Em Daniel 1.8 diz que
Daniel e seus amigos resolveram não contaminar-se das finas iguarias do rei.
Isso levanta algumas dúvidas e diferentes interpretações. O que significa
“contaminar” neste versículo? Como aquele alimento poderia trazer contaminação?
Este artigo visa responder esta questão dentro de uma breve análise do texto
dentro do seu contexto.
Há pelo menos três
posições geralmente defendidas por comentaristas. A primeira posição é que as
finas iguarias do rei possuíam alimentos proibidos pela Lei, como porco. Na Lei
de Moisés, realmente havia algumas proibições de comer certos alimentos. Em Levítico
11 há uma lista de animais que eram proibidos de comer. No entanto, o texto diz
que ele recusa toda a comida do rei e não somente aquilo que era proibido pela
Lei. E ainda, esta posição não explica o porquê eles recusaram também o vinho.
A segunda posição é que
a comida era oferecida aos ídolos. E de fato isso ocorria naquele período. Se
este fosse o caso eles estariam também corretos em tomar esta decisão. Mas
novamente, não há no texto qualquer indício de que este tenha sido o motivo. E
se o problema fosse os ídolos em si, por que eles não recusaram os seus novos
nomes? Portanto, esta também não é uma interpretação tão clara para o texto.
Uma terceira posição
parece ser mais coerente com o contexto, e se refere ao perigo da acomodação. A
maneira como o texto fala da comida do rei parece ser atrativa aos quatro
amigos e, de fato, era para ser assim. Parece ser algo bem incomum um rei dar da
sua própria comida para cativos, mesmo que pertencessem à linhagem dos nobres.
Uma olhada um pouco melhor para a Babilônia percebemos que a intensão deles era
sempre de transformar seus cativos em “novos caldeus”. Diferentemente da Pérsia
que incentivava a cultura e a religião das nações subordinadas, a Babilônia
queria transformá-los. Por isso Nabucodonosor
muda os nomes daqueles jovens e ordena que aprendessem a língua e a cultura dos
caldeus. Por serem nobres, eles se tornariam os responsáveis por propagar a
cultura para a sua nação e transformar o restante dos exilados. Eles realmente
tentavam fazer com que eles se esquecessem quem eram, de onde vieram e quem
adoravam. O salmo 137 diz que
eles provocavam o povo a cantar músicas alegres com o propósito de se esquecer
de Jerusalém. No entanto, o salmista revela que ele não cairia no pecado de se
esquecer de Sião, que era a sua terra e seu lar verdadeiro.
A versão Revista e
Atualizada omite a palavra “coração” do texto hebraico. Isso é muito
significativo para uma melhor interpretação, porque mostra que a decisão tomada
por Daniel era uma questão mais interna do que externa. Jesus, certa feita,
ensinou aos seus discípulos que o que contamina o homem não é o que entra, mas
o que sai do coração:
“Então, lhes disse Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos. E dizia O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.18-23).
Este não era um ensino novo, afinal, há vários textos no
antigo Testamento que trazem este ensino. Provérbios 23.3, por exemplo; fala
para tomar cuidado com delicados manjares e comidas enganadoras. Da mesma forma
os salmos falam da necessidade de cuidar do coração para não pecar contra Deus.
E é Jeremias quem vai dizer do perigo do coração corrupto e enganoso.
Assim, o grande perigo
do alimento era a sedução da Babilônia. Daniel e seus amigos não podiam cair na
armadilha de Nabucodonosor e se acomodar àquele país se esquecendo de Sião. Não
é sem motivo que em Apocalipse a Babilônia vai ser o nome dado ao presente
século, um mundo cheio de atrativos para seduzir a igreja e fazê-la esquecer do
seu lar celestial.
E nós?
Assim como Daniel e
seus amigos, nós vivemos num mundo repleto de tentações para nos fazer esquecer
da nossa pátria celestial. O mundo, bem como seu príncipe maligno, quer que
esqueçamos quem somos e quem adoramos. O grande perigo é que muitas vezes não
percebemos suas armadilhas e nos acomodamos à este presente século por causa de
seus atrativos passageiros. O nosso alerta é para
sermos como Daniel e seus amigos, ou seja, sermos firmes em nossos corações
para permanecermos fiéis ao Senhor. É necessário, para isso, pensarmos mais nas
coisas lá do alto, onde Cristo vive e não nas coisas daqui da terra (Cl 3.1-3).
Entendermos que somos forasteiros e peregrinos rumo a Nova Jerusalém. E
enquanto vivemos na Babilônia, aguardemos o dia da nossa restauração completa.
Rev. Felipe Camargo
Via: Púlpito cristão
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