“Se alguém supõe
ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio
coração, a sua religião é vã” (Tg 1.26). Esse é um dos versículos mais
assombrosos e amedrontantes da Bíblia. Ele decreta: de nada adianta viver
cumprindo os preceitos da fé cristã se você não é capaz de controlar o que fala
e a forma como fala. Ir ao culto, cantar louvores, orar, ler a Palavra, pregar,
chorar de joelhos, postar reflexões sobre a vida cristã na internet, escrever
livros cristãos… se você não tem domínio sobre o que fala e como fala, tudo
isso é absolutamente vão, ou, como bem define o dicionário, “vazio, oco,
inútil, sem valor, ilusório, sem fundamento real, fútil, frívolo, falso,
ineficaz”.
Controlar a língua
não é um assunto secundário, coisa de fofoquinha entre vizinhas que ficam
olhando a vida alheia. É um tema muito mais profundo do que simplesmente
fofoca, como alguns, equivocadamente, pensam. Saber controlar o que se fala e
como se fala é uma questão de caráter. De amor ao próximo. De respeito. É
interessante que o versículo citado no início deste texto vem logo depois da
afirmação: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22). Alguém dizer que pratica a Palavra sem
controlar o que fala e como fala faz de si somente um enganador. E é importante frisar que, em dias como os
nossos, o “falar” aqui também deve ser entendido como “postar”, “tuitar”,
“compartilhar”, “comentar”, “teclar” e por aí vai.
Saber controlar a
língua diz respeito, por exemplo, a falar com o próximo com carinho e
gentileza. Um cristão que, por exemplo, entra em debates ácidos pelas redes sociais ou em qualquer outro
âmbito sobre assuntos teológicos e faz isso sem refrear a língua, tecendo
comentários sarcásticos, sendo agressivo, tratando o próximo a quem deveria
amar com estupidez (mesmo o inimigo)… nada mais é do que alguém cuja religião é
vã. Grave, não é? Mas bíblico. E isso, por mais que supostamente tenha boas
intenções e queira agradar a Deus. Em meu entendimento bíblico, quem faz isso
não agrada a Deus, agrada somente ao próprio ego. Religioso. Vão.
É claro que sempre
teremos uma “boa desculpa” para usar a língua de forma pecaminosa. Diremos que
estamos ofendendo e ironizando quem discorda de nós em nome da apologética,
porque, afinal, “antes importa agradar a
Deus que aos homens”. Diremos que abrimos segredos que nos contaram para que
“pudessem orar por fulano”. Inventamos mil histórias que tentam justificar
nossa incapacidade de reter a língua. Desculpas, somente. Religião vã.
Tenho ficado
abatido com a forma como vejo cristãos discordarem de cristãos. Tenho ficado
assombrado com a forma como cristãos discordam de não cristãos. Atacam.
Agridem. Desprezam. Ironizam. Tiago 3 é um capitulo arrasador sobre o assunto.
Descreve a pessoa perfeita: “Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão,
capaz de refrear também todo o corpo” (v. 2). A Palavra de Deus diz que com a
língua “bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens,
feitos à semelhança de Deus” (v. 9). É exatamente o que vejo todos os dias
entre os cristãos, embora Tiago seja claro: “Meus irmãos, não é conveniente que
estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é
doce e o que é amargoso?” (v. 10-11). E a nossa boca tem sido amarga demais.
Demais.
Fica a sugestão
(enfática): aprenda a refrear sua língua. Não imite o comportamento de quem não
refreia, mesmo que sejam pastores, líderes, celebridades cristãs, gente famosa
da internet ou o que for. Fuja de “mestres” que usam palavras com fúria, mesmo
que seja em nome da fé. Não deixe que sua religião se torne vã. Amor, alegria,
paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio:
se aquilo que você diz e a forma como diz não vêm encharcados dessas virtudes,
está na hora de repensar seriamente tudo aquilo que fala e escreve. E, quem
sabe, recomeçar do zero.
Paz a todos vocês
que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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