O
desenvolvimento fetal
A partir da nona semana
após a concepção tem início o período fetal, que se estende até o dia do
nascimento, regra geral, 266 dias ou 38 semanas depois da concepção. Esse
período se caracteriza pela maturação de tecidos e órgão e o crescimento rápido
do corpo envolvendo um processo de intenso aprimoramento de todos esses órgãos
e tecidos, que até então possuíam estrutura rudimentar. Uma das mais notáveis
modificações que se verificam nesse período é o desenvolvimento da cabeça do
feto que se torna mais lento em relação ao restante do seu corpo.
Nessa etapa,
o feto já consegue rolar de trás para frente e para todos os lados com
elegância e, de tempos em tempos, dá suaves cambalhotas para trás e para a
frente. As atividades mais modestas são um balanço para os lados. Faz
movimentos preguiçosos com as pernas e escancara os braços. Na nona semana, o
comprimento do feto é de cerca de 30 milímetros. Ao longo do período que vai da
nona semana até a décima segunda semana após a concepção, começa a formação da
urina. Durante o terceiro mês
a face adquire uma aparência “mais humana”. Inicialmente mais laterais, os
olhos agora movem-se ventralmente na face e as orelhas vêm a situar-se próxima
de sua posição definitiva. Os membros atingem seu comprimento relativo em comparação
ao resto do corpo, embora os membros inferiores ainda sejam um pouco mais
curtos e não estejam tão bem desenvolvidos quanto as extremidades superiores.
Centros de ossificação primária estão presentes nos ossos longos e no crânio
por volta da 12ª semana, onde já se consegue determinar o sexo do feto através
do exame de ultrassonografia. Curioso registrar que a genitália externa dos
fetos masculino e feminino tem aparência semelhante até o fim da nona semana.
Funções
da Placenta
Da décima terceira à décima
sexta semana após a concepção, o crescimento do feto se intensifica ainda mais,
graças ao funcionamento pleno da composição placentária. E com esse
crescimento, sua necessidade de fatores nutricionais e outros fatores aumenta,
causando alterações importantes na placenta. A principal dentre estas é um
aumento da área de superfície entre os componentes maternos e fetais, para
facilitar as trocas. A placenta e o cordão umbilical funcionam como um mecanismo
de transporte entre a mãe e o feto. Os nutrientes passam do sangue materno para
o sangue fetal, enquanto as excretas passam do feto para a mãe. A disposição
das membranas fetais também é alterada ao aumentar a produção de líquido
amniótico. Além disso, a placenta ainda tem outras funções, que são
indispensáveis à vida do feto:
Troca de gases:
A troca de gases, como oxigênio, dióxido de carbono e monóxido de carbono é
feita por difusão simples. O feto extrai cerca de 20 a 30 ml de oxigênio por
minuto da circulação materna e qualquer interrupção desse suprimento de
oxigênio é fatal. O fluxo sanguíneo placentário é fundamental para o suprimento
de oxigênio, pois a quantidade de oxigênio que chega ao feto depende
basicamente da entrada e não da difusão. Durante o período uterino, o bebê não respira –
pelo menos não no sentido usual. Ele
recebe todo o oxigênio necessário para as funções do seu organismo através do
chamado sistema circulatório fetal, em que a placenta e o cordão umbilical são
responsáveis por fornecer oxigênio e nutrientes para o desenvolvimento do feto,
bem como pela remoção de produtos residuais. Portanto, o
oxigênio chega pelo sangue da mãe e circula do coração para os pulmões do feto;
em seguida, para fora do corpo. Leia esse artigo sobre a complexidade da primeira respiração.
Troca de Nutrientes e
eletrólitos: A troca de nutrientes e eletrólitos, como aminoácidos, ácidos
graxos livres, carboidratos e vitaminas é rápida e aumenta com o avanço da
gravidez.
Transmissão de
anticorpos maternos: A competência imunológica começa a
desenvolver-se tardiamente no primeiro trimestre, ocasião em que o feto produz
todos os componentes do complemento. As imunoglobulinas consistem quase
totalmente em imunoglobulina materna G (IgG), que começa a ser transportada da
mãe para o feto aproximadamente 14 semanas. Desse modo, o feto adquire uma
imunidade passiva em relação a diversas doenças infecciosas. Os recém-nascidos
começam a produzir sua própria IgG, mas não são atingidos níveis adultos senão
por volta dos três anos de idade.
