quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Como Gênesis 1 pode harmonizar-se com os imensos períodos indicados pelas camadas fósseis e a suposta ancestralidade humana ?

Grand Canyon
Esse estudo, retirado majoritariamente da Enciclopédia de Temas Bíblicos, de um do maiores especialistas em Apologética, Gleason Archer, e de outras fontes mais recentes, nos levará uma maior compreensão da relação entre as descobertas mais recentes da Geologia e Arqueologia e a Inerrante Palavra de Deus. O artigo será um pouco extenso, mas tenho certeza que compensará cada segundo de estudo por parte daqueles que almejam um maior entendimento das Escrituras. A minha crença pessoal, creio que a mesma do Sr. Archer, é que de fato não existe nenhum impedimento Bíblico para que o Universo tenha mais de 6.000 anos, porém, para a idade do homem sobre a terra, essa é uma cronologia bem razoável, podendo se estender até no máximo uns 10.000 anos, devido a saltos genealógicos (além de não sabermos quanto tempo Adão e Eva ficaram no paraíso antes da queda).


       Uma das objeções mais frequentemente apresentadas à confiabilidade da Escritura, encontra-se na aparente discrepância entre a narrativa da criação dada em Gênesis 1 e a suposta evidência de fósseis e minerais físseis nas camadas geológicas que dão indícios de ter a Terra bilhões de anos de idade [Recentemente pesquisas demonstraram que as datações geocronológicas não são tão confiáveis assim, conforme esse post]. Contudo, Gênesis 1, como se sabe,  ensina  que  a  criação  ocorreu  em  seis  dias  de  24  horas,  ao  fim  dos  quais o homem  já  estava na  terra. Mas esse conflito entre Gênesis 1  e os dados  científicos fundamentados (em contraposição às teorias de alguns cientistas que tiram inferências de  seus  dados  e  são  capazes  de chegar  a  uma  interpretação  bem  diferente  da  de pessoas igualmente capacitadas em geologia) é apenas aparente, não real. Com  certeza,  se  tivéssemos  de  entender Gênesis  1  de  forma  completamente literal — o que pensam alguns  ser o único princípio apropriado de  interpretação no caso de  a Bíblia  ser verdadeiramente  Inerrante  e  completamente  confiável —  então não  haveria  possibilidade  de conciliação  entre  a  teoria  científica  moderna  e  a narrativa  de  Gênesis.  Mas uma crença verdadeira e adequada na inerrância da Escritura não implica numa única regra de interpretação, seja literal, seja figurada. O que de fato se requer é uma crença no sentido que o autor bíblico (humano e divino) tenha de fato atribuído às palavras usadas. 

A literalidade absoluta, por exemplo, nos  enredaria  na  proposta de  que  em Mateus 19.24  (e  em passagens paralelas) Cristo de  fato tencionava  ensinar que  um camelo poderia passar pelo buraco da agulha. Mas está claro que Cristo usava apenas uma conhecida figura de retórica, a hipérbole, a fim de ressaltar como é difícil espiritualmente um rico (por seu orgulho quanto às riquezas materiais) chegar ao arrependimento  e  à  fé  salvadora  em Deus. Interpretar  literalmente essa passagem equivale a uma heresia ou no mínimo a uma perversidade para com a ortodoxia. Ou, ainda, quando Jesus disse à multidão que o desafiava a operar algum milagre: "Destruam este templo, e eu o levantarei em  três dias"  (Jo  2.19),  aquelas  pessoas  erraram  deploravelmente  ao  interpretar  sua declaração de  forma  literal.  João 2.21, 22 explica que Jesus não pretendia que essa predição fosse tomada literalmente, e sim de modo espiritual. "Mas o templo do qual ele falava era o seu corpo. Depois que ressuscitou  dos mortos,  os  seus  discípulos lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera."  Nesse  caso,  então,  a  interpretação  literal  estava  completamente  errada, porque  não  era  o  que  Jesus  queria  dizer:  ele  se  referia  ao milagre — muito mais grandioso — de sua ressurreição corporal. Assim, torna-se claro que, ao estudar o texto de Gênesis 1, não podemos fugir à responsabilidade de fazer cuidadosa exegese a fim de estabelecer com clareza o que o autor  divino  quis  dizer  com  a  linguagem  que  seu  profeta  inspirado  (provavelmente Moisés) foi orientado a empregar.

