segunda-feira, 30 de junho de 2014

Os cristãos e as pirâmides financeiras

     A deturpação atual do evangelho foi crucial para que diversos evangélicos em várias cidades do país se tornassem presas fáceis de uma nova modalidade da teologia da prosperidade: os esquemas fraudulentos gospel. As famosas pirâmides financeiras, que no passado quebraram muita gente, voltaram com a capa do marketing multinível e com uma mensagem de meias verdades cristãs. Donos dessas companhias criminosas e líderes de negócios, usam, muitas vezes, a Bíblia e o nome de Deus para tentar legitimar e dar credibilidade as atividades suspeitas. Pregações típicas de igrejas que prometem bênçãos materiais estão na boca de líderes desses golpes. O pior: algumas dessas pessoas, responsáveis por chefiar grupos de recrutamento, são pastores de diversas denominações ditas cristãs. E isso não é exclusividade das comunidades neopentecostais. Há relatos de “ministros da palavra de Deus” – de igrejas histórias, como Batistas, por exemplo –, que cadastraram todos (ou quase) os membros nos esquemas criminosos.

“Pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.” 1 Timóteo 6.10

     A sensação que tenho é que as revelações bíblicas sobre os falsos profetas se encaixam muito bem a esse momento em que vivemos. Estamos cercados de líderes e de crentes “golpistas” que adequam o evangelho com a intenção de atender aos seus interesses humanos. Tudo vale para ganhar dinheiro. Alguns não percebem que estão vendendo a “alma ao Diabo” e se afastando da essência de Jesus.

“Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões.” 2 Pedro 3.3 

     Recentemente, um representante de uma das empresas suspeitas de pirâmide chegou a dizer que os associados foram “chamados” e “escolhidos” por Deus para revolucionar o mundo. Essa “pregação”, exibida no Youtube, mostra que está surgindo uma nova doutrina: o “calvinismo de pirâmide”.
     Mas afinal, o que é pirâmide financeira e por que o negócio é ilegal? Esse tipo de atividade é considerado crime contra a economia popular. Para que alguns tenham lucro outros precisam perder. Somente as pessoas que estão no topo da pirâmide, ou seja, aquelas que lideram uma grande rede social (networking), conseguem enriquecer. Alguns esquemas conseguem sobreviver por muitos anos, porém, a maioria quebra rápido, devido à dificuldade de recrutar novos participantes. Um dos golpes mais famosos, que viveu seu auge em 2011 e que fechou as portas em 2012 depois de intervenções da polícia, além de prejuízo financeiro, causou até a dissolução de algumas igrejas. Quando o negócio quebrou, as “ovelhas” viram seus investimentos serem perdidos e os pastores, envergonhados, tiveram que largar o “chamado”. Também há pastores que deixaram de lado o trabalho de evangelização para seguir carreira no marketing multinível de pirâmide, cadastrando pessoas por aí, sem se preocupar se são atividades ilícitas ou não.

"Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". Lucas 16:13

     Além de pastores e líderes, muitos “evangélicos”, membros de igreja, se deixaram levar pelas pirâmides e vivem por aí como zumbis, completamente cegos, tentando recrutar outros irmãos para os negócios. E assim como ocorre nas pregações da teologia da prosperidade, essas pessoas “gritam” nas redes sociais que o “negócio vai dar lucro em nome de Jesus”. Essa gente, inclusive, não aceita ser exortada, não aceita ser alertada e usa dos mesmos mecanismos de defesa dos neopentecostais: “não jugueis e não serem julgados”. Ou pior: “Você está com inveja porque sou mais abençoado que você”. Alguns se deixam levar por mensagens vingativas: “Deus vai cobrar de você por estar me criticando”.

“Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte. Tiago 1:14-15

     O que a Bíblia fala de tudo isso? Pode ter certeza que Deus não aprova atividades ilícitas. Mesmo que você ore, se estiver fazendo algo errado, Deus não vai abençoar. Escutem isso, geração má e perversa. A Palavra de Deus é clara ao dizer ao homem que para sobreviver é preciso trabalhar. “Dinheiro ganhado de maneira fácil” não é coisa do Senhor é crime. É importante prestar atenção que na vida cristã não há espaço para atividades criminosas. Temos que buscar a santificação e mostrar que formos separados por Deus para te uma nova vida, longe das coisas carnais. O verdadeiro Evangelho transformas pessoas e as afasta dos desejos mundanos. Se vivemos atrelados aos desejos da carne, temos que ter consciência de que não fomos transformados e estamos vivendo uma falsa vida em Cristo. O resultado disso é a morte espiritual.  Participar de golpes financeiros e tentar legitimá-los a partir das Escrituras demonstra idolatria e amor ao dinheiro. Se esse é seu caso, clame ao Senhor e peça-o para ter misericórdia de você. Ganância é um pecado mortal, que leva o homem a ser escravo de desejos escabrosos.

“Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória. Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria. É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência, as quais vocês praticaram no passado, quando costumavam viver nelas. Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.” Colossenses 3.4-10

     Para concluir, quero deixar algo claro: não dá para acender uma vela para Deus e outra para o Diabo. Ou seja, não dá para ser servo de Deus e piramideiro. Também não dá para ser pastor e “faraó”. São coisas incompatíveis. Jesus sempre alertou que não podemos servir a dois senhores. Vamos abrir os olhos. Deus nos chama para ser santos, viver em santidade, longe de falcatruas e de golpes gospel.

“Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 3:15-17 e 22

Fiquem atentos: Jesus disse: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho. Ele não diz: “Ide por todo o mundo, recrute toda a criatura para as pirâmides gospel”.

Mikaella Campos

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Caio Fábio e seu "papo de graça"

     Caio Fábio foi um dos maiores pregadores da década de 80, um exímio anunciador das Boas Novas e também um grande professor. Mas ultimamente, ele tem se envolvido em grandes polêmicas e tem sido acusado de propagar heresias no seio da Igreja. O que se percebe, por essa entrevista e outras, é que o citado pastor guarda dentro de si uma grande amargura da igreja, talvez devido ao fato da época em que ele "caiu", muitos o empurraram ainda mais para baixo. Esqueceram tudo de bom que ele fez pela Igreja, o demonizaram e o apedrejaram sem nenhuma misericórdia. Talvez Caio tenha percebido que o amor, que é a base da vida cristã, ainda esteja mais nos lábios das pessoas do que na prática cotidiana. 

     Tenho que ser sincero. Infelizmente em alguns pontos eu tenho que concordar com ele. O número de analfabetos bíblicos na atualidade é alarmante. Com todo acesso a excelentes livros, físicos ou em mídia, dicionários bíblicos, a própria internet, onde se você souber onde pesquisar, você será grandemente edificado, só não consegue conhecimento quem de fato não quer. A maioria das pessoas não se preocupam com as questões primordiais e básicas da fé cristã, não conhecem e muito menos se preocupam em conhecer a história da Igreja, os grandes líderes e pregadores, pensadores cristãos e seus erros e acertos. Não! Preferem livros de auto ajuda, ou caixinha de promessas, que como disse  Caio Fábio, versículos pinçados, sem contexto, que trazem uma mensagem incompleta e corrompida da Palavra.

   De forma alguma quero ser melhor que ninguém, muito menos me gloriar disso. Mas eu estudo praticamente todos os dias, dou aula em seminário, dou estudo e prego na igreja, mesmo assim, tenho a plena convicção de que nada sei e tenho muito ainda que aprender. Mas prossigo buscando aprender, não para me gloriar de saber, mas para ser usado pelo Senhor para instruir sua Igreja e levá-la ao conhecimento da Verdade e do Nosso Senhor Jesus Cristo.Se ele crê que a igreja, mais do que nunca, precisa de mestres e professores, ele deveria permanecer, com todo ímpeto como antes, a ensiná-la, exortá-la e edificá-la com seu vasto conhecimento. Dizer de forma arrogante e altiva, como ele faz, que os crentes de hoje são imbecis, manipulados, marionetes de líderes e abjeta (para quem não sabe, significa de baixa moralidade, ignóbil e desprezível), não vai mudar em nada o quadro clínico daqueles que necessitam da Graça de Deus.

     O grande problema do discurso do Caio Fábio é a generalização, onde ele coloca todas as igrejas no mesmo balaio de gato, sem ao menos defender aquelas que ainda prezam pela Verdade do Evangelho Santo. Percebe-se que sua grande mágoa, e onde ele ataca mais frontalmente é o movimento Neo pentecostal, e o encabeçador dessa lista é o Bispo Edir Macedo. Falta ao irmão Caio, um pouco mais de Amor. O mesmo pecado que ele acusa a igreja de ter cometido, ele mesmo comete. Falta-lhe misericórdia e o amor. Não digo que não podemos atacar os erros da igreja (com "i" minúsculo), mas tudo deve ser feito por princípios pautados no amor, respeito e zelo. Ele despir a igreja da forma que ele fez no programa, só escandaliza ao invés de edificar alguém.

Oremos por ele, para que ele lembre-se onde caiu, (pois o problema não foi só o adultério, mas a mágoa que ainda mora no seu coração) se arrependa e volte ao primeiro amor.

"Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal." (Provérbios 3:7)

Ps: Em relação as informações polêmicas que ele deu sobre o Dilúvio, Ets, gigantes, etc, se Deus permitir, farei posts sobre esses assuntos em tempo oportuno.

Prof. Saulo Nogueira

terça-feira, 24 de junho de 2014

Igreja Presbiteriana dos EUA autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo

pastores comemoram decisão após assembléia geral da igreja em Detroit
David Guranilk/AP
A questão do casamento gay continua dividindo denominações inteiras. A exemplo do que já aconteceu com anglicanos, luteranos e metodistas, agora são os presbiterianos dos EUA que testemunham uma ruptura teológica e moral por causa dessa questão.
Desde meados do ano passado, quando a Suprema Corte americana invalidou a chamada “Lei de Defesa do Casamento”, a definição de matrimônio não é mais união de um homem e uma mulher. Dezenove dos 50 estados americanos, mais a capital Washington, oficializaram o casamento de pessoas do mesmo sexo. Sua aceitação já contabiliza 55% dos americanos segundo uma recente pesquisa do Instituto Gallup.
A Assembleia Geral da Igreja presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA), formada por 10.000 congregações, totalizando cerca de 1,8 milhão de fiéis, autorizou a realização de casamentos entre homossexuais. Mais de dois terços dos delegados reunidos na cidade de Detroit votaram a favor. A parcela que ficou contra já ensaia uma debandada, algo que vem acontecendo nas últimas décadas nessa que já foi uma das mais importantes denominações americanas.
Para a maior parte da liderança, a decisão foi chamada de “um avanço”. A Constituição da denominação afirma agora que “casamento implica um compromisso único entre duas pessoas”. O documento justifica ainda que “Cristo morreu para que pudéssemos ser reconciliados”.
Curiosamente, na véspera dessa decisão, milhares de pessoas se reuniram em Washington para realizar um movimento em favor do matrimônio tradicional. Denominada “Marcha pelo Casamento”, teve a participação de políticos importantes e líderes católicos e evangélicos. “O casamento deve ser protegido porque as crianças precisam cada vez mais de um pai e uma mãe”, afirmou Brian Brown, presidente da Organização Nacional para o Casamento.
Para o pastor presbiteriano brasileiro Augustus Nicodemus, a denominação nos EUA “traiu o Cristianismo bíblico”. “Esse é mais um passo na direção da apostasia, desde que a PCUSA entrou pelo caminho do liberalismo teológico”, escreveu ele em um longo texto em seu site. Fazendo ainda questão de esclarecer que essa denominação norte-americana “nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil”.
Nicodemus deixa um alerta “O campo está sendo preparado no Brasil para que em breve evangélicos passem a considerar a homossexualidade como sendo uma questão pessoal e secundária, abrindo assim a porta para ordenação de gays e lésbicas praticantes ao ministério da Palavra e para a realização de casamento gay nas igrejas evangélicas”. Com informações Religion News.
Fonte: Gospel Prime
Nota: Infelizmente, essa é apenas uma das aberrações teológicas que a "igreja" tem pregado. Como disse o Rev. Augustus Nicodemus Lopes, o grande vilão dessa história é Liberalismo Teológico e o método de interpretação Histórico-Crítico (fruto do Racionalismo e do Iluminismo), que invadiu os seminários evangélicos, abrindo precedentes para todo tipo de heresia. Nós professores temos que ficar atentos aos modismos e ventos de doutrina, fantasiadas de dourinas verdadeiras, que vão minando as Inerrância da Palavra de Deus e deixando-a vulnerável a qualquer interpretação.
Oremos. 
Prof. Saulo Nogueira

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Cientistas descobrem oceano perto do núcleo da Terra

Pesquisadores descobriram, após décadas de estudos, que um vasto reservatório de água — suficiente para encher os oceanos da Terra três vezes — pode estar escondido quilômetros abaixo da superfície. A novidade, publicada na Science, tem chances de transformar a atual compreensão de como foi formado o planeta. Em março deste ano, cientistas já haviam divulgado evidências deste enorme reservatório.
       A água estaria "trancada" em um mineral chamado ringwoodite, cerca de 660 quilômetros abaixo da crosta terrestre. Os pesquisadores se basearam no estudo de uma região que se estende no subsolo dos Estados Unidos. O mineral em que está a água costuma agir como uma esponja, em razão de sua estrutura cristalina.
       Se apenas 1% da rocha for água, já seria o equivalente a quase três vezes a quantidade de água nos oceanos. A pesquisa, informou o Guardian, utilizou dados do USArray, uma rede de sismógrafos americana, que mede as vibrações de terremotos. Segundo o geofísico responsável pela iniciativa, Steve Jacobsen, da Universidade Northwestern, a descoberta sugere que a água da Terra pode ter vindo de seu interior, impulsionada para a superfície pela atividade geológica — em vez de ter sido trazida por cometas congelados.
"Acho que estamos finalmente vendo evidências de um ciclo de água na Terra, o que pode ajudar a explicar a grande quantidade de água em estado líquido na superfície do nosso planeta", diz Jacobsen.
    Em entrevista à New Scientist, o pesquisador afirmou que a água escondida também poderia estar agindo como um amortecedor para os oceanos na superfície. "Se [a água armazenada] não estivesse lá, estaria sobre a superfície da Terra, e o topo das montanhas seriam o único solo para fora."
Fonte : Galileu
Nota: Percebemos nessa pesquisa a confirmação da narrativa do Livro de Gênesis que diz que as águas do Dilúvio vieram primeiramente de baixo:
"No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram" (Gênesis 7:11)
      A movimentação das placas tectônicas, devido ao grande cataclista global, fez com que essas águas fossem impulsionada para a superfície pela atividade geológica, cobrindo os picos mais altos, que talvez fossem mais baixos que atualmente. Após o período da grande inundação, as águas retornaram ao seu lugar de origem , deixando a terra com a atual configuração.
"E as águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra, e ao fim de cento e cinqüenta dias minguaram. (Gênesis 8:3)
Prof. Saulo Nogueira.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A boca fala do que o coração está cheio



