Essas referências aos filisteus
como existentes antes de 2050 a.C. (no caso de Abraão) têm sido consideradas
impossíveis por muitos estudiosos. A Encyclopaedia Britannica (14a ed.,
s.v. "Filistia") declara categoricamente: "Em Gênesis 21.32, 34
e Êxodo 13.17; 15.14; 23.31, as referências à Filistia e aos filisteus são
anacrônicas". A base dessa assertiva encontra-se na circunstância de que
até o presente momento, pelo menos, a mais antiga referência a filisteus nos
registros egípcios encontra-se nos relatos de Ramesés III, com respeito à sua
vitória sobre os "povos do mar" numa batalha naval travada no rio
Nilo em 1190 a.C. Supõe-se que depois de os P-r-s-t (como os egípcios
grafavam o nome deles) e seus aliados terem sido expulsos pelo faraó,
retiraram-se para a região costeira da Palestina e ali se estabeleceram
permanentemente como colônia militar. Entretanto, não se pode concluir, a
partir desse mero fato, e que as referências mais antigas aos filisteus nos
registros egípcios (que datam de mais ou menos 1190 a.C.) constituem prova
objetiva de que jamais houve imigrantes filisteus de Creta, na Palestina, em
tempo algum, antes dessa data; tal conclusão seria violação irresponsável da
lógica.
As Escrituras Sagradas constituem o
registro mais digno de confiança, mais que os documentos arqueológicos, visto
que aquelas estão investidas da confiança divina do princípio ao fim e afirmam
com toda a clareza que os filisteus moravam na Filistia pelo século XXI a.C.
Afirmam também as Escrituras que as fortalezas filistinas que guardavam a rota
do norte do Egito para a Palestina eram tão poderosas nos dias mosaicos (em
1140 a.C), que o caminho mais seguro para os israelitas em sua jornada para a
Terra Prometida era o do sul (Êx 13.17). É óbvio que esse registro feito por
Moisés foi composto séculos antes do de Ramsés III, não havendo razão para
supor-se que, quanto mais antigo for um documento, menos digno de confiança
deve ser. (Até recentemente usava-se o argumento do silêncio por alguns
críticos para desacreditar as referências em Gênesis 18 e 19 a Sodoma e
Gomorra, que teriam sido meras lendas destituídas de historicidade. Agora,
depois de terem sido descobertas as tabuinhas de Ebla, datadas do século XXIV a.C.,
que contêm informações sobre o relacionamento comercial de ambas as cidades com
Ebla, aquele argumento contrário tornou-se absurdo. G. Pettinato ["BAR Interviews
Pettinato", p. 48], a respeito de referências a Si-da-mu e a I-ma-ar).
De novo se comprovou que o argumento baseado no silêncio é enganoso. As
cinco principais cidades dos filisteus, ou pelo menos aquelas que foram
escavadas, demonstram igualmente a existência de uma ocupação que se estende
até os tempos dos hicsos, e mesmo antes.
O nível mais antigo descoberto em Asdode
é com toda certeza, do século XVII a.C. (cf. H. F. Vos, Archaeology in Bible
lands [Chicago, Moody, 1977], p. 146). Selos encontrados em Gaza trazem os
nomes da décima segunda dinastia de reis do Egito, como Amenemhat III (ibid.,
p.167). Daí não pode haver dúvida de que essa área foi ocupada por reinos
poderosos antigos na era dos patriarcas. É possível que suas populações tenham
sido pré-filistéias, mas não existe prova disso. A costa sul da
Palestina com toda certeza teria sido uma região favorável ao comércio e ao
estabelecimento definitivo dos povos, no que diz respeito à população cretense.
As Escrituras referem-se aos filisteus como pertencentes a vários grupos, como
os caftoritas, os queretitas e os peletitas. As atividades comerciais de Creta
Minoana teriam sido intensas; seus marinheiros teriam descoberto ainda antes do
tempo de Abraão que o litoral filisteu era dotado de clima ameno, solo rico e
dadivosas chuvas para as colheitas de cereais. Aparentemente emigraram para lá
em levas sucessivas, mais ou menos da forma como os dinamarqueses emigravam
para a costa leste da Inglaterra ao longo de um período de séculos até que
"Danelaw" alargou-se a ponto de cobrir toda a região da fronteira
escocesa até a própria Londres. As migrações das populações que saem de sua
terra natal, atravessando mares, são um fenômeno freqüente por toda a história
do mundo; por isso, não deveria causar surpresa a migração contínua dos povos
cretenses e sua fixação ao longo de vários séculos, a partir da época anterior
a Abraão até o período da expedição naval fracassada contra o Egito, no início
do século XII a.c. Portanto, podemos concluir que não existem evidências
verdadeiramente científicas para que se classifiquem as referências aos
filisteus no Pentateuco como destituídas de veracidade histórica ou
anacrônicas.
Bibliografia: Archer; Gleason L. Enciclopédia de Temas Bíblicos
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