Seria o verdadeiro propósito de Gênesis 1 ensinar que toda a criação começou apenas seis dias de 24 horas antes de Adão "nascer"? Ou será essa apenas uma inferência enganosa que não leva em conta outros dados bíblicos relacionados diretamente a essa passagem? Para responder a essa pergunta, precisamos observar cuidadosamente o que se registra em Gênesis 1.27 com respeito à criação do homem como o último ato do sexto dia da criação. Ali se declara que, no sexto dia (ao que tudo indica, quase no fim do dia, após todos os animais terem sido criados e colocados sobre a terra — portanto não muito tempo antes do ocaso do mesmo dia), "criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Isso só pode significar que Eva foi criada na última hora do sexto dia, junto com Adão. Ao examinar Gênesis 2, entretanto, descobrimos que um intervalo considerável de  tempo  deve  ter  ocorrido  entre  a  criação  de Adão  e  a  criação  de Eva. Em 2.15, lemos que Iavé Elohim (i.e., o SENHOR Deus) colocou Adão no jardim  do Éden,  o ambiente ideal para seu desenvolvimento, e ali ele deveria cultivar e manter o enorme parque,  com  todas  as  suas  boas  árvores,  colheita  abundante  de  frutos  e  quatro  rios poderosos  que  fluíam  do  Éden  para  outras  regiões  do Oriente  Próximo.  Em 2.18, lemos: "Então o SENHOR Deus declarou: 'Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda'". Essa afirmação sugere claramente que Adão estivera diligentemente ocupado em sua responsabilidade de podar, colher frutos e manter o solo livre de vegetação rasteira por tempo suficientemente longo para ter perdido o entusiasmo inicial e o senso de  euforia  diante  dessa  ocupação maravilhosa  no  belo  paraíso  edênico.  Ele começara a sentir certa solidão e uma insatisfação íntima. A fim de compensar a solidão, Deus incumbiu Adão de uma tarefa importante na história natural: classificar  todas  as  espécies  de  animais  e  aves  encontradas  na reserva. Com seus cinco rios poderosos e vasta extensão, o jardim deve ter abrigado centenas de espécies de mamíferos, répteis, insetos e aves, sem mencionar os insetos voadores, que também são indicados pelo termo hebraico básico ‘ôp ("ave").  O cientista sueco Linnaeus levou diversas décadas para classificar todas as espécies conhecidas dos cientistas europeus do século XVIII. Sem dúvida, havia muitas mais a essa altura que nos dias de Adão, e, naturalmente, a gama da fauna no Éden pode ter sido mais limitada que a encontrada por Linnaeus.  Ainda assim, Adão deve ter precisado de muito estudo para examinar cada espécime e determinar-lhes um nome adequado, especialmente considerando o fato de que não havia absolutamente nenhuma tradição humana a que recorrer no que dizia respeito à nomenclatura. Devem ter sido necessários alguns anos ou, no mínimo, um número considerável de meses para que ele concluísse esse abrangente inventário de todas as aves, animais selvagens e insetos que povoavam o jardim do Éden. 