       A Copa do Mundo está a mil no Brasil e apesar da grande festa, não deixam de existir manifestações e críticas por parte de pessoas, vídeos e instituições. Eu particularmente não tenho uma grande fixação por Futebol e nem "torcedor" de verdade eu sou. Mas eu assisto os jogos da Copa. Nenhuma incoerência nisso: a copa foi paga com dinheiro público. Paguei, logo assisto. Dona Dilma deu uma de boa anfitriã aprovando isenção total de impostos para bens e serviços à Fifa, que significa deixar de arrecadar mais de 1 bilhão de Reais em impostos. mas quem se importa? Tem o brasileiro pra pagar as contas. Faço das palavras da blogueira Lya Alves as minhas:  
"Fico tentando entender o papel da igreja nesse país. Nada contra assistir os jogos, lazer é um direito constitucional. Nada contra vestir a camisa e ser patriota, nesmo com a palavra "pátria" esvaziada de seu sentido. Oque me preocupa é entrar na dança junto com os escarnecedores. Tanta gente que fez tanto "ato profético" e esperneou dizendo que o Brasil não seria mais conhecido como o "país do futebol" nos anos 90 hoje enfeita a igreja pra copa, põe telão e chama o povo pra ver e participar do Pão&Circo. Qualquer semelhança com as churrascarias é mera coincidência."
Mas o que tem me chamado atenção nos últimos dias e você verá no vídeo postado é que o futebol tem se tornado uma religião. Isso mesmo: Religião. Com seus Templos, ídolos e fiéis. Com direito a reis e deuses. E é uma religião organizada, onde a FIFA é a Igreja, com seu líder infalível, obrigando as pessoas a gastarem o dinheiro que elas não tem para a construção de majestosas catedrais (estádios). O mais triste é ver cristãos se envolvendo profundamente com essa instituição, participando de bolões, gastando rios de dinheiro com camisas (falsificadas, é claro) e ingressos, se endividando para comprar a maior TV do mercado, só para assistir ao futebol. Não estou dizendo que é pecado um crente assistir aos jogos da Copa do Mundo, de forma alguma. Eu assisti o jogo da Seleção também. Vamos deixar de hipocrisia. O problema é que a Copa tem criado uma distração sem precedentes aos crentes, onde só se ouve dos seus lábios como foi a última partida, quem ganhou, qual foi o resultado do último jogo. Só se fala em Copa do Mundo. Estamos tremendamente acomodados.

       Ah! Quão bom seria se houvesse esse mesmo ímpeto para se falar da Obra Redentora do Senhor, seu Amor, falar sobre a Bíblia, seus ensinamentos e sua história. Pergunte a alguns cristãos, por exemplo, o que eles sabem a respeito dos Profetas Menores, o nome de alguns deles e você perceberá uma tremenda ignorância de alguns irmãos acerca dessa coisas. Mas tenho certeza que sabem de cor a escalação da Seleção da Nigéria ou do Irã. A boca fala do que o coração está cheio. Há tempo pra tudo. Tempo pra diversão, tempo de ler a Bíblia, tempo de trabalhar, de comer e de dormir. Esse não é problema. O problema está em quais estão sendo nossas prioridades. Se nossa boca só fala de Seleção Brasileira, está na hora de desligarmos um pouco a TV e ler um pouco mais a Palavra de Deus ou lermos um bom livro. Aí sim de fato seremos edificados.

Jesus disse na parábola das dez virgens, que todas estavam dormindo, mas as prudentes carregavam uma porção extra de azeite e estavam preparadas. Nem toda aquela luz e azeite as impediram de dormir. Infelizmente, estamos todos dormindo, mas quem vai acordar? Jesus não esta nos estádios, mas está onde sempre esteve: ajudando os pobres e fazendo justiça. E você, onde está?

Paz à todos que estão em Cristo

Prof. Saulo Nogueira 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Implicações da Lei da Palmada

Quando Julia tinha aproximadamente seis anos ela começou a chegar com coisinhas da escola. Era um lápis, um apontador, uma borracha, uma canetinha diferente... Para ela, não passava de algo bonito. Para a criança, o senso de propriedade não é como no adulto. E as crianças também não têm o sentimento de apego irrefreável às coisas que nós, os adultos, normalmente temos. Uma criança pode dar e tirar sem constrangimento algum. Pois bem. Num certo momento, Cláudia e eu achamos que precisávamos conversar com ela. Explicamos que aquelas coisas não lhe pertenciam, que o coleguinha, e sua mãe, iriam sentir falta delas, e que ela precisava refrear o desejo de querer pegá-las para si. Ela argumentou que todos os colegas faziam isso, inclusive pegavam as coisas dela, o que era verdade. Mas nós explicamos que, apesar de as outras crianças agirem daquela forma, não era certo fazer assim. Não me lembro bem, mas acredito que conversamos com ela, no quarto dela, umas três vezes. Estávamos preocupados que a filha tivesse a noção de limites não apenas quanto ao que lhe pertencia e ao que pertencia ao outro, mas também quanto a si mesma, suas vontades, seus instintos, suas pulsões, diriam os psicólogos.

Infelizmente, isso não deu certo. E, com muito pesar, tive que discipliná-la, como costumava fazer quando acontecia alguma desobediência expressa a um fato que considerávamos importante. Levei-a para o quarto dela e apliquei uma, ou duas chineladas (não me lembro) no bumbum. Depois a abracei, beijei-a, orei com ela. Sequei as lágrimas dela e as minhas... Nunca mais aconteceu de ela pegar coisas que não lhe pertenciam. E quando a entreguei ao Lucas, no altar, sabia quem era minha filha. Uma jovem que, assim como teve que aceitar nãos do pai e da mãe, mesmo que mediante disciplina física, saberá dizer não quando a vida vier a lhe exigir que o faça.

O Senado federal acabou de seguir a votação na Câmara, aprovando o Projeto de Lei nº 7672/2010. Diz o primeiro artigo: “A criança e o adolescente têm o direito de serem educados e cuidados pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar, sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto.”

Por essa lei, agora ninguém mais poderá aplicar a uma criança ou adolescente qualquer espécie de constrangimento físico que cause dor ou sofrimento. Além disso, passa a ser punível o tratamento compreendido como cruel e degradante, o que a lei conceitua como sendo humilhação, ameaça grave, ou ridicularização. Os pais, avós, professores, cuidadores, enfermeiros, etc., que praticarem qualquer uma dessas condutas (termos abertos: até mesmo uma repreensão em sala de aula poderá ser enquadrada na lei), serão obrigados a frequentar sessões psicoterápicas e programas de auxílio à família, sem que tenha sido afastada a possibilidade de aplicar-se ao transgressor ainda outras medidas mais graves, como a imputação do crime de maus-tratos ou tortura ao pai, à mãe, ao professor, ou qualquer um que tenha o dever de cuidar, tratar, educar ou vigiar. Os pais poderão, até mesmo, perder o poder familiar sobre o filho.