Produção de hormônios:
No final do quarto mês a placenta produz progesterona em quantidade suficiente
para manter a gravidez se o corpo lúteo for removido ou não funcionar
adequadamente. Com toda a probabilidade os hormônios são sintetizados no
trofoblasto sincicial. Além da progesterona, a placenta produz quantidades
crescente de hormônios estrogênicos, predominantemente estriol, somente até
antes do fim da gravidez, quando é atingido um nível máximo. Esses níveis
elevados de estrógeno estimulam o crescimento uterino e o desenvolvimento das
glândulas mamárias. Além de outros hormônios produzidos pela placenta, não podemos
de deixar de citar a somatomamotrofina ou somatotrofina coriônica humana
(anteriormente lactogênio placentário), substância semelhante ao hormônio de
crescimento, que dá ao feto prioridade sobre a glicose sanguínea materna e
torna a mãe algo diabetogênica. Essa substância também promove o
desenvolvimento da mama para a produção de leite. Infelizmente, muitas drogas e
muitos metabólitos de drogas atravessam a barreira placentária e causam danos
graves ao bebê. Além disso, o uso materno de heroína e cocaína podem causar
hábito no feto.
Cabem aqui algumas perguntas: se o desenvolvimento humano fosse fruto da evolução, como seria possível essa interligação tão perfeita entre a mãe e o bebê pela placenta? Se a placenta, desde o início, não fosse projetada para nutrir e oxigenar o feto, como seria possível sua sobrevivência, visto que uma “placenta primitiva” não conseguiria cumprir com essas funções? A embriologia é uma das maiores provas de que é necessária uma estreita sintonia entre todas as estruturas, tanto da mãe quanto de bebê, para o correto andamento da gestação. Qualquer falha ou mudança gradual nesse processo, o tornaria fatal para a continuação da espécie.
O
crescimento do feto
Nesse período,
inicia-se a ossificação propriamente dita do esqueleto do feto. No término
dessa etapa, a cabeça se torna bem menor se comparada com a do feto de doze
semanas e os membros inferiores já se apresentam mais longos. No feto feminino,
com dezesseis semanas, os ovários estão diferenciados e possuem folículos
primordiais com ovogônias. No período que se estende da décima sétima à
vigésima semana após a concepção, a velocidade de crescimento do feto diminui,
não obstante os membros inferiores atinjam as suas proporções relativas finais
e os movimentos do feto já podem ser percebidos pela mãe.
O feto fica suspenso no
líquido amniótico, que tem a função de: absorver golpes, possibilitar os
movimentos fetais e impedir a aderência do embrião aos tecidos circundantes. O
sistema é tão perfeito e com uma relação tão harmônica, que o feto engole o
líquido amniótico, que é absorvido por meio do seu trato digestivo e eliminado
pela placenta, pois o volume excessivo de líquido amniótico (hidrâmio)
associa-se à anencefalia e atresia esofágica. Já um volume insuficiente do
líquido (oligoidrâmio) está relacionado à agenesia renal.
No feto feminino, com
dezoito semanas, o útero já está formado e se inicia a canalização da vagina. No
feto masculino, com vinte semanas, os testículos começam a descer, mas ainda
estão localizados na parede abdominal posterior. Por volta da vigésima semana
após a concepção, o feto já tem todos os neurônios que terá para sempre em seu
cérebro. São bilhões deles. Essa também é a ocasião em que ele começa a mostrar
variações no número de seus batimentos cardíacos. Da vigésima primeira à
vigésima quinta semana após a concepção, o feto tem um considerável ganho de
peso. O corpo ainda magro, em seu conjunto, já se mostra bem proporcional.
Embora os fetos de vinte e duas a vinte e cinco semanas possam sobreviver, caso
dados à luz prematuramente, eles geralmente sucumbem em razão da imaturidade de
seu sistema respiratório.
Na etapa da trigésima à
trigésima quarta semana após a concepção, a pele rosada do feto deixa de ser enrugada
e os seus membros inferiores e superiores exibem um aspectos mais arredondados.
Da trigésima quinta à trigésima oitava semana, toda a
aparência do feto é rechonchuda, como consequência do depósito de gordura subcutânea e a sua cabeça possui circunferência maior do que qualquer outra parte do
corpo, que é um fator de extrema importância em relação à sua passagem pelo
canal de parto.
Preparado
para nascer
O parto é o processo de
nascimento durante o qual, após a dilatação (aumento) e a obliteração
(achatamento) da cérvix (orifício na base do útero), o feto, a placenta e as membranas
fetais são expelidos do trato reprodutivo da mãe. Com o nascimento,
estabelece-se uma mudança radical no ambiente existencial do ser humano dado à
luz. O bebê passa a obter alimentos pela boca e oxigênio através dos pulmões.
