(Espermatozoide fecundando o óvulo. Ilustração: koya979 / Shutterstock.com) |
A
notícia chegou de uma forma meio inusitada. Minha esposa e eu, após cinco anos,
decidimos que já estava na hora de termos outro bebê. Agora que a nossa filha
mais velha já tem mais autonomia e liberdade para fazer certos tipos de coisas,
resolvemos dá à ela um irmãozinho(a). Minha esposa parou de tomar o
anticoncepcional e, mais ou menos 40 dias depois fomos à médica para que ela
passasse os exames necessários para sabermos se estava tudo bem. Mas para nossa
surpresa, minha esposa já estava grávida de seis semanas. Pelas contas, ela
teria engravidado já na primeira semana após a última menstruação. Já no
primeiro ultrassom, foi possível ver o “saco vitelino” e aquele pequeno ser nas
suas primeiras fases de desenvolvimento embrionário. Aproveitando a oportunidade,
tive a ideia de fazer algumas postagens analisando a complexidade de cada fase
de gestação, a interação mamãe-bebê e os processos de desenvolvimento
semanalmente, demonstrando e extrema complexidade da gestação e a
impossibilidade de uma explicação naturalista.
Fecundação
Após
o ato sexual, milhões de espermatozoides “nadam” em direção ao útero. Essas
células reprodutoras são produzidas nos testículos, que são
verdadeiros mestres da produção em massa, cuspindo espermatozoides a uma taxa
de 200 milhões por dia,
numa prefeita linha de montagem. [1] Assim que o espermatozoide entra em
contato com o corpo da mulher, começa toda a “magia”. A vagina é revestida por
epitélio estratificado pavimentoso, cujas células produzem glicogênio usado
para fermentação pelos Lactobacillus acidophilus (bacilos de Döderlein),
liberando ácido lático. Isso confere ao meio vaginal um pH ácido, que impede a
proliferação da maioria dos micro-organismos patogênicos. Acontece que o pH do
sêmen está entre 7,0 e 8,3 e ao entrar em contato com a vagina, ocorreria a
morte instantânea dos gametas. Com o pH alcalino do sêmen, o pH da vagina
passa, em 10 segundos, de 3,5 para 7,2, permitindo a sobrevivência dos
espermatozoides [2]. Essa mudança é indispensável para que os espermatozoides
não morram ao entrar em contato com a mucosa vaginal. Isso ocorre, porque os
espermatozoides são depositados durante a ejaculação no meio vaginal,
protegidos pelo líquido seminal e não isolados. O líquido seminal, inicialmente
“coagulado” é lentamente diluído pela acidez vaginal e seus componentes
alcalinos funcionam como um tampão. Ao líquido seminal se associa a ação
alcalinizante (básica, oposto de ácido) das secreções vaginais que surgem
durante a excitação sexual, bloqueando a acidez vaginal em segundos e mantendo
o pH adequado à sobrevida espermática por entre 6 e 16 horas [3]. O
interessante é que se não ocorresse essa mudança de pH a nova vida já seria
eliminada logo no início.
Dos
cerca de 300 milhões de espermatozoides eliminados na ejaculação, apenas cerca
de 300 atingem a tuba uterina, e somente um fecunda o Ovócito. A ovulação ocorre através da pressão exercida
pelo folículo maduro na superfície do ovário fazendo com que se inicie uma
isquemia o que contribui para o enfraquecimento dos tecidos, facilitando a
saída do ovócito. Esse ovócito, se desprende do ovário e segue em direção ao
útero, impulsionado pelas contrações da tuba uterina e pelos movimentos
ciliares do seu epitélio. A presença do ovócito é fundamental na aquisição,
antes da fertilização, de propriedades funcionais por parte do espermatozoide,
e também imprescindível para a ativação do metabolismo celular do ovócito, o
qual será encarregado de conduzir o desenvolvimento durante os primeiros
momentos após a fecundação. Como resultado da fecundação, dois padrões serão
definidos em princípio: o complemento cromossômico diploide (2n) e o sexo
cromossômico (XX, fêmea, e XY, macho). Os espermatozoides só conseguem
encontrar o ovócito porque são atraídos por uma substância liberada pelas células
foliculares. [4]
Quando
o espermatozoide encontra com o ovócito, ele se depara com uma grande
“barreira” que impede que ele penetre no óvulo: a corona radiata, um grupo de
células foliculares que envolvem o ovócito. Acredita-se que a enzima hialuronidase,
liberada do acrossoma do espermatozoide, é responsável pela dispersão das
células foliculares da corona radiata. Mas não é só isso que facilita a
passagem: os movimentos da cauda do
espermatozoide junto às enzimas da mucosa tubária também contribuem bastante.
