quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Embriologia e design inteligente (parte 3)

                O desenvolvimento fetal

     A partir da nona semana após a concepção tem início o período fetal, que se estende até o dia do nascimento, regra geral, 266 dias ou 38 semanas depois da concepção. Esse período se caracteriza pela maturação de tecidos e órgão e o crescimento rápido do corpo envolvendo um processo de intenso aprimoramento de todos esses órgãos e tecidos, que até então possuíam estrutura rudimentar. Uma das mais notáveis modificações que se verificam nesse período é o desenvolvimento da cabeça do feto que se torna mais lento em relação ao restante do seu corpo. 

       Nessa etapa, o feto já consegue rolar de trás para frente e para todos os lados com elegância e, de tempos em tempos, dá suaves cambalhotas para trás e para a frente. As atividades mais modestas são um balanço para os lados. Faz movimentos preguiçosos com as pernas e escancara os braços. Na nona semana, o comprimento do feto é de cerca de 30 milímetros. Ao longo do período que vai da nona semana até a décima segunda semana após a concepção, começa a formação da urina. Durante o terceiro mês a face adquire uma aparência “mais humana”. Inicialmente mais laterais, os olhos agora movem-se ventralmente na face e as orelhas vêm a situar-se próxima de sua posição definitiva. Os membros atingem seu comprimento relativo em comparação ao resto do corpo, embora os membros inferiores ainda sejam um pouco mais curtos e não estejam tão bem desenvolvidos quanto as extremidades superiores. Centros de ossificação primária estão presentes nos ossos longos e no crânio por volta da 12ª semana, onde já se consegue determinar o sexo do feto através do exame de ultrassonografia. Curioso registrar que a genitália externa dos fetos masculino e feminino tem aparência semelhante até o fim da nona semana.

Funções da Placenta

       Da décima terceira à décima sexta semana após a concepção, o crescimento do feto se intensifica ainda mais, graças ao funcionamento pleno da composição placentária. E com esse crescimento, sua necessidade de fatores nutricionais e outros fatores aumenta, causando alterações importantes na placenta. A principal dentre estas é um aumento da área de superfície entre os componentes maternos e fetais, para facilitar as trocas. A placenta e o cordão umbilical funcionam como um mecanismo de transporte entre a mãe e o feto. Os nutrientes passam do sangue materno para o sangue fetal, enquanto as excretas passam do feto para a mãe. A disposição das membranas fetais também é alterada ao aumentar a produção de líquido amniótico. Além disso, a placenta ainda tem outras funções, que são indispensáveis à vida do feto:

Troca de gases: A troca de gases, como oxigênio, dióxido de carbono e monóxido de carbono é feita por difusão simples. O feto extrai cerca de 20 a 30 ml de oxigênio por minuto da circulação materna e qualquer interrupção desse suprimento de oxigênio é fatal. O fluxo sanguíneo placentário é fundamental para o suprimento de oxigênio, pois a quantidade de oxigênio que chega ao feto depende basicamente da entrada e não da difusão. Durante o período uterino, o bebê não respira – pelo menos não no sentido usual.  Ele recebe todo o oxigênio necessário para as funções do seu organismo através do chamado sistema circulatório fetal, em que a placenta e o cordão umbilical são responsáveis por fornecer oxigênio e nutrientes para o desenvolvimento do feto, bem como pela remoção de produtos residuais. Portanto, o oxigênio chega pelo sangue da mãe e circula do coração para os pulmões do feto; em seguida, para fora do corpo. Leia esse artigo sobre a complexidade da primeira respiração.

Troca de Nutrientes e eletrólitos: A troca de nutrientes e eletrólitos, como aminoácidos, ácidos graxos livres, carboidratos e vitaminas é rápida e aumenta com o avanço da gravidez.

Transmissão de anticorpos maternos: A competência imunológica começa a desenvolver-se tardiamente no primeiro trimestre, ocasião em que o feto produz todos os componentes do complemento. As imunoglobulinas consistem quase totalmente em imunoglobulina materna G (IgG), que começa a ser transportada da mãe para o feto aproximadamente 14 semanas. Desse modo, o feto adquire uma imunidade passiva em relação a diversas doenças infecciosas. Os recém-nascidos começam a produzir sua própria IgG, mas não são atingidos níveis adultos senão por volta dos três anos de idade.

