Defender a fé cristã é
parte do Cristianismo desde o seu nascimento. Homens e mulheres do presente e
do passado dedicaram suas vidas para apresentar a fé cristã de modo
compreensível e acessível especialmente para aqueles que são críticos da mesma.
Foi Priscila e Áquila que defenderam e apresentaram a fé cristã a Apolo
(At.18-19); foi Paulo quem defendeu a fé em Atenas entre filósofos (At.17); foi
Pedro que defendeu e apresentou a fé cristã entre os judeus (At.2). Diferentes
métodos e abordagens foram usadas nas escrituras, mas o objetivo era sempre o
mesmo: Defender a Jesus Cristo como o centro da fé cristã. Historicamente o
ministério apologético foi entregue a homens e mulheres preparados para
defender a fé. Eram cristãos que conheciam a Cristo e a mensagem cristã e que
poderiam abordar as críticas ao cristianismo e defendê-lo de modo adequado. Era
uma forma acadêmica de expressão, apresentação e defesa do evangelho. O
resultado disso é que o cristianismo histórico tem centenas de livros,
argumentos e propostas apologéticas que continuam valiosos para os nossos dias.
Infelizmente,
entretanto, com o recente advento da blogsfera, o ministério apologético foi
usurpado por cristãos que não tem condições de assumir tal ministério. São
homens e mulheres absolutamente despreparados para essa tarefa. São cristãos
imaturos, neófitos e normalmente mal preparados para tal tarefa. Em algumas
ocasiões, o teor e o conteúdo dos artigos publicados são ruins e equivocados. É
assustador a quantidade de artigos mal escritos, mal fundamentados e
equivocados são produzidos na internet dos nossos dias. Esse tipo de
apologética é desnecessária, por que envergonha o evangelho. Aquele ministério
que no passado deu ao cristianismo orgulho, nos nossos dias tem demonstrado
nossa vergonhosa situação de despreparo.
Tal despreparo não é
apenas acadêmico, é também religioso e pessoal. Apologetas dos nossos dias se
esquecem que em primeiro lugar eles devem santificar a Cristo como Senhor em
seus corações (1Pedro 3:15). A defesa da fé que não nasce do relacionamento
pessoal com nosso Senhor não pode ser bem sucedida. Além disso, o modo como
alguns fazem apologética viola a moral cristã. Foi Paulo que nos ensinou:
“Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as
oportunidades. O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que
saibam como responder a cada um.” (Colossenses 4:5,6). O ministério apologético
tem que ser fundamentado na sabedoria cristã e na sensatez do uso das nossas
palavras. O ministério apologético que viola esses princípios envergonha a
igreja e o evangelho.
Por isso, nós
precisamos que homens e mulheres maduros em sua fé se aventurem na defesa
pública da fé cristã. Precisamos de homens e mulheres que estejam dispostos a
conhecer mais do Senhor, de Sua palavra e deste mundo, para que aprendam a como
apresentar as verdades do evangelho do modo claro e convincente. No artigo
Cheque Sempre suas Fontes, eu terminei o artigo com algumas sugestões de
natureza mais prática no que se refere a pesquisa, que acredito podem ser
repetidas aqui:
(1) Cheque sempre suas
Fontes: Na pesquisa teológica é fundamental que o apologeta conheça suas
fontes. É impressionante o quanto da apologética online é feita a partir de um
recorte de frases de teólogos ‘famosos’. Em algumas ocasiões é possível
perceber que o autor nunca leu os livros que cita. Esse tipo de pesquisa é
vergonhosa! Nós temos que modelar a excelência na metodologia de pesquisa por
que nosso objetivo é mais do que apenas apresentar um bom argumento, mas é
apresentar evidências que auxiliem cristãos duvidosos a firmarem sua fé, ou a
críticos a repensarem sua oposição ao cristianismo. Honestidade acadêmica é
fundamental, bem como a excelência.