Pela lei que está na iminência de ser validada, se for sancionada pela presidente da República, eu seria punível pelas minhas condutas para com as meninas. Assim, há dezoito anos eu teria sido processado e, talvez, em razão das chineladas no bumbum da Julia, eu não teria me tornado advogado, nem professor de direito da criança e do adolescente, consultor de governo na área, mestre e doutor em Educação pela USP em tema de direito e gestão da criança e do adolescente. Não teria vindo a Brasília para trabalhar no órgão em que as políticas destinadas ao atendimento de adolescentes que praticaram delitos (atos infracionais) são geridas. Minha carreira jurídica teria sido abortada, pois teria perdido toda a credibilidade social. Inclusive, não teria presidido o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Jundiaí. Afinal, teria praticado maus-tratos contra minhas filhas, e praticado conduta cruel e degradante. Não teria apelo, pois eu seria réu confesso.

De minha parte, o que tenho a dizer é o seguinte: amei muito minhas filhas. Amei-as tanto que ousei discipliná-las fisicamente, quando julgamos necessário. Fiz isso com lágrimas, com dor no coração. Talvez tenha cometido erros. Mas as amei. Não queria transferir a ninguém minha responsabilidade. O que fiz, fiz acreditando no rei Salomão: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Provérbios 13:24).

Passados tantos anos, contemplando nossas filhas, Cláudia e eu, no ano em que completamos vinte e cinco anos de casados, jovens imperfeitas, mas respeitosas, alegres, ainda que com as mesmas questões de todos os mortais, tendo boa referência de todos; trabalhando, a Julia fisioterapeuta e a Carolina quase nutricionista; e a julgar pelos inúmeros adolescentes que se julgam reizinhos, sendo muitos deles insuportáveis, fazendo o mal, ofendendo com palavras, gestos, agressões físicas, desrespeitando tudo e todos, tenho ainda mais certeza de que o rei Salomão estava certo. E continuarei me opondo a todos aqueles que, advogando segundo o discurso do direito da criança e do adolescente, entendem que isso implica deixar essas pessoas em processo de desenvolvimento sem parâmetros morais claros e precisos, parâmetros esses que foram construídos ao longo de muitos séculos sob as bases do pensamento judaico-cristão e os princípios liberais, e estão, há algumas décadas, sendo destruídos por um modo de pensar niilista e “socialista”.

A lei deveria ser aplicada àqueles que são violentos com os filhos, batem por impaciência, de qualquer jeito, com porrete, cinta, no rosto, na cabeça, nos pés. Contra aqueles que, sob pretexto de corrigir, descarregam suas raivas na própria criança. Contra aqueles que usam a mão para ferir, ao invés de acariciar. Essa deveria ser a interpretação da finalidade da lei, dada pelos tribunais. Entretanto, a julgar pelos olhares dos magistrados que, em nome dos direitos humanos, perderam a noção do razoável, acredito que a lei terá alcançado o objetivo daqueles que a idealizaram, sabendo ou não sabendo, e dará início a uma caça às bruxas. O medo dos professores de aplicação de multas e responsabilizações diversas, aliado à pseudociência psicológica, pedagógica e assistencial, produzirá o que nenhum de nós deseja, mesmo os pais mais liberais: as crianças terão vencido o combate. Os pais, nocauteados, no chão, não terão nada a fazer, senão se esconder, manipular, controlar por meio de ameaças ao filho de perder isso ou aquilo, etc.

Agir ou não agir porque é certo ou errado não interessará, e não funcionará. E medidas mais radicais somente os traficantes, ou os torturadores e matadores de adolescentes poderão adotar, o que ainda mais rigorosamente continuarão a fazer. Sem piedade, sem choro, sem lágrimas, sem abraço, sem oração. Sem amor. Sem verdade.

E todos aqueles que desejam que a família acabe, conforme a ideologia dos proletários, que muitos estão seguindo sem o saber, terão vencido.

De minha parte, não me calarei.

(Édison Prado de Andrade) Via Criacionismo.com

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Qual Igreja Jesus frequenta?

Quero te convidar para um exercício de imaginação. Imagine que você é um não-cristão, e que de repente, sente uma enorme sede e desejo em conhecer "algo que venha a preencher o vazio de sua alma." Decide buscar na fé o sentido da vida e a razão da sua existência. Resolve, assim, antes de optar de cara por uma religião, fazer uma pesquisa. Você parte, talvez por insistência de amigos ou parentes evangélicos, a tentar descobrir o que significa afinal, ser um cristão e o que é a igreja evangélica brasileira dos nossos dias. Pois, quem sabe, não está ali a resposta? É uma tradição religiosa que, afinal, tem crescido, algo de bom deve ter ali. Então você decide ver como é essa tal de igreja evangélica. E, acima de tudo, você quer encontrar esse tal de Jesus, que dizem que preenche a nossa vida e a nossa alma. Mas…por onde começar?

