo. Batalha após batalha, derramamento de sangue após derramamento de sangue. Em 644 d.C., um grupo de persas, irados por causa da conquista, conspirou para matar Umar e foi bem sucedido quando um ex-escravo, mais conhecido como Abu Lu’lu’, o assassinou durante as orações.

     Embora o terceiro dos quatro “Califas Corretamente Guiados”, Uthman ibn Affan (morto em 656), já estivesse com 65 anos em sua ascensão, durante seu reinado aconteceram batalhas para conquistar ou alinhar a metade do mundo conhecido. Suas conquistas se estenderam até o Paquistão moderno, o Irã, o Afeganistão, o Azerbaijão, o Daguestão, o Turcomenistão e a Armênia. A Sicília e Chipre foram capturadas. Os exércitos islâmicos entraram no Norte da África e mais tarde na Península Ibérica e no Sul da Itália. Já no final de sua vida, entretanto, Uthman tornou-se impopular para muitos. Medina, onde ele tinha sua capital, tornou-se um ninho de intrigas e distúrbios. Em 656, uma revolta armada teve início e 1.000 rebeldes, com ordem para assassinar o califa, partiram do Egito para Medina. Alguns entraram em sua casa e o assassinaram; depois, os defensores do califa se voltaram contra os rebeldes e a luta armada estourou. A religião da paz continuava em marcha. Uthman foi seguido pelo genro de Maomé, Ali (morto em 661), o último dos quatro Califas Rashidun (Guiados Corretamente). Quase que imediatamente, Ali foi envolvido em uma rixa que terminou em guerra civil. Ele enfrentou a esposa do profeta, A’isha, na Batalha do Camelo em 656, quando 10.000 foram mortos. Ele também enfrentou as forças de Mu’awiya (mais tarde o primeiro dos Califas Omíadas) em Siffin (657), onde Ali perdeu 25.000 homens e Mu’awiya perdeu 45.000. Ali foi assassinado em sua capital, Kufa, por um muçulmano extremista, durante as orações, em 661.

      Os omíadas tomaram o poder e estabeleceram sua capital de longa duração, Damasco. Mas a violência prosseguiu rapidamente. Em 680, quando Yasid (morto 683), filho de Mu’awiya, assumiu o califado, um neto de Maomé, Husayn, filho de Ali, rebelou-se e levantou forças para atacar Yazid. Os dois lados se encontraram em Karbala, em 680. Na luta, Husayn, sua família e seus seguidores, todos pereceram. Isto marca o momento mais crucial na cisão entre a minoria xiita (para quem Husayn é o terceiro dos imãs) e a maioria sunita. O restante da história islâmica é marcada pelas jihads anuais, guerras entre diferentes governos e impérios muçulmanos. Somente na Índia, entre sessenta e oitenta milhões de hindus podem ter sido assassinados durante os séculos de invasões dos exércitos muçulmanos, desde o ano 1000 até o ano 1525.[12] Será que isso é algo que deva ser esquecido? Enquanto o Corão estiver nas prateleiras de todas as mesquitas e livrarias muçulmanas, homens e mulheres jovens, em suas thawbs e hijabs, podem encontrar nele a perfeita justificativa para continuarem suas empreitadas no caminho da jihad e da matança de inocentes.

(Denis MacEoin – www.gatestoneinstitute.org – Beth-Shalom.com.br)

Nota sobre o autor: Denis MacEoin se formou com um B.A. e um mestrado em Língua Inglesa e Literatura no Trinity College, Dublin (Irlanda), seguido por um segundo M.A. de 4 anos em persa, árabe e Estudos Islâmicos em Edimburgo e um doutorado em Estudos Persas/Islâmicos em Cambridge (Grã-Bretanha). Ele lecionou Estudos Árabes e Islâmicos na Universidade de Newcastle, escreveu vários livros e numerosos artigos acadêmicos, bem como muitos textos jornalísticos. Recentemente, produziu relatórios sobre literatura de ódio, a sharia (lei islâmica), e as escolas islâmicas.