Produção de hormônios: No final do quarto mês a placenta produz progesterona em quantidade suficiente para manter a gravidez se o corpo lúteo for removido ou não funcionar adequadamente. Com toda a probabilidade os hormônios são sintetizados no trofoblasto sincicial. Além da progesterona, a placenta produz quantidades crescente de hormônios estrogênicos, predominantemente estriol, somente até antes do fim da gravidez, quando é atingido um nível máximo. Esses níveis elevados de estrógeno estimulam o crescimento uterino e o desenvolvimento das glândulas mamárias. Além de outros hormônios produzidos pela placenta, não podemos de deixar de citar a somatomamotrofina ou somatotrofina coriônica humana (anteriormente lactogênio placentário), substância semelhante ao hormônio de crescimento, que dá ao feto prioridade sobre a glicose sanguínea materna e torna a mãe algo diabetogênica. Essa substância também promove o desenvolvimento da mama para a produção de leite. Infelizmente, muitas drogas e muitos metabólitos de drogas atravessam a barreira placentária e causam danos graves ao bebê. Além disso, o uso materno de heroína e cocaína podem causar hábito no feto.

       Cabem aqui algumas perguntas: se o desenvolvimento humano fosse fruto da evolução, como seria possível essa interligação tão perfeita entre a mãe e o bebê pela placenta? Se a placenta, desde o início, não fosse projetada para nutrir e oxigenar o feto, como seria possível sua sobrevivência, visto que uma “placenta primitiva” não conseguiria cumprir com essas funções? A embriologia é uma das maiores provas de que é necessária uma estreita sintonia entre todas as estruturas, tanto da mãe quanto de bebê, para o correto andamento da gestação. Qualquer falha ou mudança gradual nesse processo, o tornaria fatal para a continuação da espécie.

O crescimento do feto

     Nesse período, inicia-se a ossificação propriamente dita do esqueleto do feto. No término dessa etapa, a cabeça se torna bem menor se comparada com a do feto de doze semanas e os membros inferiores já se apresentam mais longos. No feto feminino, com dezesseis semanas, os ovários estão diferenciados e possuem folículos primordiais com ovogônias. No período que se estende da décima sétima à vigésima semana após a concepção, a velocidade de crescimento do feto diminui, não obstante os membros inferiores atinjam as suas proporções relativas finais e os movimentos do feto já podem ser percebidos pela mãe.

     O feto fica suspenso no líquido amniótico, que tem a função de: absorver golpes, possibilitar os movimentos fetais e impedir a aderência do embrião aos tecidos circundantes. O sistema é tão perfeito e com uma relação tão harmônica, que o feto engole o líquido amniótico, que é absorvido por meio do seu trato digestivo e eliminado pela placenta, pois o volume excessivo de líquido amniótico (hidrâmio) associa-se à anencefalia e atresia esofágica. Já um volume insuficiente do líquido (oligoidrâmio) está relacionado à agenesia renal.

     No feto feminino, com dezoito semanas, o útero já está formado e se inicia a canalização da vagina. No feto masculino, com vinte semanas, os testículos começam a descer, mas ainda estão localizados na parede abdominal posterior. Por volta da vigésima semana após a concepção, o feto já tem todos os neurônios que terá para sempre em seu cérebro. São bilhões deles. Essa também é a ocasião em que ele começa a mostrar variações no número de seus batimentos cardíacos. Da vigésima primeira à vigésima quinta semana após a concepção, o feto tem um considerável ganho de peso. O corpo ainda magro, em seu conjunto, já se mostra bem proporcional. Embora os fetos de vinte e duas a vinte e cinco semanas possam sobreviver, caso dados à luz prematuramente, eles geralmente sucumbem em razão da imaturidade de seu sistema respiratório.

       Na etapa da trigésima à trigésima quarta semana após a concepção, a pele rosada do feto deixa de ser enrugada e os seus membros inferiores e superiores exibem um aspectos mais arredondados. Da trigésima quinta à trigésima oitava semana, toda a aparência do feto é rechonchuda, como consequência do depósito de gordura subcutânea e a sua cabeça possui circunferência maior do que qualquer outra parte do corpo, que é um fator de extrema importância em relação à sua passagem pelo canal de parto.

Preparado para nascer

       
       O parto é o processo de nascimento durante o qual, após a dilatação (aumento) e a obliteração (achatamento) da cérvix (orifício na base do útero), o feto, a placenta e as membranas fetais são expelidos do trato reprodutivo da mãe. Com o nascimento, estabelece-se uma mudança radical no ambiente existencial do ser humano dado à luz. O bebê passa a obter alimentos pela boca e oxigênio através dos pulmões. Esta mudança, entretanto, exige adaptações e não rompimentos. Os pulmões, por exemplo, não são “funcionais” durante a vida pré-natal, já que o sistema cardiovascular do feto é estruturalmente projetado de modo que o sangue seja oxigenado na placenta. Assim, as modificações que estabelecem o padrão circulatório pós-natal não são abruptas, mas estendem-se ao longo da primeira infância. 