Na dúvida, em vez de ir a um templo pessoalmente, prefere ligar a TV. Mais fácil, rápido e sem envolvimento com todas as questões (e pessoas) de uma igreja local. Você sabe que na TV tem pastores. Não conhece muitos, logo, conclui, naturalmente, que aqueles ali devem ser a representação fiel de todo e qualquer pastor. Mas engraçado… quem você vê não se parece com um, afinal pelo que você se lembra do pouco que você conhece sobre Jesus, um homem que falava com amor e mansidão, chamando os que estão cansados e sobrecarregados para os braços do Pai. Mas, pelo contrário, vê um homem que só berra. Em vez de falar sobre dar a outra face, amar os inimigos e caminhar a segunda milha, ele gasta uma hora para pedir dinheiro para pagar aquela uma hora que ele ficou pedindo o dinheiro.. E você, o não-cristão, que ligou naquele programa ávido por aprender mais sobre Jesus e sobre o que é a vida com Cristo, começa a achar que aquilo ali é ser cristão. Afinal, aquele senhor é um pastor, embora ele não diga nada parecido com o que você esperava, como, por exemplo, “bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês“.

Decide esperar um pouco mais e, de repente, parece que valeu a pena… vê o mesmo pastor mudar de discurso, adotar uma postura mais suave, um tom de voz mais brando. Você sente-se aliviado, achando que agora ele vai falar de Jesus ou algo como “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam” ou mesmo “Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo". Mas, para sua surpresa, o pastor continua a falar de dinheiro, dinheiro, dinheiro e a vender produtos e mais produtos, livros, bíblias, CDs, DVDs… montes de coisas, no cartão ou cheque pré. Parece a grande queima de estoque gospel de um camelódromo qualquer. Você acha aquilo muito estranho.
   
      Ainda tentando entender se o cristianismo é a fé que vai preencher seu coração, decide procurar informações em outras fontes. Acessa então o website de outro conhecido pastor, que faz transmissões diárias pela Internet. Ah, agora sim, longe das pressões financeiras de manter uma mega estrutura de TV, você tem certeza que ouvirá o Evangelho genuíno. Naquele dia, curiosamente, em vez de falar sobre o amor de Jesus ou a eternidade, aquele pastor está comentando uma reportagem que saiu numa revista sobre os evangélicos. Uau, que legal! Agora você vai aprender muito sobre o cristianismo. Você espera que o tal pastor ensine algo como: 
“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.(Mateus 5:21-22)

      Mas, em vez disso, o pastor começa a dizer que todos os outros pastores que foram mencionados na matéria são “bundões”. Você não entende nada. Não era afinal o cristianismo aquela religião em que seu fundador disse “Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam“? E no entanto aquele pastor que fala tanto sobre amor chama outros pastores de “bundões”. Você fica confuso. Muito confuso.

       Decide então ir para uma mídia social. Entra no twitter. Mas sai rapidinho, pois a quantidade de coisas que os cristãos falam ali são tão diferentes, sem uma linha em comum, são tantas visões diversas, tanta opinião sem embasamento bíblico, tanta frase tuitada fora de contexto, tanta gente defendendo tanta coisa díspares. Aquilo te deixa meio zonzo. Ficar 5 minutos no twitter faz você achar que Cristo era um cara muito confuso e que a fé cristã é uma grande Babel. Resolve então que vai buscar mais sobre Jesus e a igreja em outro lugar. Que tal… a rádio! Sim! A rádio! Ali certamente só haverá coisa boa! Então você sintoniza numa rádio gospel e ouve um grupo famoso que começa uma canção com o cantor dizendo “Senhor, eu quero ter um romance contigo!”. Você se assusta. Como assim? Seria esse o mesmo Senhor a quem o salmista diz “Pois tu, Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra! És exaltado muito acima de todos os deuses!“? Você acha estranhíssima essa coisa de ter um romance com Deus e cantores que cantam músicas que só exaltam o ser humano, antropocêntricas e cheias de triunfalismo e vingança a La "sabor de mel". 

     Você muda de estação. Outra rádio gospel. Se assusta de cara, pois parece que a cantora está chorando. É o que ela chama de “ministrar”. Mas, meu Deus, que choradeira!  Aquilo te incomoda tanto que você resolve então mudar para uma rádio onde haja pregações.
Sim! Se a Bíblia diz que é por ouvir a Palavra que vem a fé, nada melhor do que ouvir uma pregação. O pregador começa. E, rapaz, ele grita tanto! Berra! O povo em volta se sacode e se remexe muito, uma coisa estranhíssima. O homem no púlpito agarra o microfone e, em gritos alucinados, grita para Deus, repreende e amarra coisas que você não entende direito, grita, grita, grita…parece afinal que o Deus dos cristãos é surdo. Mas Jesus disse: "E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens". Mas o pastor diz que cristão que não faz barulho tá com defeito de fabricação. Por um desses acasos, você se lembra da oração silenciosa de Jesus em que Ele diz:
 “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém“. (Mt. 6.9-13)

         E não entende por que aquele rapaz da rádio precisa gemer e gritar tanto.Você decide perguntar para alguém da sua família que frequenta uma igreja e essa pessoa explica que aquilo é “manifestação do poder de Deus”. Você pensa então nas milhares de igrejas pelo mundo onde se ora num tom de voz normal, sem impostação, sem grito, apenas numa conversa franca, suave e aberta com o Pai… e pega-se pensando “será que, afinal, nessas igrejas não está o poder de Deus? Será que em igrejas em que não se grita nem se rodopia Jesus não salva almas, não cura enfermos, não restaura os caídos, não abraça os feridos?”. Você ouve até esse seu parente fazer uma piada com outros irmãos em Cristo, falando sobre “igreja sorveteriana, de tão fria”, e tem a nítida sensação (que não pode estar certa, deve ser impressão sua) que os cristãos são muito desunidos. Esse pensamento, de tão absurdo, foge rápido da sua mente, e você volta a refletir sobre a questão de se igrejas que não são barulhentas não têm o poder de Deus. E aí você se lembra que é impossível o poder de Deus estar ausente de onde Deus está e que a Bíblia assegura, nas palavras do próprio Cristo que “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” e repara que o poder de Deus se manifesta em qualquer ambiente em que haja pessoas reunidas em seu nome. E decididamente fica sem entender aquela coisa de que para haver poder de Deus é preciso berrar, bater no púlpito e se comportar de modo até meio descontrolado. “Mas tudo bem, faz parte da cultura dessa ou daquela denominação” e, conformado, decide continuar em sua busca.