Além de estruturas semelhantes a “arpões”, pequenos filamentos que existem para
ajudar o espermatozoide a se fixar na parede do óvulo e fecundá-lo. [5] Algumas
das glicoproteínas presentes nesta zona são receptores específicos da espécie
no momento da fertilização. Ou seja, somente espermatozoide humano consegue
fecundar óvulo humano.
Após
passar pela corona radiata e ao atingir a zona pelúcida, o espermatozoide sofre
alterações formando a membrana de fecundação, que impede a penetração de outros
espermatozoides no ovócito [6]. Ou seja, somente um consegue atingir seu
objetivo. Isso ocorre devido à uma reação química que causa um bloqueio à
polispermia.
O
óvulo humano normalmente é fertilizado na ampola da tuba uterina e sua
segmentação ocorre à medida que ele se desloca passivamente na direção do
útero. Após a entrada do espermatozoide, o ovócito secundário termina sua
divisão meiótica, formando um óvulo maduro. Começa então uma complexa sequência
de eventos moleculares coordenados que se inicia com o contato entre um
espermatozoide e um ovócito e termina com a mistura dos cromossomos maternos e
paternos, resultando no zigoto, um embrião unicelular.
Todo esse processo dura cerca de 24 horas. Já nesse início de formação, as interações devem ser perfeitas, pois quaisquer alterações ocorridas em qualquer estágio dessa sequência, podem causar a morte do zigoto. Esse zigoto, (com 46 cromossomos) é formado da união das duas células. Seus núcleos perdem as membranas e se fundem, dando origem ao início da vida humana. Após a formação do zigoto, começa o processo de sucessivas divisões mitóticas, que resultam em um rápido aumento de células. O zigoto primeiramente se divide em duas células, chamadas de blastômeros, e estes se dividem em quatro blastômeros, estes quatro se dividem em oito e assim sucessivamente. Estas divisões ocorrem enquanto o zigoto atravessa a tuba uterina, em direção ao útero, e geralmente iniciam 30 horas após a fertilização. As repetidas divisões formam uma esfera compacta de células, denominada mórula.
Todo esse processo dura cerca de 24 horas. Já nesse início de formação, as interações devem ser perfeitas, pois quaisquer alterações ocorridas em qualquer estágio dessa sequência, podem causar a morte do zigoto. Esse zigoto, (com 46 cromossomos) é formado da união das duas células. Seus núcleos perdem as membranas e se fundem, dando origem ao início da vida humana. Após a formação do zigoto, começa o processo de sucessivas divisões mitóticas, que resultam em um rápido aumento de células. O zigoto primeiramente se divide em duas células, chamadas de blastômeros, e estes se dividem em quatro blastômeros, estes quatro se dividem em oito e assim sucessivamente. Estas divisões ocorrem enquanto o zigoto atravessa a tuba uterina, em direção ao útero, e geralmente iniciam 30 horas após a fertilização. As repetidas divisões formam uma esfera compacta de células, denominada mórula.
Aproximadamente
quatro dias após a fertilização, a mórula penetra no útero e, nesse estágio, surgem espaços entre os blastômeros que são preenchidos por líquidos
provenientes da cavidade uterina. Com o aumento de líquido, as células são divididas
em duas camadas, uma camada interna (ou embrioblasto) e uma camada externa (ou
trofoblasto). Logo os espaços se fundem, e dão origem a uma só cavidade,
denominada cavidade blastocística. A partir deste momento, o concepto passa a
ser chamado de blastocisto.