Notas:
[1] http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/09/20010917-11.html

[2] http://www.danielpipes.org/blog/2007/10/bush-returns-to-the-religion-of-peace

[3] https://www.youtube.com/watch?v=9–ZoroJdVnA

[4]http://www.westcoasttruth.com/western-dhimmi-politicians–-the-black-heart-series-by-ralph-ellis.html

[5] http://www.hindustantimes.com/india-news/mumbai/islam-great-but-distorted-by-few-extremists-obama/article1-623013.aspx

[6] http://exlaodicea.wordpress.com/2014/01/10/pope-francis-and-the-religion-of-peace/

[7]http://www.cbn.com/cbnnews/world/2010/March/UK-Muslim-Leader-Islam-Not-a-Religion-of-Peace/

[8]http://www.religioustolerance.org/faisal01.htm;?http://www.al-islami.com/islam/religion–of–peace.php;http://d1.islamhouse.com/data/en/ih–books/single/en–Islam–Is–The–Religion–Of–Peace.pdf;http://www.studymode.com/essays/Islam-a-Religion-Of-Peace-212736.html

[9] http://www.answering-islam.org/Quran/Themes/jihad–passages.html

[10] O ponto, ou nuqta, é de enorme importância no xiismo, pois o imã Ali afirmou que ele é o ponto debaixo da letra b no início da primeira palavra do Corão, bismillah, o que faz dele o primeiro de todos os seres criados. Seitas tais como os Nuqtavis e os Babis no Irã têm atribuído significados profundos a isso. Pode ser um ponto, mas ele pode significar um mundo de coisas.

[11] Ver William Montgomery Watt. Muhammad at Medina [Maomé em Medina], pp. 208-216, Oxford, 1956, o estudo definitivo sobre esse período. O autor foi aluno de Watt nos anos 1970.

[12] K.S. Lal. Growth of Muslim Population of Medieval India (1000-1800) [O Crescimento da População Muçulmana da Índia Medieval (1000-1800) ].

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cientistas têm classificado símios como hominídeos

       [Os comentários entre colchetes são do jornalista Michelson Borges] Uma parte crucial da árvore genealógica da espécie humana virou um saco de gatos, uma bagunça completa, argumentam dois respeitados paleoantropólogos americanos. O problema é o conjunto de espécies hoje classificadas no gênero Homo, grupo ao qual pertence, é claro, o Homo sapiens, ou seja, o ser humano de anatomia moderna, e seus primos europeus extintos, os neandertais. É verdade que, nesses dois casos, não há grandes dúvidas – tanto que análises de DNA revelaram episódios de miscigenação entre humanos modernos e neandertais [claro, porque eram todos humanos]. Para Jeffrey Schwartz, da Universidade de Pittsburgh, e Ian Tattersall, do Museu Americano de História Natural, no entanto, a coisa fica feia quando o objetivo é entender formas mais arcaicas de ancestrais da humanidade. Escavações na África e em outros lugares do mundo revelaram um minizoológico dessas criaturas – há o H. habilis, o H. rudolfensis, o H. ergaster, o H. erectus e formas mais misteriosas, conhecidas simplesmente como “Homo primitivo”, isso sem falar em alguns outros nomes científicos que acabaram não pegando [aí estamos falando de fragmentos de ossos de macacos que os darwinistas querem sempre promover a “elo perdido”]. Tais nomes científicos designam fósseis que viveram num intervalo relativamente curto do tempo geológico – grosso modo, entre 2,5 milhões e 1,5 milhão de anos atrás [segundo a cronologia evolucionista].

     Em artigo na última edição da revista especializada Science, Schwartz e Tattersall defendem que esse milagre da multiplicação da nomenclatura foi longe demais [milagre a Science ter publicado um artigo tiro no pé como esse...]. Boa parte dos fósseis [...] não deveria estar no gênero Homo, dizem eles. “Monofilético” é a palavra-chave, disse Tattersall à Folha. O termo, empregado em estudos sobre o parentesco evolutivo entre seres vivos, designa um grupo que inclui uma espécie ancestral e todos os seus descendentes. O indício-chave desse parentesco são (prepare-se para outro palavrão em grego) as chamadas sinapomorfias, que não passam de características compartilhadas por todos os membros do grupo – e apenas entre eles.