Por fim, após essa tarefa ter sido completada, o que contou com o envolvente interesse de Adão, ele experimentou novamente o senso de vazio.  Gênesis 2.20 termina com as palavras: "Todavia não se encontrou para o homem alguém que o auxiliasse e lhe correspondesse". Deus, portanto, submeteu-o a um sono profundo, removeu de seu corpo o osso mais próximo do coração e, daquele cerne físico do homem, moldou a primeira mulher. Finalmente Deus apresentou a Adão a mulher em toda a sua beleza, cheia de frescor e de pureza, e Adão sentiu-se extasiado de alegria. Visto termos comparado a Escritura com a Escritura (Gn 1.27 com 2.15-22), ficou muito patente que Gênesis  1  não  foi  escrito  para  ensinar  que  o sexto dia  da criação, no qual tanto Adão quanto Eva foram criados, durou apenas 24 horas. Tendo em vista  o  longo  intervalo  de  tempo  entre  o  surgimento  de  ambos,  parece irracionalidade insistir que toda a experiência de Adão em Gênesis 2.15-22 pode ser comprimida  nas  últimas  horas  de  um  dia  literal de  24  horas.  A única conclusão razoável a que  se pode chegar é que o propósito de Gênesis 1 não é dizer com que rapidez Deus realizou a obra da criação (embora, naturalmente, alguns de seus atos, como  a criação  da  luz  no  primeiro  dia,  devam  ter  sido  instantâneos).  Antes, seu verdadeiro propósito foi demonstrar que  o  Senhor  Deus,  que  se  havia  revelado  à nação hebraica e entrado num pacto de relacionamento com seu povo, era de  fato o único  Deus  verdadeiro,  o  Criador  de  todas  as  coisas. Isso se colocava em direta oposição às noções religiosas dos pagãos que os rodeavam, que presumiam o surgimento de um panteão de deuses em fases  sucessivas  a  partir  de matéria  pré-existente  de  origem desconhecida,  ativados  por  forças  para  as  quais  não  havia explicação.

Gênesis 1 é um manifesto  sublime que  rejeita  totalmente as cosmogonias das culturas  pagãs  do  mundo  antigo,  considerando-as  nada  além  de  superstição infundada. O Senhor Deus todo-poderoso existia antes de toda a matéria e, por sua própria Palavra de comando, trouxe todo o Universo à existência governando todas as grandes forças do vento, da chuva, do Sol e do mar segundo sua vontade soberana. Esse conceito se posicionava em nítido contraste com as pequenas divindades e deuses  conflitantes, briguentos,  caprichosos  e  gerados  pela  imaginação  corrompida dos pagãos. A mensagem e o propósito de Gênesis 1 são a revelação do único Deus verdadeiro que criou  todas as coisas do nada e mantém para sempre o Universo sob seu controle soberano.

O segundo aspecto principal de Gênesis 1 é a revelação de que Deus  realizou sua criação de maneira ordenada e sistemática. Houve seis fases principais nessa obra de formação, e essas fases são representadas por dias sucessivos da semana. A esse respeito, é importante observar que nenhum dos seis dias da criação traz um artigo definido  no  texto  hebraico —  as  traduções  "o  primeiro  dia",  "o segundo  dia"  etc. estão erradas. O hebraico diz: "E a tarde teve lugar, e a manhã teve lugar, dia um" (1.5).  Em hebraico, "o primeiro dia" seria hayyôm hāri’šôn, mas esse texto diz simplesmente yôm ’eh ād ("dia um"). Além disso, no versículo 8, lemos não hayyôm haššēnî ("o segundo dia"), mas yôm šēnî ("um segundo dia"). Na prosa hebraica desse gênero, o artigo definido era usado em geral quando se desejava definir o substantivo. Somente no estilo poético ele podia ser omitido. O mesmo acontece no restante dos seis dias: nenhum deles traz o artigo definido. Assim, eles são bem adaptados a um padrão sequencial, e não a unidades de tempo estritamente delimitadas.

Gênesis 1.2-5 estabelece a primeira fase da criação: a formação da luz.  Isso deve ter significado basicamente a luz do sol e de outros corpos celestes. A luz solar é de modo geral precondição indispensável ao desenvolvimento da vida vegetal e animal (embora haja  algumas  formas  subterrâneas de vida que consigam viver  sem ela).