       Afinal, você tem um vazio na alma. Então, embora tudo aquilo lhe pareça muito estanho, você insiste. Muda de estação de rádio. O que ouve ali é um pastor… conversando com um demônio! Aquilo então lhe soa bizarro, pois pelo que já ouvira, a forma bíblica de Jesus de lidar com os demônios era não lhes dar nenhum papo, como diz Mateus 8.16 “Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele com sua palavra expulsou deles os espíritos...". E, de repente, tem pastores usando espaço em que poderiam estar pregando que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores“, como ensina 1 Tm 1.15, mas…ficam dando oportunidade a demônios para tagarelarem sobre um altar que deveria estar sendo usado para exaltar o Todo-Poderoso ou ficam "usando" o demônio para falar mal de outra denominações, fazendo proselitismo para sua igrejas. 

       Cansado de tentar entender a fé cristã pela mídia – sem conseguir entender, pois a cada nova tentativa a coisa parece mais complicada – você opta por vencer a preguiça e visitar diferentes tipos de igrejas e comunidades cristãs. Vai primeiro a uma igreja de um pastor famoso, que tem milhares de seguidores no twitter. Mas o homem começa a ensinar que Deus não está no controle de tudo o que acontece, que as desgraças que ocorrem no mundo não têm anuência do Onipotente… só que aquilo contraria toda a lógica de dois mil anos de cristianismo, como você superficialmente conhecia. Você se lembra de Jó, se lembra do Dilúvio, dos exércitos de faraó sendo afogados…não, aquilo não pode ser cristianismo, Deus ainda deve estar no controle. Mesmo que um ou outro pastor-celebridade diga que não.

Sai do culto e vai a outra igreja. Linda, pessoas muito bem arrumadas, opa! Quem sabe não é ali que você vai compreender Cristo? A pregadora começa a falar sobre Jesus te dar carro do ano se você crer, em ganhar uma bolsa Louis Vuitton se declarar a vitória e tomar posse da bênção, sobre como Deus pode fazer sua empresa prosperar se você der uma gorda oferta…. mas estranhamente nada daquilo preenche o vazio da sua alma. Você abre a Bíblia que comprou (uma cheia de estudos, de capa colorida e que estava numa promoção única) e lê “Aquele que é cobiçoso corre atrás das riquezas; e não sabe que há de vir sobre ele a penúria” e percebe que aquele discurso daquela senhora soa muito contraditório. Aí vira mais algumas páginas da sua Bíblia e lê lá no Novo Testamento que o próprio Jesus de Nazaré afirma: 
"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." (Mateus 6:19-21)
Tem algo muito estranho acontecendo nessa tal igreja, mas você ainda não conseguiu definir o que é. Resolve continuar procurando. E você, incansável, segue num périplo para entender o que é a igreja. E, mais que isso, para tentar conhecer esse tal de Jesus que dizem que preenche a nossa vida. Mas percebe que a linguagem de muitas igrejas é apenas dirigida pelo marketing, que sabe que cliente satisfeito volta, e por isso, muitas estão regendo suas práticas pelo mercado e buscam satisfazer o cliente. Contratam marqueteiros para fazerem suas igrejas aparecerem, esquecendo que é "Deus é quem dá o crescimento". Nota ainda uma característica presente em quase todas: não se fala de morte, pois pelo discurso geral o negócio é aqui e agora, é o imediatismo (igrejas essas cheias de pessoas desesperadas, que estão atrás de uma ajuda rápida para situações urgentes ou curas milagrosas). E sua cabeça dá um nó, pois afinal Jesus afirmou sem sombra de dúvida que o que importa no grande esquema das coisas é a eternidade, é a vida eterna, é o porvir: 
Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou." (João 6:27)
Já cansado da busca, você ouve falar de comunidades alternativas, que fogem do modelo institucional de igreja. Os chamados desigrejados, que saíram de igrejas tradicionais decepcionados não só com práticas e doutrinas, mas com pessoas. Resolve ir aos encontros de alguns desses grupos, vai que ali sim existe um cristianismo mais cristalino, longe da poluição das instituições maquiavélicas que “manipulam a Palavra de Deus”. Descobre, no entanto, que as pessoas que frequentam essas comunidades criticam hierarquias mas têm modelos hierárquicos, que criticam liturgias mas seguem liturgias, que abominam pastores mas têm seus “irmãos mais experientes na fé”, que não se reúnem em templos mas se reúnem em algum lugar. Mudam o nome das coisas (em vez de “igreja” se chamam “comunidades”, por exemplo), mas na essência nada muda, pois são formadas por pessoas e pessoas pecam . E aí você percebe que a igreja dos sem igreja é apenas mais do mesmo, só que com cores diferentes, e não se empolga com esse modelo.