O blastocisto
permanece livre na cavidade uterina por apenas um ou dois dias, após os quais
ele se implantará na parede do útero por ser envolvido pela secreção das
glândulas endometriais. Na fase de blastocisto, a zona pelúcida se desfaz,
permitindo que as células do trofoblasto, que têm o poder de invadir as
mucosas, entrem em contato direto com o endométrio, ao qual se aderem. Ele
emite substâncias químicas que debilitam o sistema imunológico da mulher dentro
do útero para que este pequeno corpo estranho não seja rejeitado pelo corpo da
mãe. Na realidade, é a existência de uma intensa comunicação
materno-embrionária que, ao conduzir ao aumento da produção de progesterona na
mãe para garantir a manutenção da gestação, também impede a rejeição do blastocisto
no exato momento da nidação. Após a nidação, começa a multiplicação intensa das
células do trofoblasto que vão assegurar a nutrição do embrião à custa do
endométrio.
As células do trofoblasto produzem enzimas que digerem localmente o endométrio, onde ele se fixa promovendo a implantação ou nidação do embrião no interior da mucosa uterina. A implantação inicia-se por volta do sexto dia e, aproximadamente no nono dia após a fertilização, o embrião se encontra totalmente mergulhado no endométrio, do qual receberá proteção e nutrição até o fim da gravidez [7].
As células do trofoblasto produzem enzimas que digerem localmente o endométrio, onde ele se fixa promovendo a implantação ou nidação do embrião no interior da mucosa uterina. A implantação inicia-se por volta do sexto dia e, aproximadamente no nono dia após a fertilização, o embrião se encontra totalmente mergulhado no endométrio, do qual receberá proteção e nutrição até o fim da gravidez [7].
Por volta do
décimo dia, estágio em que o embrião já está totalmente implantado no
endométrio surge uma grande cavidade envolvendo o âmnio e o saco vitelino
primitivo, denominada celoma extraembrionário. O saco vitelino primitivo
diminui de tamanho, e surge o saco vitelino secundário, que desempenha
importante papel na transferência seletiva do líquido nutritivo para o disco
embrionário. Por volta do 14° dia, o embrião ainda apresenta a forma de um
disco bi laminar, e células hipoblásticas, formam uma área espessa circular,
denominada placa pré-cordal, que indica o futuro local da boca, a região
cranial do embrião. Enquanto todo esse processo está ocorrendo dentro do corpo
da mãe, provavelmente ela ainda nem saiba que dentro do seu útero já está sendo
formado um novo ser.
Esses são os
primeiros dias gestacionais, marcado por reações químicas e interações que
necessitam de uma interdependência mútua e perfeita. A complexidade irredutível
de cada uma dessas fases, faz nos pensar como seria possível que todos esses
processos fossem resultado de uma evolução cega e ao acaso. Até que esses
mecanismos bioquímicos evoluíssem, como os seres humanos sobreviveram? Para que
a evolução fosse crível, todas essas interações teriam que ter evoluído
simultaneamente, de forma que a transição ainda fosse funcional. Por isso que
eu não tenho fé para ser evolucionista, pois diante de nós está uma das mais
marcantes provas de um designer inteligente.
Na próxima postagem, daremos continuidade a
essa maravilhosa viagem pelos processos gestacionais e a demonstração da
perfeição e da complexidade de todo o processo, onde falaremos um pouco sobre a
gastrulação e o início da morfogênese.
Prof. Saulo Nogueira
Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM.
Esse vídeo resume muito bem essa
primeira fase:
Referências:
Sadler, TW. Langman. Fundamentos de embriologia médica. Rio
de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.
MOORE,
K.L.; PERSAUD, T.V.N. The developing human: clinically oriented embryology. 7ª
ed. Elsevier. USA, 2003.
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