Gênesis 1.6-8 apresenta a segunda fase: a formação de um "firmamento” (rāqia‘), que fez separação entre a umidade suspensa no céu e a umidade suficientemente condensada para permanecer na superfície da terra. O termo rāqîa‘ não significa um dossel de metal batido, como alguns escritores já alegaram — nenhuma cultura antiga jamais ensinou essa ideia em seu conceito de céu —, mas significa apenas "um firmamento estendido".  Isso fica bem evidente em Isaías 42.5, em que o verbo cognato rāqa‘ é usado: "E o que diz Deus, o SENHOR, aquele que criou o céu, e o estendeu [do verbo nāṭ āh, "estender" cortinas ou cordas de tendas], que espalhou [rāqa‘] a terra e tudo o que dela procede”(R.A.).  Obviamente, rāqa‘ aqui não poderia significar "batido", "estampado" (embora seja usado dessa forma com frequência ao referir-se ao trabalho em metal). O paralelismo com nāṭ āh (destacado acima) prova que aqui ele tem a força de estender ou expandir. Portanto, o substantivo rāqîa‘ pode significar apenas "firmamento", sem nenhuma conotação de chapa dura de metal.

Gênesis 1.9-13 relata a terceira fase da obra criadora de Deus: o ajuntamento das águas dos oceanos, mares e lagos em uma altitude inferior à das massas de terra que surgiram acima delas, permitindo que secassem. Sem dúvida, o resfriamento gradual do planeta Terra levou à condensação de água necessária para causar esse resultado.  As pressões sísmicas que produziram montanhas e colinas indubitavelmente contribuíram ainda mais para essa separação entre terra e mar. Uma vez que a terra seca (hayyabbāšāh) apareceu, tornou-se possível à vida vegetal e às árvores brotar na superfície da terra, auxiliadas pela fotossíntese do céu ainda nublado.

Gênesis 1.14-19 revela que na quarta fase criadora Deus abriu  o  manto  de nuvens o suficiente para que a luz direta do Sol caísse sobre a Terra e para que tivesse lugar a observação correta dos movimentos do Sol, da Lua e das estrelas. Não se deve entender que o versículo 16 mostra a criação dos corpos celestes no quarto dia. Antes, ele nos informa que o Sol, a Lua e as estrelas, criados no primeiro dia como fonte de luz, foram colocados em seus lugares designados por Deus com a ideia de funcionar como indicadores de tempo ("sinais, estações, dias, anos") para os observadores terrestres. O verbo hebraico wayya‘aś, do versículo 16, seria traduzido melhor por "Fizera Deus os dois grandes luminares etc", em vez do passado simples, Fez Deus". (O hebraico não tem uma forma especial para o tempo mais-que-perfeito, mas usa o tempo perfeito ou o imperfeito conversivo, como é o caso aqui, para expressar ou o passado ou o mais-que-perfeito do português, dependendo do contexto).

Gênesis 1.20-23 relata que no quinto dia da criação Deus desenvolveu totalmente  a  vida marinha  e  a  vida  de  água  doce,  introduzindo  criaturas  voadoras (insetos ou aves aladas). É interessante observar que as camadas com fósseis da era paleozoica contêm a primeira evidência de vida animal invertebrada, que surge com surpreendente brusquidão no período cambriano.  Não há nenhum indício nas camadas pré-cambrianas de como as 5 mil espécies de vida animal marinha e terrestre da  era  paleozoica se  teriam  desenvolvido,  pois  não  há  nenhum  registro  delas  antes dos níveis cambrianos.

Gênesis 1.24-26 relata que na sexta e última fase do processo criador Deus produziu todos os animais da terra conforme suas várias espécies (lemînāh, no versículo 24, e lemînēhû, no versículo 25, significam "conforme a sua espécie", quer o  antecedente  seja masculino,  quer  feminino  no  gênero gramatical), culminando  afinal  com  a  criação  do  homem,  conforme  discutido mais  amplamente acima. Com referência a isso, seria oportuno um comentário relacionado com a fórmula repetida no fim de cada dia da criação: "Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o dia" [ordinal]. A razão para essa declaração final parece ter sido dupla.  Em primeiro lugar, era necessário deixar claro se a unidade simbólica em questão era um mero dia que ia do nascer do sol até o ocaso, ou se era um dia de 24 horas, pois o termo yôm ("dia") pode significar qualquer um dos dois. De fato, a primeira vez que yôm ocorre é no  versículo  5:  "Deus chamou  à  luz  dia,  e  às  trevas  chamou  noite". Portanto, era necessário mostrar que cada um dos dias da criação era simbolizado por um ciclo completo de 24 horas, começando com o ocaso do dia anterior (segundo os nossos cálculos) e terminando com a parte que tinha a luz solar, até o ocaso, no dia seguinte (conforme calcularíamos). Em segundo lugar, o dia de 24 horas é um símbolo melhor que um mero dia de luz solar para distinguir o início e o final de uma fase da criação antes da fase seguinte.