Disposto a dar mais uma chance, pois aquele vazio continua, você vai junto com aquele seu primo crente que é adepto de um negócio chamado “batalha espiritual’ a um seminário onde ensinam montanhas de coisas sobre demônios, hierarquias demoníacas, nomes e cargos de demônios, mapeamento espiritual, quebras de maldições….rapaz, é demônio pra tudo que é lado. Curioso, você indaga, cochichando, ao seu primo de que lugar da Bíblia eles tiraram tanto conhecimento assim e ele gagueja, hesita e diz que na verdade são revelações obtidas ou da boca dos próprios demônios (que, curiosamente mentem o tempo todo) ou de “ex-satanistas” que juram que faziam parte dos mais altos escalões do movimento satanista e começam a escrever livros e mais livros sobre o tema. Claro que viajam dando seminários (cobrando taxas bem gorduchas) , dando palestras e “ministrando” sobre o assunto. Mas nada daquilo veio da Bíblia! E, adivinha só, você que esperava conhecer mais sobre Cristo e o cristianismo, só fica mais e mais e mais confuso – e, agora, cheio de doutrinas de demônios na cabeça.

Exausto por tentar entender o que são afinal de contas a igreja e o cristianismo (e esse Cristo, que até agora você não encontrou), começa a detectar problemas gerais. Falta de acolhimento, frustração com o estilo de liderança, frustração com as ênfases doutrinárias, ênfase excessiva na contribuição e escândalos pululam em cada esquina. Abre o jornal e vê deputados, senadores, governadores e outros políticos da chamada “bancada evangélica” metidos em um monte de escândalos. É tanta coisa, tanto troço, tanta tramoia que você se vira para os seus parentes e diz:
- Querem saber de uma coisa?! Desisti desse negócio de tentar conhecer Jesus! Não entendi se ser cristão é ser manso ou agressivo, se tenho de orar berrando ou não, se devo seguir a Bíblia ou coisas ensinadas por demônios, se devo cantar a Deus com respeito ou se devo ter um romance com Ele, se devo ir a uma igreja ou a uma comunidade que se reúne numa sala de estar…o que, afinal, é ser cristão?! Cadê a união?! Cadê a unidade?! Cadê “para que sejam um, assim como somos um”? Chega! Cansei! Preciso de um lugar onde eu encontre amor verdadeiro, unidade, paz e esperança! E não estou encontrando isso nessa tal igreja evangélica! Fui! Igreja evangélica? Não, obrigado.
E aqui acaba nosso exercício de imaginação, com a derrota total do cristianismo. Com uma chamada “igreja evangélica” tão falida que mais espanta que atrai. Que não tem apresentado nem representado Jesus de Nazaré. The End.

Mas…
Um segundo só. Por favor, ainda não vá embora.
Pois essa história não pode acabar aqui.
Façamos outro rápido exercício de imaginação. Imagine uma igreja onde o Evangelho é pregado como Jesus ensinou. Sem shows, sem balbúrdia, sem marketing. Sem palcos iluminados, com sistemas de som espetaculares e sem nenhum equipamento de filmagem. Que siga hierarquias e liturgias bíblicas, não opressoras, mas defensoras da ordem e da boa administração e condução do Corpo de Cristo. Que tenha um modelo discipular, voltado a formar não consumidores da fé, mas discípulos do Senhor Jesus. Onde a leitura da Bíblia, o jejum, a meditação, a oração e outras disciplinas fundamentais da fé cristã sejam estimuladas. Onde haja poucos membros, mas que esses poucos se conheçam pelo nome, se tolerem, se ajudem, intercedam uns pelos outros. Onde seja pregado o verdadeiro Evangelho, o Evangelho da renúncia, do “tome a sua cruz e siga-me“. Onde a mensagem não seja “o que eu posso ganhar”, mas “o que eu posso dar”. Onde ame-se a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (pelo menos tente-se fazê-lo). Onde dinheiro não seja causa, mas consequência, e algo que fique lá no fim da fila em termos de importância. Onde os pecadores não sejam apedrejados e expulsos, mas amparados, acolhidos, orientados, discipulados e postos novamente de pé. Onde Cristo seja glorificado na simplicidade. Onde uns lavem os pés dos outros. Onde haja contrição, confissão de pecados e acima de tudo, ensinamento da Palavra. Onde se pregue sobre morte, sofrimento, derrotas e dor – porque sim, isso também faz parte da fé. Essa igreja é possível. 

       Acredite, é possível. Não há uma igreja perfeita. Mas essas igrejas onde busca-se o Evangelho puro e simples, longe dos holofotes e das colunas sociais gospel existem. Geralmente são anônimas, desconhecidas da mídia ou do grande público. Geralmente, seus pastores têm nomes que você nunca ouviu falar. Geralmente é onde se reune aquele remanescente que não dobrou seus joelhos a Baal. Não desista dessa busca. Ainda há igrejas onde você encontra Jesus de Nazaré. E onde você consegue viver o cristianismo como o cristianismo foi feito para ser. Desligue a TV com seus astros da fé, pare de ouvir grupos e cantores da moda, esqueça os ventos e os modismos, fuja de seminários estranhos, tire o diabo do centro e concentre-se em Deus… e procure essas igrejas. São igrejas anônimas, pequenas e desconhecidas, mas onde Jesus frequenta e se orgulha de entrar e de dizer: “Aqui sim me sinto em casa”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Prof. Saulo Nogueira. 

*Artigo adaptado do texto "A abominável Igreja cristã" de Maurício Zágari