      Gêneros de seres vivos, como o Homo, precisam ser grupos monofiléticos. Embora não haja uma regra estrita sobre quão inclusivos eles podem ser (ou seja, sobre a diversidade de espécies que podem “caber” dentro de um gênero), de modo geral um gênero congrega espécies de parentesco bastante próximo. Um exemplo que ajuda a entender isso no caso de mamíferos como nós é o do gênero Panthera, que congrega, entre outros, onças-pintadas, leopardos, leões e tigres [convenhamos, muito mais semelhantes entre eles do que macacos e humanos].

     A principal ferramenta usada ainda hoje pelos cientistas para classificar espécies (ainda vivas ou extintas) em gêneros é a semelhança anatômica ou morfológica. “Uma vez que o gênero Homo necessariamente tem de abrigar o H. sapiens, o jeito óbvio de organizar as coisas é partir dessa espécie e ver quais formas extintas formam um agrupamento monofilético e morfologicamente unificado com ele”, explica Tattersall. Para ele, porém, não é o que anda sendo feito. “Os paleoantropólogos têm simplesmente enfiado fósseis mais e mais antigos [ou muito diferentes de nós] no gênero sem se preocupar muito com a questão da morfologia. Em vez de fazer as coisas com cuidado, os trabalhos seguem o desejo de descobrir o ‘Homo mais antigo’, o que não dá muito certo.” [E por que fazer isso? Para ter seus quinze minutos de fama, promovidos por alguma publicação científica ou pela mídia popular, que adora publicar matérias sensacionalistas sobre nossos supostos ancestrais.] Segundo ele, essa corrida acabou praticamente abandonando a busca por sinapomorfias, ou seja, traços capazes de unir de forma coerente os fósseis classificados como Homo.

       De fato, existe uma enorme diversidade entre os primatas extintos hoje incluídos no gênero: há desde tampinhas (com 1,40 m de altura ou menos) de cérebro pouco maior que o de um chimpanzé, como o Homo habilis, até criaturas que fabricavam ferramentas relativamente complexas e tinham o corpo alto e esguio de um maratonista queniano, caso de alguns exemplares do Homo erectus. [Veja quanta diferença agrupada aleatoriamente num mesmo grupo.] Outros cientistas, como Esteban Sarmiento, da Fundação Evolução Humana (EUA), dizem que tal tendência tem levado cientistas mais afoitos a enxergar hominídeos em toda parte [Uau! É exatamente o que nós criacionistas temos dito há muito tempo. Mas quem ouve os criacionistas?] - certos fósseis na verdade seriam de grandes macacos primitivos. “Existe um desejo subliminar de enxergar certos fósseis como hominídeos”, pondera Tattersall. “Nós, por exemplo, descobrimos que muitos dentes do Extremo Oriente atribuídos ao Homo erectus poderiam ser interpretados de forma mais razoável como pertencentes a primos dos orangotangos [pois é...]. O status de hominídeo de algumas formas africanas muito antigas chegou a ser contestado.”

     Diante do aparente impasse, o que fazer? A sugestão de Schwartz e Tattersall é simples: começar de novo, praticamente do zero. Eles defendem que é preciso reanalisar cuidadosamente a morfologia de cada fóssil de hominídeo e, a partir daí, propor agrupamentos novos e mais coerentes. [Será que os editores de livros e revistas darão o braço a torcer e estarão dispostos a enviar para a reciclagem de papel tudo o que já foi publicado e continua em circulação? Por quanto tempo mais os livros didáticos vão apresentar a hipotética “árvore evolutiva” humana como um “fato confirmado”? Quantas pessoas ainda serão ensinadas a respeito disso e continuarão crendo que temos ancestrais simiescos?]