Houve fases definidas e distintas no procedimento criador de Deus.  Se essa foi a verdadeira intenção da fórmula, então ela não serve como evidência de um conceito de 24 horas literais por parte do autor bíblico. Alguns têm argumentado que a referência no Decálogo (no quarto mandamento) quanto a Deus ter descansado no sétimo dia, que serve de base para se honrar o sétimo dia de cada semana, sugere enfaticamente a natureza literal de "dia" em Gênesis 1. Esse argumento, todavia, não é tão persuasivo assim, tendo em vista o fato de que, se era para haver qualquer dia da semana especialmente separado para o descanso, para o culto e para o serviço ao Senhor, teria de ser um dia de 24 horas (sábado), de qualquer forma. Na realidade, a Escritura não ensina de forma alguma que Iavé descansou apenas um dia de 24 horas ao concluir sua obra criadora. Não há nenhuma fórmula final no encerramento do sétimo dia mencionado em Gênesis 2.2, 3. E, de fato, o N.T. ensina (em Hb. 4.1 -11) que aquele sétimo dia, aquele "sábado de descanso", conservou um sentido muito definido até  a  era  da  igreja.  Assim, seria impossível alinhar o sábado com o Sétimo Dia, que concluiu a obra criadora original de Deus!
          
Uma última observação referente à palavra yôm conforme usada em Gênesis 2.4.  Ao contrário de algumas versões modernas, a Versão do rei Tiago traduz corretamente esse versículo: "Essas são as gerações dos céus e da terra quando foram criados, no dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus". Visto o capítulo anterior ter indicado que houve pelo menos seis dias na criação dos céus e da terra, é evidente que o yôm de Gênesis 2.4 não pode de forma alguma ser compreendido como um dia de 24 horas — a menos que a  Escritura  esteja  em  contradição!  (Para uma boa dissertação sobre esse tópico por um professor cristão de geologia, v. Creation and the Flood and Theistic evolution [Criação e o dilúvio e a evolução teísta], de Davis A. Young [Grand Rapids,  Baker,  1977].  Alguns  pormenores estão  abertos ao questionamento,  e  o  autor  nem  sempre  é  preciso  na  terminologia, mas  em  geral  o trabalho fornece uma sólida contribuição para essa área de debate.) 


A antiguidade da raça humana

       
Tendo apresentado  a  evidência  para  compreender  os  seis  dias  da  criação  de Gênesis como fases distintas no desenrolar do processo, prosseguimos agora para a questão  da  antiguidade  de Adão  e  o  começo  da  raça  humana.  Essa questão já foi discutida até certo ponto em meu livro Merece confiança o Antigo Testamento?  (4. ed., São Paulo, Vida Nova, 1986). A grande era atribuída pelos paleantropólogos aos esqueletos de várias espécies de antropoides é uma questão consideravelmente debatível. L. S. B. Leakey usou a análise de potássio-argônio para chegar à estimativa de 1.750.000 anos para a idade do que ele identificou como o "Zinjan-thropus" de Tanganykia  ("Exploring  1.750.000 years into  man's  past"  [Explorando  1750000 anos  no  passado  do  homem],  National  Geographic, outubro de  1961).  A outros espécimes da área da garganta Olduvai foi atribuída idade ainda mais antiga. Considera-se que o homem de Neanderthal viveu de cem mil a cinquenta mil anos atrás e parece ter desenvolvido aptidões como a manufatura de setas de pedra e cabeças de machado. O homem de Neanderthal parece também ter usado fogo para cozimento na preparação  de  alimentos.  Ele pode ter tido também algum envolvimento com arte,  embora  as notáveis pinturas nas  cavernas de Altamira  e de outros lugares talvez sejam produto da raça posterior dos Cro-Magnons. [Algumas pesquisas mais recentes demonstram que na realidade o Neandertal, nada mais é que o próprio homo-sapiens, com características e anatomia um pouco diferenciada.] Abaixo algumas pesquisas que confirmam essas informações:

        "... Segundo pesquisadores da UFRGS, os Neandertais eram tão espertos como nós. Se eles foram extintos, diz a professora Maria Cátira Bortolini, não foi por falta de astúcia, mas por diferenças culturais entre aquela "espécie" e a nossa. Bortolini não é antropóloga culturalista - bióloga, comparou 162 genes das duas espécies e constatou que, em matéria de cognição, o Neandertal não fica devendo nada para um Da Vinci. Ainda hoje, num isolamento ainda possível, temos primos Homo sapiens vivendo no tempo da indústria lítica, construindo ferramentas de pedra rudimentares. [pois é, e se fossem descobertos fósseis deles, possivelmente diriam que são ancestrais de milhões de anjos...]. Os códigos que separam esses povos aborígenes de quem lê jornal no tablet não estão inscritos na genética, mas na cultura ...."

       "... E onde fica aquela aula de ciências dizendo que a cruza de espécies diferentes só pode gerar descendentes estéreis, como a mula? Bem, essa regra nem sempre funciona (numa cruza entre tigres e leões, hora ou outra sai uma fêmea fértil), mas ela ajuda a reforçar a defesa de que Homo neanderthalensis e Homo sapiens são, de fato, uma mesma espécie" [bingo!]

        "Ao que vínhamos chamando “espécie” Neandertal, Bortolini prefere “população”. E assim também João Zilhão, arqueólogo da Universidade de Barcelona que vem estudando a arte deixada pelos neandertais nos sítios Cueva de los Aviones e Cueva Antón, no sudeste da Espanha. “Não faz sentido colocar a questão em termos de ‘nós e os outros’, mas sim de duas populações ancestrais da mesma espécie. Uma delas, europeia, desenvolveu características rácicas que a tornaram mais facilmente diferenciada das populações africanas. Diferiam mais do que, hoje em dia, diferem os esquimós e os etíopes, mas também eram diferenças intraespecíficas, e não interespecíficas”, afirma Zilhão" [ Mais claro que isso, impossível]. Uma outra pesquisa recente, onde foram encontrados diversos crânios de supostos hominídios num mesmo local e extrato geológico, sugere que toda a escala evolutiva está por um fio:

        "E se em vez de serem todos de espécies diferentes, os diversos homens primitivos cujos fósseis têm sido encontrados ao longo dos anos em diversos locais – Homo habilisHomo rudolfensinsHomo erectus e outros – fossem todos membros de uma única e mesma espécie de humanos e as suas diferenças físicas apenas refletissem a variabilidade normal entre indivíduos dessa espécie? Os autores de um novo estudo comparativo de crânios fósseis humanos encontrados no Cáucaso, e publicado nesta sexta-feira na revista Science, afirmam que é precisamente isso que os seus resultados sugerem. (...)" (Leia esse Post.)


      “Nossa análise estatística mostra que os padrões e a magnitude da variabilidade dos crânios de Dmanisi são semelhantes aos das populações de espécies modernas”, disse Zollikofer. “Embora os cinco indivíduos de Dmanisi sejam claramente diferentes uns dos outros, não são mais diferentes entre eles do que cinco humanos modernos ou cinco chimpanzés numa dada população.” Ou seja, “a diversidade no interior de uma espécie é a regra e não a exceção”. Os cientistas decidiram designar essa potencial única espécie pelo nome Homo erectus, por ser a mais bem documentada e consensual de todas as espécies de homens primitivos cujos fósseis se conhecem."