     Nas primeiras 34 a 38 semanas de gestação, o miométrio uterino não responde a sinais para o parto (nascimento). Durante as duas a quatro últimas semanas da gravidez, porém, esse tecido passa por uma fase de transição em preparação para o início do trabalho de parto. Essa fase terminal afinal com o miométrio na região superior do útero mais espesso, enquanto na região inferior e no colo ele é mais mole e mais fino. Quando o útero se contrai a parte superior se retrai, produzindo uma luz cada vez menor, enquanto a parte inferior se expande, dando assim direção à força. As contrações se iniciam geralmente e intervalos de cerca de 10 minutos. Mas durante o segundo estágio do trabalho de parto podem ocorrer em intervalos de menos de um minuto e durar de 30 a 90 segundos. Sua ocorrência em pulsos é essencial para a sobrevida fetal, pois elas têm força suficiente para comprometer o fluxo sanguíneo uteroplacentário para o feto.

     É interessante pontuarmos, que durante a fase fetal, os ossos do bebê continuam a endurecer, exceto os do crânio, que se mantêm macios e flexíveis. Isso irá permitir que, no parto eles se sobreponham durante a passagem da cabeça do bebê pelo canal vaginal. Por seu turno, os ossos mantêm-se separados por uma zona membranosa flexível, a que se chama fontanelas (moleiras), até sensivelmente os dois anos de idade, período em que se finaliza a ossificação. Sem esse engenhoso mecanismo os bebês não conseguiriam passar pelo canal vaginal. Além disso, o corpo da mulher produz um hormônio chamado relaxina, que causa um amolecimento das articulações pélvicas e das suas cápsulas articulares, o que dá a flexibilidade necessária para o parto, diminuindo a união dos ossos da pelve e alargando o canal de passagem do feto. Assim, a pelve da mulher também dilata para permitir a passagem do bebê. Para facilitar ainda mais o parto, o recém-nascido nasce coberto por um material esbranquiçado e gorduroso denominado vérnix caseosa. Ele ajuda a diminuir o atrito, facilitando a saída do bebê através do canal do parto, e também funciona como uma barreira de proteção contra bactérias e fungos e na termo regulação. Prova incontestável de um projeto muito bem elaborado!

        É importante lembrar que os órgãos reprodutivos da mulher têm uma capacidade elástica muito grande. O útero vazio não mede mais de 8cm de diâmetro, e se expande para sustentar um bebê, sua placenta e líquido amniótico, que às vezes passam dos cinco quilos. A vagina da mulher também faz coisas incríveis. É um espaço virtualmente inexistente, ou seja, só existe quando preenchido. Quando não tem nada dentro, as paredes da vagina se tocam. E ela se adapta exatamente à forma e ao tamanho do que a preenche, inclusive um bebê! Mãe e bebê vão adaptar seus corpos para o nascimento, e ambos são feitos de forma que seus corpos voltem ao normal depois.

       A ocitocina endógena, que estava sendo produzida em grandes quantidades para aliviar a dor, agora está sendo produzida sem que haja dor, e acontece o que se chama de pico de ocitocina. Esse pico de ocitocina produz uma sensação de imenso amor e prazer, a sensação de se apaixonar, que, juntamente com o alívio pela dor ter acabado e da alegria pela chegada do bebê. Pai e mãe, agora podem tomar o novo ser nos braços e contemplar mais uma fascinante obra prima, com a assinatura de um designer. 



Esse vídeo resume todo o processo, desde a concepção:



Prof. Saulo Nogueira

Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM.

Referências:

Sadler, TW. Langman Fundamentos de embriologia médica. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.

MOORE, Keith L. Embriologia básica. Tradução de Fernando Simão Vugman. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1991.

HARRISON, R. G. Clinical embryology. Embriologia clínica. Tradução de Patrícia Lydie Voeux Pinho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1980.

SILVA, Reinaldo Pereira. Reflexões éticas sobre o estatuto da Vida: Uma abordagem político-jurídica da concepção humana (Tese apresentada ao curso de pós-graduação em direito para a obtenção do título de Doutor em Direito), disponível em 
file:///D:/Meus%20documentos/Downloads/179126%20(1).pdf

http://www.criacionismo.com.br/2015/07/a-primeira-respiracao-do-bebe-e.html;




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