Esta mudança, entretanto, exige adaptações e não rompimentos. Os pulmões, por
exemplo, não são “funcionais” durante a vida pré-natal, já que o sistema
cardiovascular do feto é estruturalmente projetado de modo que o sangue seja
oxigenado na placenta. Assim, as modificações que estabelecem o padrão
circulatório pós-natal não são abruptas, mas estendem-se ao longo da primeira
infância.
Nas primeiras 34 a 38
semanas de gestação, o miométrio uterino não responde a sinais para o parto (nascimento).
Durante as duas a quatro últimas semanas da gravidez, porém, esse tecido passa
por uma fase de transição em preparação para o início do trabalho de parto.
Essa fase terminal afinal com o miométrio na região superior do útero mais
espesso, enquanto na região inferior e no colo ele é mais mole e mais fino.
Quando o útero se contrai a parte superior se retrai, produzindo uma luz cada
vez menor, enquanto a parte inferior se expande, dando assim direção à força.
As contrações se iniciam geralmente e intervalos de cerca de 10 minutos. Mas
durante o segundo estágio do trabalho de parto podem ocorrer em intervalos de
menos de um minuto e durar de 30 a 90 segundos. Sua ocorrência em pulsos é
essencial para a sobrevida fetal, pois elas têm força suficiente para
comprometer o fluxo sanguíneo uteroplacentário para o feto.
É interessante
pontuarmos, que durante a fase fetal, os ossos do bebê continuam a endurecer,
exceto os do crânio, que se mantêm macios e flexíveis. Isso irá permitir que,
no parto eles se sobreponham durante a passagem da cabeça do bebê pelo canal
vaginal. Por seu turno, os ossos mantêm-se separados por uma zona membranosa
flexível, a que se chama fontanelas (moleiras), até sensivelmente os dois anos
de idade, período em que se finaliza a ossificação. Sem esse engenhoso mecanismo
os bebês não conseguiriam passar pelo canal vaginal. Além disso, o corpo da
mulher produz um hormônio chamado relaxina, que causa um amolecimento das
articulações pélvicas e das suas cápsulas articulares, o que dá a flexibilidade
necessária para o parto, diminuindo a união dos ossos da pelve e alargando o
canal de passagem do feto. Assim, a pelve da mulher também dilata para permitir
a passagem do bebê. Para facilitar ainda mais o parto, o recém-nascido nasce
coberto por um material esbranquiçado e gorduroso denominado vérnix caseosa.
Ele ajuda a diminuir o atrito, facilitando a saída do bebê através do canal do
parto, e também funciona como uma barreira de proteção contra bactérias e fungos
e na termo regulação. Prova incontestável de um projeto muito bem elaborado!
É importante lembrar
que os órgãos reprodutivos da mulher têm uma capacidade elástica muito grande.
O útero vazio não mede mais de 8cm de diâmetro, e se expande para sustentar um
bebê, sua placenta e líquido amniótico, que às vezes passam dos cinco quilos. A
vagina da mulher também faz coisas incríveis. É um espaço virtualmente
inexistente, ou seja, só existe quando preenchido. Quando não tem nada dentro,
as paredes da vagina se tocam. E ela se adapta exatamente à forma e ao tamanho
do que a preenche, inclusive um bebê! Mãe e bebê vão adaptar seus corpos para o
nascimento, e ambos são feitos de forma que seus corpos voltem ao normal
depois.
A ocitocina endógena,
que estava sendo produzida em grandes quantidades para aliviar a dor, agora
está sendo produzida sem que haja dor, e acontece o que se chama de pico de
ocitocina. Esse pico de ocitocina produz uma sensação de imenso amor e prazer,
a sensação de se apaixonar, que, juntamente com o alívio pela dor ter acabado e
da alegria pela chegada do bebê. Pai e mãe, agora podem tomar o novo ser nos
braços e contemplar mais uma fascinante obra prima, com a assinatura de um designer.
Esse vídeo resume todo o processo, desde a concepção:
Prof. Saulo Nogueira
Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM.
Referências:
Referências:
Sadler, TW. Langman Fundamentos de embriologia
médica. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.
MOORE, Keith L. Embriologia básica. Tradução de
Fernando Simão Vugman. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1991.
HARRISON, R. G. Clinical embryology. Embriologia
clínica. Tradução de Patrícia Lydie Voeux Pinho. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1980.
SILVA, Reinaldo Pereira. Reflexões éticas sobre o
estatuto da Vida: Uma abordagem político-jurídica da concepção humana (Tese
apresentada ao curso de pós-graduação em direito para a obtenção do título de
Doutor em Direito), disponível em
file:///D:/Meus%20documentos/Downloads/179126%20(1).pdf
file:///D:/Meus%20documentos/Downloads/179126%20(1).pdf
http://www.criacionismo.com.br/2015/07/a-primeira-respiracao-do-bebe-e.html;
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