Evidência de simples diversificação, não "evolução"

      "Os novos resultados poderão ter implicações em termos da classificação das espécies de hominídeos que viviam na África e saíram de lá há cerca de dois milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], espalhando-se pela Europa e Ásia, especulam os cientistas. “Há duas maneiras de interpretar a diversidade dos hominídeos fósseis”, explicou Zollikofer. “A primeira é que existiu apenas uma linhagem de homens primitivos; a segunda é que houve múltiplas linhagens coexistentes.” Conclui. 

       Por mais que essas pesquisas se baseiem em uma ótica evolucionista, as conclusões que eles chegam só reforçam os argumentos criacionistas, que sempre disseram que os “homos” são simplesmente humanos antigos com a natural variabilidade morfológica que existe entre seres humanos atuais (talvez alguns até com certas deformidades).

         “Se a caixa craniana e a face do Crânio 5 tivessem sido encontradas separadamente em locais diferentes da África, poderiam ter sido atribuídas a duas espécies diferentes”, acrescentou [admissão interessante]. Mas visto que os fósseis de Dmanisi provêm indubitavelmente do mesmo ponto no tempo e no espaço – e que parecem ter todos pertencido a uma única espécie de homens primitivos –, o mesmo poderá ter acontecido na África."
        
A essa altura, algo deve ser dito sobre as novas e surpreendentes descobertas geológicas que tornam as antigas estimativas da ciência geológica convencional quase impossíveis  de  serem  mantidas  no presente.  Uma análise aprofundada da evidência fornecida por uma camada exposta do  leito do  rio Paluxy, em Glen Rose, no  Texas,  foi publicada  por  Cecil  Dougherty,  de  Temple,  no  Texas,  sob  o título Valley  of  the  giants  [ Vale  dos gigantes]  (Minneapolis, Bible-Science Association, s.d.), agora na sexta edição. No Bible-science Newsletter de abril de 1979 (p. 4), há um relatório de Fred Beierle de Lyons, de Kansas, referente a uma viagem de estudos feita a esse luga extraordinário. Ele mostra na mesma camada uma boa marca de pegadas  de  um  dinossauro  de  três  dedos  e,  depois,  logo  acima, as pegadas características de um tiranossauro e também de um brontossauro. O baixo nível de água durante a seca do verão tornou muito fácil descobrir e ver áreas em que pegadas claras de alguma espécie humana primitiva cruzam as pegadas desses dinossauros! Ademais, num nível  adjacente  na mesma  camada crustácea  dessas  pegadas, havia um  longo  risco preto que se descobriu ser um galho de árvore caído que fora reduzido a carvão pelo fogo e subsequentemente submerso na superfície calcária. Ele tinha cerca de cinco  centímetros  de  diâmetro  e  pouco  mais  de  dois  metros  de comprimento,  estando  localizado cerca  de  duzentos  metros  abaixo  das  pegadas humanas  e  dos  dinossauros.  Uma seção desse galho foi  removida  e  enviada  a  R. Berger, geofísico da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, para uma análise de  carbono-14.  Ele relatou depois o que descobriu: o galho tinha 12.800 anos de idade, duzentos anos a mais ou a menos. Se seu veredicto for confirmado por outros laboratórios, isso parece indicar que toda a ciência da geocronologia, conforme praticada pelos geólogos tradicionais, está precisando de uma revisão completa. Aqui temos uma camada do fim da era mezozóica com evidência de hominídeos primitivos vivendo na mesma época que os mais altamente desenvolvidos dinossauros e datada por um galho de árvore com não mais de 13 mil anos!