(2) Conheça as
evidências primárias da sua pesquisa: Um dos equívocos recorrentes entre
apologetas é o uso exclusivo de literatura apologética como base para suas
pesquisas. Observe que no livro Não Tenho Fé Suficiente para ser Ateu, Geisler
basicamente cita seus próprios livros no capítulo 9 e outros livros igualmente
apologéticos. O problema desse tipo de prática é que o apologeta é um
especialista em defesa da fé e não um especialista em todas as áreas do
conhecimento necessárias para se fazer a defesa da fé. Ao fazer isso, ele passa
longe da evidência primária de sua pesquisa e apresenta apenas a evidência
digerida por outros apologetas. Foi esse tipo de método de pesquisa que levou
Geisler a publicar repetidas vezes dados equivocados sobre a quantidade de
variantes textuais conhecidas no NT.
Um excelente modelo
para a apologética é dada por Lee Strobel no livro Em Defesa de Cristo, no qual
entrevista especialistas de diferentes áreas do conhecimento para apresentar a
defesa da doutrina de Cristo. Por isso, é importante que o apologeta tenha
conhecimento das evidências primárias de sua pesquisa, mesmo que seja pela
instrumentação da teólogos e pesquisadores nas áreas do conhecimento nas quais
são especialistas. É fundamental que o apologeta saiba onde buscar tais
referências para sua pesquisa.
(3) Conheça bem os
argumentos em oposição: Outro problema recorrente é que muitos apologetas não
profissionais, não conhecem exatamente o que pensam aqueles que discordam de
nós. Não há como fazer uma boa defesa da fé sem saber onde estão os ataques a
nossa fé. É por isso que a tarefa da defesa da fé não pode ser entregue a
cristão imaturos e despreparados. É necessário que o apologeta seja um cristão
consciente, capaz de pesquisar em nível acadêmico com excelência e habilitado a
compreender os argumentos da oposição. A intenção do apologeta não é publicar
muitos artigos, mas publicar bons artigos. No submundo da internet o que menos
se precisa são artigos mal escritos e mal pesquisados. É hora dos apologetas
cristãos implementarem um padrão exemplar na pesquisa acadêmica para que possam
ser considerados como dignos no tratamento da evidência, mesmo por aqueles que
discordam do cristianismo. Que não seja nossa inabilidade de pesquisa a razão
da rejeição de Cristo, mas a exclusiva volição daqueles que a Cristo se opõem.
(4) O Apologeta deve
ser propagador do melhor da academia cristã: Infelizmente, nem tudo que se
publica em defesa da fé é digno dessa tarefa. Existem na academia cristã
excelentes livros de referência para a pesquisa teológica e o apologeta deve
ser capaz de tornar público o melhor desse material. Para fazer isso, o
apologeta deve desenvolver o hábito de se expor ao conhecimento teológico para
aprender a diferenciar um livro ruim de um livro bom. É fundamental que a
igreja brasileira tenha acesso a materiais bem escritos, bem pesquisados e que
tenham contato com a produção cristã de nível acadêmico. Como defensores da fé,
nós precisamos tornar público e acessível aquilo que a academia tem produzido
de melhor.
(5) Reconheça e corrija
seus erros: Ninguém é infalível! Nem mesmo Norman Geisler. Apesar da qualidade
dos materiais apologéticos que escreveu, Geisler reconheceu vários dos erros
que cometeu no livro e prontamente os corrigiu. Na defesa da fé cristã, esse
tipo de humildade é fundamental. É necessário que os homens e mulheres de Deus
que estão defendendo a fé cristã tenham esse tipo de atitude. Mais do conhecer
as evidências, mais do que excelência e honestidade na pesquisa, humildade para
lidar com as diferentes opiniões e disposição para reconhecimento e correção
dos equívocos.
A tarefa da apologética
é necessária no Brasil, e por isso, aqueles que se dedicam a ela devem realizar
tal tarefa com excelência acadêmica. Nós precisamos que homens e mulheres que
levem o cristianismo a sério se dediquem a pesquisa em nível acadêmico para
defender aquilo que consideramos fundamental: A nossa fé em Cristo.
Soli Deo Gloria!
Marcelo Berti
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