terça-feira, 14 de outubro de 2014

Existiam camelos domesticados no período patriarcal?

 Alguns dias atrás, saiu uma matéria no site Globo.com, alegando que segundo pesquisas recentes, a afirmação de que existiam camelos domesticados no período Patriarcal é um grande anacronismo Bíblico, ou seja, Abraão, Isaque e Jacó não possuíam camelos, visto que eles só foram domesticados em torno do séc. X a.C. Sendo assim, a história de José sendo vendido a uma caravana de ismaelitas montados a camelo (Gn 37:23) não passaria de pura fantasia dos tempos monárquicos. A matéria é recente, mas a briga é antiga. Essa argumentação vem desde o tempo de W. F. Albrigth (meados do século passado), onde as pesquisas na época pareciam demonstras que de fato o texto Bíblico estava errado.
A questão é que pelo simples fato de se ter encontrado evidências de que os camelos já eram domesticados no Séc. VI a.C., não significa que não existia esta prática antes.Não era comum, mas já existia. O próprio relato Bíblico nos diz que nesse período se fazia uso do leite desses animais, conforme Gênesis 32:15:
“Trinta camelas de leite com suas crias, quarenta vacas e dez novilhos; vinte jumentas e dez jumentinhos…”
Mas para não parecer um argumento circular, apresentarei algumas descobertas de arqueólogos que comprovam que já existiam camelos domesticados no tempo dos Patriarcas:
Randall Younker, arqueólogo da Universidade Andrews, Michigan, encontrou em Assuã, no Egito, um desenho esculpido na rocha de um homem guiando um camelo por uma corda. A inscrição ao lado do desenho sugere a data de 2.300 a.C. Também escavações nas ruínas em Ur dos caldeus, região em que Abraão morava, trouxe á tona uma representação em ouro de um camelo ajoelhado, que datava o período da 3ª dinastia (2050 a.C.) dessa importante cidade no passado. Diante dessas evidências, parece ser bem provável a domesticação de camelos como uma técnica bem mais antiga do que sugere os estudiosos de Tel Aviv, remontando sim ao período Patriarcal.
Além disso, um texto Sumeriano, datado de 2.000 a.C., encontrado em Nipur, fala sobre o uso do leite da fêmea de camelos. E em Biblos, região da antiga Síria, também foi descoberta uma figura incompleta de um camelo ajoelhado datada ente o séc. 19 e 18 a.C. Kenneth Kitchen, egiptólogo e membro honorário de pesquisa em arqueologia, resume bem estas evidências:
“Com frequência tem sido afirmado que a menção a camelos e sua utilização é um anacronismo no livro de Gênesis. Tal acusação simplesmente não está ao lado da verdade, visto que existem evidências tanto filológicas quanto arqueológicas no tocante ao conhecimento e à utilização desse animal nos começos do segundo milênio a.C., e mesmo antes”. Prosseguiu ele em sua explanação: “Apesar de uma possível referência a camelos, em uma lista de rações de Alalakh (cerca do século 18 a.C.), ter sido disputada, as grandes listas léxicas mesopotâmicas, que se originaram no antigo período babilônico, mostram que o camelo era conhecido desde cerca de 2000 — 1700 a.C., incluindo sua domesticação. Outrossim, um texto sumério de Nipur, pertencente ao mesmo antigo período, fornece-nos uma clara evidência da domesticação do camelo nesse tempo, através de suas alusões a leite de camela. Ossos desse animal têm sido encontrados nas ruínas de casas em Mari, pertencente ao período anterior ao rei Sargão – séculos 25 e 24 a.C. Essas e uma grande variedade de evidências não podem ser descartadas levianamente. Quanto aos começos e aos meados do segundo milênio a.C., um uso limitado do camelo é pressuposto tanto por evidências bíblicas quanto evidências externas, até o século 12 a.C.”.[1]

A Bíblia de Estudo Arqueológica, também traz uma interessante nota esclarecedora:

"(...) Foi descoberto uma corda trançada de pelos de camelos do período pré-dinástico egípcio, além de um texto Ugatítico do início do II milênio a.C. retrata o camelo como animal doméstico [2]
O arqueólogo brasileiro Rodrigo Silva, apresentador do programa Evidências, também confirma os relatos Bíblicos:
“O curioso é que esse tipo de pesquisa é encabeçada por professores das Universidade de Tel Aviv e Haifa, mas não é endossada por grande parte dos arqueólogos de outras universidades, como a Universidade do Cairo, Universidade Hebraica de Jerusalém e outras. Há menos de um mês, eu pessoalmente pude fotografar desenhos rupestres no deserto de Wadi Rum, na Jordânia, que mostram o camelo em situação domesticada servindo de montaria e animal de companhia de um caçador (fotos abaixo). Esses desenhos são do período Calcolítico, que é anterior à época dos patriarcas, indicando que esses animais já eram domesticados quando Abraão andou por aquelas paragens.”

“E tem mais: um texto sumeriano do ano 2000 a.C., encontrado em Nippur, e outro menos preciso encontrado em Alalaque, mencionam não só a existência desse animal entre as tribos, mas também o uso costumeiro de seu leite. Ora, para se obter leite de um animal, ele deve ser domesticado! A figura de um camelo encontra-se desenhada em uma estela da cidade de Umm An Nar, no sudoeste da Arábia, e é datada com segurança como pertencente ao terceiro milênio antes de Cristo. Também junto às ruínas descobriram ainda ossos de camelo datados do terceiro milênio antes de Cristo, o que, segundo a Dra. Ilse Kohler-Rollefson, autoridade mundial no assunto, seria “uma forte evidência de que o camelo já era um animal domesticado nos tempos patriarcais”.

Figura em terracota, encontrada na região de Mênfis,
pertence ao período dinástico mais antigo da história 
egípcia (a partir de 2700 a.C.) e atesta que o uso do 
camelo já tinha chegado ao Egito muito antes da con-
quista assíria. Observem que a figura mostra o uso de 
uma selao que indica a sua domesticação.

A respeito da matéria que saiu no Globo.com, sobre o “anacronismo”, o máximo que pode se concluir é que NAQUELA região onde foram encontrados os ossos se fez um uso regular desse animal nesse período, não significando que em NENHUM outro lugar do crescente fértil se usasse esse animal domesticado anteriormente. De marcas em ossos, eles obtêm uma certeza absoluta e causam a impressão generalizada para todo o território no qual se passa a história bíblica, deixando de lado muitas outras provas arqueológicas que eles sequer mencionam superficialmente. Notícias que confirmam narrativas Bíblicas saem em cantos de matérias nas últimas páginas de revistas. Notícias que expõe “erros” da Bíblia, ou “As verdades sobre Jesus Cristo” todos os anos estampam capas de revistas de grande circulação, apostando no sensacionalismo para vender suas revistas. Por que o que é polêmico é a receita de vendagem. Falar que pesquisas confirmam relatos Bíblicos, não vende.

Prof. Saulo Nogueira.

Fonte: [1] Kitchen, Kenneth. On the Reliability of the Old Testament, Grand Rapids and Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 2003.
[2] Bíblia de estudo Arqueológica 
[3] Criacionismo 

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