Um editorial na página 2 desse mesmo número do Bible-Science Newsletter fornece  uma  pista  importante  quanto  à  fonte  desse  erro  tão  grosseiro nos métodos geocronológicos  convencionais  para  a  computação  do  tempo. A análise cuidadosa dos minerais físseis (como a decomposição do urânio em chumbo ou do argônio 40 em argônio 36) tem operado a partir da premissa simplista de que todos os depósitos desse  tipo  eram  originariamente compostos  de  elementos  precursores  puros. Então, depois que  o  magma  esfriou,  o  elemento precursor  supostamente  começou  a  se decompor com a perda gradual de elétrons e se tornou o elemento derivado com uma contagem atômica inferior. Mas amostras bem recentes tiradas do núcleo de vulcões, com mil anos ou menos de idade, trazem espécimes que evidenciam idades de muitos milhões  ou  até mesmo  bilhões  de  anos —  a  julgar  pela  proporção  de  elementos derivados  dos  elementos precursores  na  mesma  amostra.  Isso inevitavelmente demonstra que, mesmo na fase inicial do depósito, as formações físseis já continham uma alta proporção de elementos derivados. Portanto, não têm praticamente nenhum valor  ou  são  completamente  enganosas  para  datar  os  níveis nos  quais  são encontradas.  Será  interessante  ver  como  os  teoristas  da  geologia  convencional tratarão essa nova descoberta. Ela não pode permanecer ignorada nem ser oculta ao público  permanentemente, não importando  o  quanto  os  teoristas  antigos  possam sentir-se ameaçados.
       
Mas, independentemente de quão pouco confiáveis possam ter sido os métodos de datação que levaram a estimativas tão elevadas da antiguidade desses antropoides, permanece o fato de que eles não podem ser datados como anteriores à criação  de Adão e Eva, a que se refere Gênesis 1 — 3. Não importando como as estatísticas de Gênesis 5  sejam  tratadas,  elas  dificilmente  podem  determinar  para Adão  uma  data muito anterior a 10.000 a.C. Se os números em Gênesis merecerem qualquer  tipo de confiança,  mesmo  admitindo  a  ocorrência  de  lacunas  esporádicas  na  corrente genealógica,  somos forçados  a  considerar  todos  esses  antropoides  primitivos  como pré-adâmicos.  Em outras palavras, todas essas espécies, desde os  cro-magnons, voltando  até os  zinjantropos, devem  ter  sido de macacos  avançados  ou  antropoides possuidores  de  considerável  inteligência  e  criatividade — mas  que desapareceram completamente antes que Adão e Eva fossem criados.
       
Se examinarmos o registro bíblico cuidadosamente, teremos de reconhecer que, quando Deus criou Adão e Eva  à  sua  imagem  (Gn  1.27),  soprou neles  algo de  seu próprio Espírito  (Gn 2.7), de uma maneira que não havia  feito  em nenhuma ordem prévia  da  criação.  Essa imagem divina consistiu de alguma forma material, algum tipo especial de esqueleto ou estrutura anatômica?  Claro que não, pois Deus é espírito, não carne (Jo 4.24).  Portanto, o que tornou Adão tão superior foi sua constituição interior — alma (nepeš) e espírito (rûacḥ), bem como sua estrutura física e natureza corpórea,  com  suas paixões  e impulsos  animais.  Daquele  primeiro  ser humano verdadeiro, como agente moral responsável, como pessoa possuidora de espírito que permanece em um relacionamento de pacto com Deus, é que descende todo o restante da raça humana (Rm 5.12-21). Pode ter havido hominídeos adiantados e inteligentes que viveram e morreram antes de Adão, mas que não foram criados à imagem de Deus. Essa é uma linha de distinção à qual  a  Palavra  de  Deus  nos  compele,  e  é  aqui  que  devemos  rejeitar qualquer interpretação  de  dados  paleantropológicos  que  suponha  que  uma semelhança  no  esqueleto estabelece os  antropoides  pré-adâmicos  como  verdadeiros seres humanos, no sentido bíblico do  termo. Embora esses habitantes primitivos das cavernas possam ter desenvolvido certas aptidões em sua busca de alimento e se engajado em guerras  entre  si —  como o  fazem outros  animais —, não há,  todavia, nenhuma evidência arqueológica de que uma alma humana verdadeira animava seus corpos. Portanto, evidências de inteligência semelhante no "homem" pré-histórico não são provas decisivas de humanidade no sentido adâmico  nem  de  capacidade  moral  e  espiritual.  Portanto, essas raças não-adâmicas,  pré-adâmicas, não  ameaçam  de  forma  alguma  a credibilidade bíblica, não importa quão antigas sejam.

Fontes:
Geisler, Norman.Enciclopédia de Temas Bíblicos. 
Site criacionismo
Gazeta do Povo

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