     Segundo eles, isso quase certamente levará os especialistas a jogar na lata do lixo da nomenclatura paleontológica vários dos nomes científicos que são populares hoje; ao mesmo tempo, novos gêneros deverão ser criados para acomodar os hominídeos “sem-teto”. [E de novo deverá entrar em cena muita especulação, muita imaginação e muito trabalho de pintores e escultores.] [...]


Nota do Blog: Pois é, quantas certezas indo por água a baixo. Existe uma pressão tão grande por publicações, que alguns cientistas no afã de mostrarem seus resultados "conclusivos" se precipitam com as suas "especulações". A ciência não é onipotente, claro, e grande parte dos cientistas sabem disso. Mas às vezes parecem ignorar esse fato e praticamente a tornam uma divindade. Como diz Enézio de Almeida: "Alguém me belisque, mas é assim que caminha o fato, Fato, FATO da evolução de um Australopithecus afarensis se transmutar em antropólogo amazonense - sem evidências, mas muito desejo subliminar".

Pobre ciência!


Prof. Saulo Nogueira 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Relator é aplaudido após definir família como união entre homem e mulher

Relator define família como união entre homem e mulher
       O relator do projeto de lei que cria o Estatuto da Família, deputado federal Diego Garcia (PHS-PR), apresentou nesta quarta-feira (2) o parecer no qual define a família como a união entre homem e mulher por meio de casamento ou união estável, ou o núcleo formado por um dos pais mais os filhos. Ao concluir a leitura do relatório, o parlamentar do PHS foi aplaudido na comissão especial que discute o tema, composta majoritariamente por integrantes da bancada evangélica. O projeto trata dos direitos da família e das diretrizes das políticas públicas voltadas para atender a entidade familiar em áreas, como saúde, segurança e educação. Sem a presença de representantes de entidades ligadas aos movimentos LGBT, a sessão desta quarta da comissão especial foi destinada apenas à leitura do relatório, não tendo ocorrido debates entre os parlamentares. Agora que o parecer foi apresentado, os deputados terão até cinco sessões para sugerirem emendas, que poderão ou não ser incluídas por Garcia no seu relatório final.

       De autoria do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), a proposta do Estatuto da Família tramita na Casa desde 2013. Neste ano, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou uma comissão especial para discutir o assunto. No texto lido nesta quarta, Garcia afirma que o projeto cumpre o que ele chama de “inglória missão de evidenciar o óbvio” e diz que o Judiciário errou ao reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Ele argumentou que seu relatório se baseia na definição da Constituição sobre família, que, para efeito da proteção do Estado, reconhece a entidade familiar como a união estável entre um homem e uma mulher.

       Para contemplar as uniões homoafetivas, Diego Garcia propôs a criação de uma nova denominação, a “parceria vital”, para reconhecer o que ele chama de "enlace entre duas pessoas". Segundo ele, essa parceria não teria conexão com a procriação ou a constituição de uma família, mas serviria para a garantia de benefícios previdenciários. O relator nega, contudo, que o projeto irá reforçar o preconceito na sociedade. “O projeto de lei não exclui ninguém, ele valoriza a família, base da sociedade, e cria algo inovador, porque, desde 1988, o Congresso Nacional vinha se calando, se omitindo a respeito da família. E hoje estamos dando um grande avanço com essa discussão”, disse Garcia ao final da sessão. Questionado sobre se a aprovação do projeto derrubaria a decisão de 2011 do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união estável entre homossexuais, o relator disse que a proposta ainda tem um longo caminho pela frente no Congresso até virar lei. Ele defendeu, porém, a necessidade de o Legislativo se manifestar sobre o tema. “Eu não sei dizer se derrubaria [a decisão do Supremo], mas traz uma inovação e traz uma posição do parlamento a respeito dessa matéria”, enfatizou.

“Retrocesso”

       Ao final da sessão desta quarta da comissão especial, a deputada Érika Kokay (PT-DF) classificou a proposta de Diego Garcia de “retrocesso”. Ligada aos movimentos sociais de direitos humanos, a parlamentar petista acusou o relatório de reafirmar uma “lógica homofóbica e de exclusão”. Na opinião de Érika Kokay, o preconceito perpassa todo o relatório e, dificilmente, poderá ser corrigido com sugestões de alteração. Ela advertiu que deve apresentar um voto em separado. Vamos utilizar todos os instrumentos legislativos possíveis para que possamos impedir a institucionalização da homofobia através deste projeto e o retrocesso em direitos de vários segmentos da sociedade”, ressaltou a petista.-

     A deputada também chamou o relatório de Diego Garcia de “absurdo”. Ela citou Nelson Rodrigues para criticar o texto do colega do PHS. Não dá para menosprezar o absurdo. Muitas vezes, o absurdo é tão nítido, é tão concreto, que a tendência é que você possa menosprezá-lo. Não dá para menosprezar o absurdo porque o absurdo, tem razão Nelson Rodrigues, está literalmente perdendo a modéstia. Este parecer é uma prova inconteste disso”, disse. Embora a proposta tramite em caráter conclusivo na comissão, a petista informou que, caso seja aprovada, ela apresentará recurso para que seja analisada pelo plenário.


Nota do Blog: Decisão sábia e Constitucional. O Judiciário esta tentando passar por cima do Legislativo e isso abre precedentes perigosos. Parabéns ao deputado Diego Garcia e aos demais que lutaram pela causa da família, instituição divina e imutável. Gostei da colocação do deputado, que propõe uma nova denominação para as pessoas do mesmo sexo que queiram direitos conjugais, pois o termo família já tem dono e pertence aos casais héteros. Bom, quanto à deputada Érica Kokai, é lamentável como ela interpreta as coisas e compara essa decisão à uma homofobia institucionalizada. É da mesma turma do Jean Wyllys, que vê homofobia em tudo.

Prof. Saulo Nogueira

Paz do Senhor à todos!

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque

       Observação e formulação de hipótese, realização de testes e experimentos, compilação e interpretação dos resultados, construção de teoria, redação de artigo, análise dos pares, publicação em um periódico reconhecido e replicação. Um breve resumo do método científico moderno mostra o rigor que as pesquisas devem seguir. Mesmo assim, a expansão da pesquisa veio acompanhada de uma explosão no número de estudos retirados da literatura, seja por erros sistemáticos ou de modelagem, má conduta ou mesmo má-fé, formada pela infame trinca plágio, manipulação e fraude. Um levantamento da revista Nature mostrou que, só na primeira década deste século, o índice de anúncios dos temidos retracts, palavra em inglês que define o envio dos artigos para o esquecimento dos anais da ciência, multiplicou-se por dez, muito acima da alta de 44% na produção científica. Para além de apenas manchar ou destruir reputações, os casos de fraude são os que mais preocupam os especialistas por colocar em risco o próprio futuro da ciência, tanto pela má distribuição dos já limitados recursos investidos em pesquisas quanto por minar a confiança da sociedade nos seus cientistas, o que pode se traduzir em ainda menos investimentos. [Continue lendo]

Nota do químico da Unicamp Dr. Marcos Eberlin: “Sou um grande fã da ciência, minha casa e minha vida (profissional), e respeito muito os muitos que tentam contribuir por meio dela, com sinceridade, para uma sociedade e um mundo melhores - eu faço o que posso -, e jamais venderia a minha ‘alma’ por um artigo que fosse, pois dou contas, sobretudo, a um Deus que tudo vê e tudo sabe, e é bom, mas justo. Lembrei-me do versículo “maldito o homem que confia no homem”, e de tantos artigos que leio, às vezes na NatureScience e outras, sobre provas da ‘coisa horrorosa’. Lembrei-me de elos perdidos, vida em sopa escaldante, dinos & canários, semelhança genética... a foto acima me lembrou dos embriões de Haeckel, sem falar das mariposas de Manchester, dos bicos de tentilhões. Olha o estrago à ciência que uma cosmovisão equivocada tem feito. Se fossem todos retratados, aí, caramba, a porcentagem de retracts explodiria!”